Cortes de alimentos empurraram refugiados a fazer travessia rumo à Europa

  • Por Agencia EFE
  • 25/09/2015 16h21

Isabel Saco.

Genebra, 25 set (EFE).- A ONU reconheceu nesta sexta-feira que a decisão do Programa Mundial de Alimentos (PMA) de cortar por dificuldades financeiras as porções alimentícias para os refugiados sírios no Oriente Médio, foi o último impulso para que muitos decidissem tentar chegar à Europa.

O PMA, um dos maiores braços humanitários das Nações Unidas, realizou tais cortes nos últimos meses no caso de dezenas de milhares de refugiados sírios em Jordânia, Líbano e Turquia, embora neste último caso a parte que deixou de ser fornecida foi substituída com uma contribuição adicional do governo.

A razão foi o esgotamento do financiamento para essa operação, que compreende os países na fronteira com a Síria que acolhem mais de 4 milhões de refugiados deste país.

A Síria está devastada por uma guerra civil que explodiu em 2011, ao que se somou uma ofensiva do grupo jihadista Estado Islâmico (EI) que controla uma parte importante de território na região nordeste.

A Agência das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur) disse hoje que muitos refugiados sírios na Jordânia confirmaram que o corte das rações de alimentos foi “a gota que cumulou o copo” e que isso lhes empurrou a se decidir a realizar a travessia para a Europa.

O plano que centraliza os esforços das agências humanitárias das Nações Unidas em favor dos refugiados sírios é financiado só em 41% dos requerimentos totais, que se estimam em US$ 4,5 bilhões.

Essa situação representa um corte da ajuda alimentícia e obrigou a uma grande quantidade de refugiados a sobreviver com 0,40 a 0,45 centavos de dólar por dia, lamentou o Acnur.

“Dezenas de milhares ficaram sem a ajuda em dinheiro que recebiam, com muitas pessoas que acodem à mendicância, ao trabalho infantil e ao endividamento para seguir em frente”, disse o diretor do Acnur para o Oriente Médio e o Norte da África, Amid Awad, em entrevista coletiva.

De maneira geral, o trabalho não é uma opção porque os países de amparada negam aos refugiados sírios a possibilidade de trabalhar de maneira oficial e, quando o fazem ilegalmente, enfrentam sanções.

Na Jordânia, se um refugiado é descoberto trabalhando é enviado a um acampamento – onde a entrada e saída é submetida a certos controles -, enquanto no Líbano os refugiados devem assinar uma promessa de não trabalhar se quiserem pedir uma permissão de residência.

Segundo dados obtidos pela Efe, o PMA reduziu em 50% o valor de seus bônus de alimentos para os refugiados sírios que vivem fora de acampamentos na Jordânia, o que em setembro afetou cerca de 230 mil pessoas consideradas em condições de vulnerabilidade “moderada”.

Seu orçamento na Jordânia é de US$ 14 mensais por refugiado, com um total de 211 mil beneficiados entre os refugiados mais vulneráveis que vivem em comunidades de acolhida.

Os que vivem em acampamentos recebem US$ 28 por pessoa e mês para cobrir suas necessidades alimentares.

No Líbano, se reduziu o valor dos bônus à metade e agora 638 mil refugiados só recebem US$ 13,5 por mês, segundo esses dados.

O PMA canaliza recursos para 48 mil refugiados sírios no Iraque que não poderiam sobreviver sem ajuda externa. Deste grupo, 47 mil recebem US$ 10 por pessoa por mês, enquanto mil, em situação extremamente difícil, recebem US$ 19 dólares por mês.

As limitações de orçamento obrigaram o organismo a suprimir sua ajuda a 68 mil refugiados em nove acampamentos da Turquia, embora nesse país o governo aceitou assumir esta responsabilidade.

No Egito, 77 mil refugiados sírios recebem assistência, embora também tenha se reduzido o valor da mesma, para US$ 17 por mês. EFE

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