Crimeia diz “sim” à reunificação com a Rússia no referendo separatista

  • Por Agencia EFE
  • 16/03/2014 18h43
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Ignacio Ortega.

Simferopol (Ucrânia), 16 mar (EFE).- Os crimeanos deram neste domingo um rotundo “sim” à reunificação com a Rússia, segundo as pesquisas de boca de urna, no referendo separatista realizado nesta península ucraniana banhada pelo Mar Negro.

Os resultados oficiais serão divulgados apenas amanhã, mas, na praça de Lênin de Simferopol, capital crimeana, milhares de pessoas de todas as idades já celebram a vitória da reunificação ondeando bandeiras russas e crimeanas.

“Obrigado, Putin! Glória à Rússia!”, gritam os concentrados em frente ao edifício do governo, diante de uma imponente estátua de Lênin, o fundador da União Soviética.

“Esperamos tantos anos. Meu coração vai explodir de tanta alegria. Finalmente voltamos à Rússia”, declarou à Agência Efe Galina, professora de ensino médio.

Segundo os resultados oficiais preliminares anunciados pela Comissão Eleitoral local, 95,5% dos eleitores optaram pela integração na Federação Russa como sujeito federal.

Por outro lado, apenas 3,5% do censo eleitoral votou a favor da segunda opção, a de permanecer no seio da Ucrânia com uma ampla autonomia.

As autoridades separatistas não querem perder tempo e amanhã, segunda-feira, o Parlamento crimeano referendará os resultados da consulta e se dirigirá ao presidente da Rússia, Vladimir Putin, para pedir a incorporação da república à Federação Russa.

“Faremos tudo o mais rápido possível, mas cumprindo todos os requisitos legais”, disse o primeiro-ministro crimeano, Sergei Axionov, que antecipou que uma delegação parlamentar crimeana viajará amanhã mesmo a Moscou para iniciar o processo de anexação.

Enquanto isso, a Crimeia será de maneira provisória uma república autoproclamada, da mesma forma que a Transnístria e Nagorno-Karabakh, em virtude da declaração de independência aprovada nesta semana pelo Legislativo local.

A partir de agora, os crimeanos poderão solicitar o passaporte russo e a carteira de motorista da Federação Russa, ao que se soma o fato que as autoridades adotarão também o rublo como moeda e o fuso horário vigente no vizinho do norte.

Enquanto a comunidade internacional vive uma das maiores crises desde o fim da Guerra Fria devido à Crimeia, os moradores da península encararam a jornada eleitoral como um dia de festa.

“Felizes festas!”, era a frase mais repetida pelos eleitores, que chegavam aos colégio eleitorais bem abrigados e providos de guarda-chuvas, uma vez que o dia foi chuvoso.

Após o fechamento dos colégios eleitorais, a Comissão Eleitoral informou que a participação foi superior a 80% entre os 1,5 milhão de pessoas com direito a voto.

Na também separatista cidade de Sebastopol, que tem um estatuto especial e acolhe a base da frota russa do Mar Negro, a participação na consulta alcançou 93%.

“Votei pela reunificação. Somos russos e acabamos na Ucrânia por coisas do destino, quando nos presentearam em 1954. Tenho certeza que em poucos meses seremos parte da Federação Russa”, declarou à Efe Nina, uma aposentada oriunda dos Urais (Rússia), após depositar o voto.

Nas urnas transparentes era possível ver que a arrasadora maioria de eleitores marcou com uma cruz a primeira opção, ou seja, a reunificação com a Rússia, deixando em branco a correspondente a uma ampla autonomia dentro da Ucrânia.

Não só os nostálgicos da grandeza soviética se pronunciaram a favor da Rússia, já que as novas gerações estão ansiosas para romper laços com a Ucrânia, cujas novas autoridades qualificam abertamente de “fascistas”.

“A Rússia é o futuro e a Ucrânia o passado. Não há dúvida alguma que na Federação Russa viveremos muito melhor. Se não fosse pelos crimeanos, teria explodido uma guerra civil”, opinou Yuri, advogado de 25 anos.

Enquanto os representantes da comunidade ucraniana acusaram as autoridades separatistas de fraude, a minoria tártara boicotou a consulta, mas isto não influiu nos resultados, já que os russos étnicos são maioria.

“É uma palhaçada. Axionov desenhará os resultados a seu desejo. Tudo é decidido nos corredores do Kremlin. Moscou é quem dita o rumo da Crimeia, agora à esquerda, agora à direita”, declarou à Efe Jamzin Umarovich, chefe de Relações Exteriores do Mejlis (Assembleia Popular dos Tártaros de Crimeia).

A Crimeia seguiu adiante com o referendo apesar de no sábado o Parlamento da Ucrânia ter dissolvido o Legislativo separatista após declarar a consulta anticonstitucional.

Os Estados Unidos e várias chancelarias ocidentais não demoraram em condenar os resultados do referendo separatista e em manifestar sua defesa com veemência da integridade territorial da Ucrânia. EFE

io/rsd

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