Cristina Kirchner está disposta a “aguentar” tempestade política

  • Por Agencia EFE
  • 15/02/2015 22h48

Buenos Aires, 15 fev (EFE).- A presidente da Argentina, Cristina Kirchner, que enfrenta um pedido de acusação por suposto acobertamento de terroristas, reforçou neste domingo sua disposição a resistir ao que for necessário, enquanto o governo continua sua investida contra a Justiça por esse caso.

Pelo segundo dia consecutivo, a presidente liderou um ato público sem se referir à solicitação de acusação feita à Justiça pelo promotor Gerardo Pollicita, na última sexta-feira, por causa da denúncia apresentada pelo promotor Alberto Nisman quatro dias antes de morrer em estranhas circunstâncias.

“Aos que continuam assombrados porque aguento tudo o que tenho que aguentar, digo que aprendi aqui, na Patagônia, com o vento, com o frio, com a neve, com o esquecimento”, disse hoje Cristina durante a inauguração de um hospital na cidade de Calafate, na província de Santa Cruz, no sul do país.

“Somos mais importantes que os refletores, somos mais importantes que as câmeras, que o quê um jornal pode dizer”, frisou a governante emocionada, no final de seu discurso.

O ministro da Economia do país, Axel Kicillof, afirmou hoje que o pedido de acusação contra a presidente, o chanceler Héctor Timerman e vários colaboradores do governo faz parte de “uma manobra de um setor do Poder Judiciário”.

Com essa declaração, o ministro se manteve em linha com as acusações feitas pelo Executivo nos últimos dias contra juízes e promotores, ao taxá-los de “golpistas”.

Para Kicillof, “em um ano eleitoral há uma corrida para se retirar causas da cartola” e “existem promotores e juízes dispostos a fazer o jogo de sujar a reputação de funcionários do governo diante da sociedade, mesmo que essas ações levem anos e nunca sejam solucionadas, pois geram manchetes de jornais”.

“Eu também tenho denúncias criminais contra mim, talvez me chamem e me acusem”, relatou.

O promotor Pollicita solicitou ao juiz Daniel Rafecas o indiciamento de Cristina, do chanceler Timerman e de vários colaboradores do governo por suposto “acobertamento por favorecimento pessoal agravado” e possível “impedimento e obstrução da Justiça e descumprimento dos deveres de funcionário público”.

O promotor também solicitou a Rafecas cerca de 50 medidas para angariar provas, que incluem mandados de busca, quebra do sigilo das telecomunicações e depoimentos de testemunhas, para avançar na acusação contra Cristina, informou neste domingo o jornal “Clarín”.

O juiz cancelou antecipadamente suas férias e será reincorporado a seu cargo na próxima quarta-feira, dia 18, o primeiro dia útil da semana que vem.

Nesse dia, quando completará um mês da morte de Nisman, está prevista uma manifestação em homenagem ao promotor falecido, na qual os principais líderes da oposição, representantes da comunidade judaica, empresários e setores da Igreja Católica anunciaram sua presença.

Alberto Nisman, promotor especial da causa sobre o atentado contra a associação israelita Amia, que deixou 85 mortos em 1994, morreu com um disparo na cabeça em sua residência, na véspera de seu comparecimento no Congresso para detalhar a denúncia contra a presidente Kirchner por supostamente acobertar os iranianos suspeitos de terem planejado o ataque terrorista.

A “Marcha do Silêncio”, convocada por um grupo de promotores, foi criticada com firmeza pelo alto escalão do governo, como o secretário-geral da presidência, Aníbal Fernández, que garantiu que “é doloroso” ver vítimas do atentado contra a Amia marchando ao lado de traficantes de drogas e políticos antissemitas da extrema-direita. EFE

mcg-ngp/rpr

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.