Crimeia avança rumo à união com a Rússia com pouca resistência da Ucrânia

  • Por Agencia EFE
  • 08/03/2014 15h23

Ignacio Ortega.

Simferopol (Ucrânia), 8 mar (EFE).- A Crimeia se prepara rapidamente para o referendo do dia 16 de março sobre sua reunificação com a Rússia sem encontrar quase nenhuma resistência da Ucrânia, que nas últimas 24 horas perdeu novas posições estratégicas para as chamadas autodefesas da rebelde autonomia ucraniana.

O Serviço de Guarda-Fronteiras da Ucrânia (SGU) reconheceu hoje que uma centena de soldados russos e 50 membros armados das autodefesas fizeram retroceder os soldados ucranianos no posto fronteiriço “Crimeia” para permitir a entrada de duas colunas de veículos militares no território da autonomia.

Mais de 30 caminhões militares sem placas de identificação e um carro de transporte blindado entraram em território ucraniano da vizinha Rússia através da fronteira marítima no estreito de Kerch, ao leste da península da Crimeia, segundo o SGU.

Os guarda-fronteiras ucranianos asseguram em comunicado que os veículos militares chegam ao porto de Kerch a bordo de navios de guerra da frota russa do Mar Negro, instalada em Sebastopol, no outro extremo da Crimeia.

Em Simferopol, capital da autonomia, uma centena de homens armados com fuzis de assalto, que se identificaram como membros das autodefesas da Crimeia, tomaram à força o comissariado militar das Forças Armadas da Ucrânia.

Equipado com coletes à prova de balas e transmissores de rádio, “colocaram atiradores com fuzis de assalto nos andares (do edifício) e deixaram entrar no território do comissariado três ônibus com militares”, supostamente russos, explicou a uma televisão local o porta-voz do Ministério da Defesa ucraniano, Vladislav Selezniov.

O SGU também denunciou que tropas russas invadiram nesta madrugada um de seus postos de vigilância na Crimeia e jogaram os guardas e suas famílias na rua.

“Os agressores entraram nas casas onde vivem os guarda-fronteiras com suas famílias e roubaram os telefones celulares do chefe do destacamento, sua esposa e de outros oficiais. Sob ameaças com armas, obrigaram todos a recolher seus pertences e a abandonar o destacamento”, explicou o SGU.

Enquanto homens armados sem distintivos, identificados por Kiev como tropas russas, tomam o controle dos últimos redutos onde resistem os ucranianos, o governo da Ucrânia pediu hoje a participação de observadores internacionais em um referendo que considera ilegal.

O ministro interino de Relações Exteriores da Ucrânia, Andrei Deschitsa, manifestou em Kiev sua esperança que a situação possa ser resolvida de mútuo acordo.

“Acho que há indícios que nos dão esperança. Não nos sentamos para dialogar com os russos, mas pudemos mandar nossa mensagem através de mediadores. A posição russa não é categórica, estão pensando na oferta (ucraniana) e por isso há esperança”, disse Deschitsa à imprensa.

Em Simferopol, onde reinam hoje a calma e o ambiente festivo do Dia Internacional da Mulher, as autodefesas da Crimeia juraram lealdade ao povo crimeano em cerimônia presidida por Sergei Axionov, primeiro-ministro do autoproclamado governo crimeano.

“Hoje presenciamos um acontecimento histórico, a formação das Forças Armadas da Crimeia”, afirmou Axionov, que felicitou os recém “batizados” soldados crimeanos por salvaguardar a paz e garantir a ordem da península.

As sedes do governo e do Parlamento regional crimeanos, com sede em Sebastopol, já não estão custodiadas por homens armados e uniformizados.

Mas nem todos estão contentes na Crimeia com a perspectiva, cada vez mais provável, de voltar ao seio da “Mãe Rússia”.

Alguns membros da minoria tártara na Crimeia, cujos líderes pediram o boicote do referendo por considerá-lo ilegal, temem perseguições e expurgos se for confirmada a reunificação com a Rússia, à qual esta república pertenceu até 1954.

“Minha mulher está grávida e não pode dormir de tão assustada que está”, contou à Agência Efe Rustam, que voltou à península em 1993 da longa deportação que sua família sofreu durante a etapa stalinista, quando a maior parte da comunidade tártara foi obrigada a abandonar a Crimeia.

Rustam garante que nem ele nem seus compatriotas tártaros estão dispostos a voltar a deixar a Crimeia, nem vão reconhecer os resultados da consulta. EFE

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