Crise abre caminho para novo panorama político na Europa em 2014
Lara Malvesí.
Bruxelas, 16 dez (EFE).- A União Europeia (UE) viveu em 2014 um fortalecimento dos movimentos populistas de extrema direita e do euroceticismo, e por outro lado o crescimento de legendas de esquerda como o Podemos e o Syriza, que tentam acabar com a hegemonia dos grandes partidos tradicionais.
As eleições na Espanha e no Reino Unido, em 2015, na Grécia, em 2016, e na França, em 2017, vão dizer se as últimas eleições europeias representaram uma nova tendência ou se os eurocéticos e a nova esquerda viveram apenas breves momentos de glória política em função do cansaço dos cidadãos.
A Eurocâmara surgida do voto em maio de 2014 triplicou a presença de eurocéticos e eurofóbicos, dois conceitos que não significam a mesma coisa, segundo explica Yves Bertoncini, diretor do Instituto Jacques Delors.
Os eurofóbicos, principalmente o UKIP, de Nigel Farage, e a Frente Nacional, de Marine le Pen, querem acabar com a Europa em maior ou menor medida.
Já os eurocéticos, como os conservadores e reformistas (ECR) e a Esquerda Unitária Europeia (GUE/NGL) não são contra a ideia da existência da UE, mas expressam sua rejeição ao atual funcionamento do bloco.
Algumas vezes, porém, sua intenções são as mesmas, por exemplo quando em novembro tanto Farage como Le Pen, por um lado, e GUE/NGL, do qual fazem parte IU, Podemos e Bildu, por outro, coletaram assinaturas para apresentar uma moção de censura contra o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, pelos escândalos fiscais ocorridos quando ele era primeiro-ministro de Luxemburgo.
A moção eurofóbica, no entanto, fracassou pois nenhum grupo, nem mesmo a GUE/NGL, quis se alinhar com quem “quer destruir a Europa”, disse na ocasião a porta-voz do IU, Marina Albiol.
O medo de alguns grupos de serem associados aos eurofóbicos isola os mais radicais e restringe a pluralidade da Eurocâmara, segundo Sonia Piedrafita, pesquisadora do Centro Europeu de Estudos Políticos (CEPS, na sigla em inglês).
A nova composição da Eurocâmara obriga os grupos majoritários (especialmente os populares e sociais-democratas europeus) a costurarem pactos para conseguir maioria, sem a qual não se consegue legislar.
Para Piedrafita, é cedo para saber o que ocorrerá com o projeto europeu se os grupos eurofóbicos e eurocéticos governarem a UE do amanhã. A pesquisadora ressalta, no entanto que o cenário político de cada país da UE é muito particular.
“No caso do Syriza, na Grécia, e do Podemos, na Espanha, apesar de serem muito críticos em relação à Europa, prevejo que se alcançarem bons resultados seu discurso sobre Bruxelas, (o tom) ficará menos radical, pois a população destes países têm um forte sentimento europeísta”, diz Piedrafita.
A eurodeputada Teresa Rodríguez, do Podemos, considera que o partido “não quer a volta ao Estado-nação”, mas sim “uma Europa da democracia nas mãos dos cidadãos, e não das elites, a Europa dos direitos sociais e trabalhistas dos trabalhadores, não do negócio das multinacionais e dos especuladores financeiros”.
“Queremos maior solidariedade e cooperação entre os povos e os estados europeus. Não propomos menos Europa, mas uma Europa melhor. Não podem nos colocar no mesmo saco com a ralé xenófoba porque não estamos, defendemos gente e projetos diferentes”, disse a eurodeputada.
Também não se sentem cômodos com o rótulo de eurofóbicos ou de eurocéticos alguns membros dentro do próprio grupo de Farage, o britânico Europa para a Liberdade e a Democracia Direta (EFDD, em inglês).
Seu principal parceiro, o italiano Movimento 5 Estrelas não compartilha com o UKIP a vontade de deixar a UE, com quem é obrigado a manter um “casamento de conveniência”, disse à Efe seu porta-voz, o jovem Ignazio Corrao.
“Nós não somos contra a Europa, mas não queremos este sistema no qual o Banco Central Europeu e a Comissão Europeia têm mais poder do que a Eurocâmara, que é a única instituição escolhida democraticamente pelos cidadãos”, explicou.
Além de rótulos, também não há consenso sobre o prejuízo real que os eurocéticos podem infligir ao trabalho diário da Eurocâmara nos próximos meses.
Pilar del Castillo, eurodeputada do espanhol PP, disse à Efe que o Parlamento Europeu funciona normalmente após as eleições, já Piedrafita considerou que a força dos eurocéticos “não está superdimensionado” pois eles “podem causar muito prejuízo”. EFE
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