Cristina Kirchner deixa para trás ano mais difícil de seu mandato

  • Por Agencia EFE
  • 12/12/2014 20h49

Mar Marín.

Buenos Aires, 12 dez (EFE).- Cristina Kirchner deixa para trás em 2014 seu ano mais difícil como presidente da Argentina e encara um final de mandato marcado pela incerteza, em um clima de recessão e no olho do furacão por supostas irregularidades em uma de suas empresas.

Apesar de 2010 ter sido um ano ruim para Cristina em função da morte de seu marido e antecessor no cargo, Néstor Kirchner, seu governo nunca tinha passado um momento tão delicado desde que ela assumiu o poder, em 2007.

No ano que se encerra, os argentinos voltaram a sentir de perto após uma década a sombra da moratória, devido a um litígio aberto por fundos especulativos que encontraram apoio em um tribunal de Nova York.

O juiz americano Thomas Griesa mantém em xeque o governo de Cristina, que nos últimos meses mudou sua atitude de menosprezar o magistrado e os litigantes para buscar fórmulas para evitar o “default” (quebra), fazer frente a suas dívidas e negociar a partir de janeiro.

Paralelamente, Cristina viu a economia do país se enfraquecer e se afastar do crescimento de taxas chinesas dos primeiros anos de seu mandato, terminando o ano com crescimento zero.

Um clima de recessão agravado por uma inflação próxima a 40%, segundo projeções privadas, o que atinge diretamente o bolso dos argentinos e provoca um aumento do mal-estar social.

A desvalorização do peso, que começou o ano com uma brusca queda de 23% frente ao dólar, e a baixa do preço internacional da soja – principal fonte de renda das exportações argentinas – terminaram de complicar o cenário econômico.

Como se a queda na economia não tivesse sido suficiente, Cristina Kirchner teve que enfrentar sucessivos escândalos pelos casos de corrupção de altos funcionários de seu governo e ao seu ao redor, começando por seu vice-presidente, Amado Boudou, e terminando por ela própria.

Boudou, escolhido pela presidente apesar das críticas da velha-guarda de seu partido, foi acusado de corrupção e falsificação de documentos. Seu poder no governo diminuiu, mas o vice não renunciou.

A ofensiva da Justiça alcançou outros altos funcionários, empresários próximos ao kirchnerismo, o próprio ministro da Justiça, Julio Alak, e inclusive a presidente, alvo da polêmica por supostas irregularidades em uma de suas empresas, que gerencia um luxuoso hotel na Patagônia argentina.

Até mesmo a saúde de Cristina não andou bem em 2014: após uma cirurgia por um hematoma craniano sofrido em outubro do ano passado, a presidente voltou ao hospital devido a uma infecção no intestino, o que a manteve três semanas afastada da cena política.

Os médicos advertiram que Cristina deve diminuiu o ritmo de trabalho pois o estresse é perigoso, mas a governante, de 61 anos, não parece seguir as recomendações, pelo menos até o momento.

Descartada a possibilidade de uma reforma da Constituição para possibilitar um terceiro mandato e em plena batalha para as eleições presidenciais de outubro de 2015, que a julgar pelas pesquisas serão muito apertadas, a presidente decidiu não se pronunciar sobre os pré-candidatos que brigam pela indicação dentro do Partido Justicialista.

A posição foi interpretada como uma maneira de se manter na linha de frente da política nacional até o último momento. Enquanto isso, aumentam as especulações sobre seu futuro e os rumores que a situam na cabeça de uma lista de legisladores governistas ou para o parlamento do Mercosul, uma alternativa que, além de a manter ativa politicamente, a blindaria frente ao avanço da Justiça.

Enquanto vislumbra os caminhos de seu futuro, Cristina Kirchner deve comandar com extremo cuidado o governo para chegar a outubro sem grandes sobressaltos e com a “casa” em ordem, uma missão, diga-se de passagem, bastante difícil. EFE

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