Coreia do Sul: a república do suicídio
Atahualpa Amerise.
Seul, 18 set (EFE).- A competitividade feroz, a imensa pressão social e o desamparo à terceira idade explicam por que a Coreia do Sul é o país desenvolvido com a maior taxa de suicídios do mundo, apesar das várias e inventivas tentativas de conter esta tragédia.
Um cantor famoso é criticado na internet, um empreendedor perde dinheiro e honra após um fracasso profissional, um estudante não atinge a nota desejada no vestibular e um idoso dependente se sente como um fardo para a família.
Os quatro casos são reais e aos sul-coreanos não soa estranho saber que essas pessoas se mataram. São frequentes os casos no país, onde diariamente 40 pessoas se suicidam.
A Coreia do Sul, com 29,1 casos a cada 100 mil habitantes em 2012, é a nação desenvolvida com mais suicídios, segundo dados publicados este mês pela Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico (OCDE).
O país ocupa o 1º lugar pelo nono ano consecutivo, muito acima do segundo, a Hungria, com 19,4 casos a cada 100 mil habitantes. À margem do “clube oficial dos países ricos” só a Lituânia supera a Coreia do Sul. O país europeu tem 31 casos a cada 100 mil, conforme dados de 2012.
Mais de 14 mil pessoas se suicidam anualmente na Coreia do Sul e a incidência dobra na terceira idade, revelando o lado mais cruel de um país entregue ao desenvolvimento, ao dinheiro e à honra.
“Quando os mais velhos ficam sem recursos financeiros, a ideia de se transformar em um peso para seus filhos pode levá-los a tirar a própria vida”, afirmou à Agência Efe Ansuk Jeong, psicóloga e pesquisadora da Universidade Yonsei, em Seul.
O sistema de previdência sul-coreano, criado em 1987, é muito deficitário, por isso o cidadão precisa ser autossuficiente até o fim da vida. Quanto aos jovens do país, o suicido é a primeira causa de morte entre os 10 e 39 anos, acima do câncer e dos acidentes de trânsito, de acordo com o Escritório de Estatística de Seul.
“O principal motivo que leva esse público a pensar em suicídio é a pressão para obter os melhores resultados nas provas, especialmente na prova de entrada na universidade”, disse à Efe a assistente social Park Jae-Young.
Um a cada quatro estudantes sul-coreanos tentou o suicídio pelo menos uma vez, segundo o Instituto de Políticas para a Juventude.
Park, que dirige uma equipe de assistência a potenciais suicidas em Seul, sabe qual é a raiz do problema: “O estresse que esta sociedade hiper competitiva causa”, na qual os status social e econômico marcam o sucesso ou o fracasso da vida das pessoas.
Assim, de acordo com a especialista, “os sul-coreanos de meia idade costumam se suicidar por problemas econômicos”, enquanto várias celebridades tiraram a própria vida nos últimos anos ao perder fama ou receberem duras críticas na internet.
Apesar de as raízes da frustração que levam ao suicídio dos sul-coreanos seguirem iguais, organizações públicas e privadas lançaram inumeráveis projetos para deter esta dramática tendência.
Com mais de um quilômetro de extensão, o rio Han divide Seul em duas. Em suas águas calmas, que contrastam com a agitação da metrópole de 10 milhões de habitantes, pessoas que decidem acabar com a própria vida dão o último salto de uma das 27 pontes que ligam Gangnam (sul) a Gangbuk (norte).
“Um momento difícil passa e acaba por fluir como o rio”, diz a mensagem na Ponte Mapo, a favorita dos suicidas, em um dos cartazes fixados nela, junto a câmeras de vigilância, sensores e cabines de telefone com conexão direta com uma equipe de psicólogos.
Outros métodos de prevenção são ainda mais imaginativos, como é o caso de empresas e organizações que simulam o enterro de seus clientes – com caixão inclusive – para eles refletirem sobre a vida e encontrem a luz no fim do túnel.
Com um território que tem quase o mesmo tamanho do estado de Santa Catarina e quase sem recursos naturais, a Coreia do Sul saiu, nos anos 50, da extrema pobreza para se tornear a 13ª maior economia mundial na base de suor, disciplina e implacável competitividade arraigadas em todos os âmbitos da sociedade.
Alcançado o objetivo econômico, o país enfrenta agora o desafio de corrigir as graves consequências humanas de seu vertiginoso progresso e conter o contador de vidas perdidas nas águas do Han. EFE
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