Crise migratória aumenta tensão entre Croácia e Sérvia

  • Por Agencia EFE
  • 22/09/2015 19h39

Vesna Bernardic.

Zagreb/Viena 22 set (EFE).- A maior crise de refugiados na Europa nos últimos 70 anos semeou a discórdia entre Croácia e Sérvia, dois países que ainda não fecharam uma reconciliação após as guerras de desintegração da antiga Iugoslávia há duas décadas.

A falta de uma resposta comum da União Europeia (UE) para a crise dos refugiados reabriu velhas feridas nos Bálcãs Ocidentais, com uma troca diária de acusações.

Após a Hungria fechar sua fronteira com a Sérvia e criminalizar a imigração ilegal, a onda de refugiados se dirigiu à Croácia, que recebeu 35 mil pessoas em uma semana.

A Croácia fechou sete de suas oito passagens de fronteira com a Sérvia e bloqueia desde o domingo a passagem de caminhões do país vizinho, medida que o ministro do Interior croata, Ranko Ostojic, justificou afirmando que a Sérvia envia todos os refugiados do país ao território croata.

O representante sérvio do Interior, Nebojsa Stefanovic, desmentiu a acusação ao assegurar que seu país “não se intromete de maneira alguma na rota dos refugiados e nem limita sua liberdade de movimento”.

Após a Sérvia ameaçar com represálias, o governo croata começou a permitir nesta terça-feira a passagem de transportes com produtos perecíveis.

A medida foi considerada insuficiente pelo primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic, que advertiu à Croácia que tomará medidas econômicas, políticas e jurídicas se o tráfego de mercadorias por estrada não for totalmente desbloqueado até amanhã.

O primeiro-ministro croata, Zoran Milanovic, pediu à Sérvia que “disperse” o envio de refugiados e também os encaminhe a Hungria e Romênia, para aliviar a situação da Croácia.

Na cidade de Presevo, no sul da Sérvia, dezenas de ônibus transportam os refugiados que chegam da Macedônia às cercanias da fronteira croata, mas o governo sérvio nega qualquer envolvimento nessas mudanças.

O governo croata inaugurou um centro de recepção de refugiados em Opatovac, perto da fronteira com a Sérvia, onde os recém-chegados são registrados e se preparam para seguir viagem rumo à Hungria.

Apesar dos esforços croatas para organizar a situação no local, a falta de transportes e a enorme chegada de refugiados, cansados pela longo viagem, geraram momentos de tensão com os policiais croatas.

Sérvia e Croácia ainda guardam suspeitas mútuas duas décadas depois dos conflitos que desmembraram a Iugoslávia e se acusaram mutuamente de genocídio ao Tribunal Penal Internacional.

A Croácia culpa a Sérvia por algo que o próprio governo de Zagreb faz, já que organiza o transporte dos refugiados rumo à fronteira húngara, de onde são transferidos para acampamentos perto da Áustria, uma escala a mais na viagem em busca de paz e prosperidade na Alemanha.

Esse procedimento resultou as críticas da Hungria, que dias antes ameaçou a Croácia de vetar seu futuro acesso ao espaço de livre circulação de Schengen, que reúne 26 Estados europeus.

Apesar das constantes ameaças mútuas, as autoridades croatas e húngaras cooperam no terreno na mudança de refugiados em direção à Áustria.

A Hungria também anunciou que para conter o fluxo de chegadas construirá uma nova cerca em 41 quilômetros de sua fronteira com a Croácia, na faixa de terreno que não abrange o rio Drava, que serve como limite natural entre as duas nações.

Croácia, Sérvia e Romênia criticaram a postura húngara por levantar muros, enquanto o primeiro-ministro nacionalista da Hungria, Viktor Orbán, declarou que essa é a resposta adequada diante de uma onda de refugiados que considera uma ameaça para a Europa.

A Romênia, que tem difíceis relações com a Hungria devido aos desejos de autonomia da minoria húngara que vive na Transilvânia, se voltou contra o plano húngaro de construir uma cerca em 70 quilômetros de sua fronteira comum.

O primeiro-ministro romeno, Victor Ponta, declarou que essa cerca seria “uma vergonha” para a Europa e lamentou que a resposta de Budapeste à crise migratória esteja longe “dos valores europeus”.

Por outro lado, o ministro das Relações Exteriores húngaro, Péter Szijjártó, lamentou as “mentiras permanentes” de Ponta e acrescentou que seu país cumpre com as normas europeias, antes de lembrar que o chefe do governo romeno está sendo processado por corrupção.

A Hungria convocou o embaixador romeno ao Ministério das Relações Exteriores para exigir explicações sobre as críticas, enquanto a Romênia fez o mesmo com o representante húngaro em Bucareste.

Szijjártó também disparou contra Grécia e Croácia, por fazerem “ostentação” de seu descumprimento das normas europeias de asilo, que preveem que os refugiados devem ser registrados no primeiro país da UE que chegam. EFE

vie/vnm

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