Crise migratória elevou em 77% número de crianças que tentaram entrar nos EUA
Cristina García Casado.
Washington, 10 out (EFE).- A crise migratória desta primavera e do verão (do hemisfério norte), uma das piores das últimas décadas nos Estados Unidos, provocou um aumento de 77% no número de menores que cruzaram sozinhos a fronteira com o México no ano fiscal de 2014.
Segundo o escritório de Alfândegas e Proteção de Fronteiras (CBP), 68.541 menores foram detidos quando tentavam entrar nos EUA entre 1º de outubro de 2013 e 30 de setembro deste ano, frente aos 38.759 do ano fiscal anterior.
O aumento se explica principalmente pela crise migratória que começou em março e registrou o ápice em junho, quando mais de dez mil menores vindos de Honduras, El Salvador, Guatemala e México cruzaram sozinhos a fronteira sul do país.
“Enquanto as detenções globais na fronteira só cresceram ligeiramente neste período e se mantêm em mínimos históricos, as detenções destas crianças apresentam um desafio extraordinário para a CBP e o Departamento de Segurança Nacional”, indicou em seu último relatório o Escritório de Alfândegas e Proteção de Fronteiras.
A crise deste ano, protagonizada fundamentalmente pela avalanche de menores centro-americanos que chegaram ao país, fez com que pela primeira vez as detenções de crianças e jovens hondurenhos, guatemaltecos e salvadorenhos superassem os dez mil, número só atingido em balanços anteriores pelos mexicanos.
Assim, no ano fiscal 2014, os Estados Unidos detiveram 16.404 menores de El Salvador (5.990 em 2013), 17.057 da Guatemala (8.068 em 2013), 18.244 de Honduras (6.747 em 2013) e 15.634 do México (17.240 em 2013).
Esta onda, cuja porta de entrada foi o setor do Rio Grande ou Rio Bravo, diminuiu nos meses seguintes até chegar aos 2.424 de setembro, o número mais baixo desde janeiro de 2013, segundo dados do Departamento de Segurança Nacional.
Em julho, o número os menores detidos ao atravessarem a fronteira já havia caído pela metade (5.501), enquanto em agosto foi de 3.141.
A situação foi contornada pelas medidas de segurança do governo do presidente Barack Obama, que qualificou a situação de “crise humanitária”, e as mensagens das autoridades dos países de origem para alertar para os perigos da viagem, além da chegada das altas temperaturas.
“No final de junho e em julho, milhões de americanos viram as imagens de centros cheios de crianças”, lembrou o secretário de Segurança Nacional, Jeh Johnson, para ressaltar que agora, no entanto, a entrada de menores desacompanhados está “em seu número mais baixo desde janeiro de 2013”.
No entanto, na linha das advertências já lançadas por especialistas em imigração e ativistas, Johnson reconheceu que embora “o pior tenha passado por enquanto”, os fatores econômicos e sociais que provocaram a onda da primavera e do verão “continuam existindo”.
“A pobreza e a violência, fatores para partir, continuam existindo em Honduras, Guatemala e El Salvador. A economia de nosso país, um fator para vir, está melhorando. Por isso continua a ter muito que podemos e devemos fazer”, disse nesta quinta-feira Johnson em uma conferência no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos de Washington.
Quando começou a crise fronteiriça esperava-se que o presidente Obama atuasse por decreto em matéria migratória diante da inação do Congresso para aprovar uma reforma migratória integral, mas ele finalmente optou por adiar qualquer ação até depois das eleições legislativas de 8 de novembro, em que o Partido Democrata busca manter o vital controle do Senado.
Esta decisão valeu a Obama as críticas das organizações defensoras dos imigrantes, que mantêm uma mobilização constante para conseguir que o presidente cumpra sua promessa de atuar dentro do que o poder executivo permite antes do final de ano, dado o bloqueio da oposição republicana na Câmara dos Representantes à reforma migratória, uma de seus grandes promessas eleitorais que ainda não foi cumprida. EFE
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