Cristovam Buarque: educação no Brasil é tratada com desprezo

  • Por Jovem Pan
  • 30/04/2015 16h27
BRASÍLIA, DF - 31.03.2014: SENADO/DITADURA/DF - Senador Cristovam Buarque - Senado realiza nesta segunda-feira a sessão "O dia em que mergulhamos nas trevas", que relembra os 50 anos do golpe civil e militar de 1964. Entre os homenageados, compareceram apenas o ex-ministro Waldir Pires, que foi consultor-geral da República no governo de João Goulart, e o jornalista mineiro José Maria Rabelo, diretor do jornal Binômino, de Belo Horizonte, de resistência ao regime. O senador Pedro Simon (PMDB-RS) foi o primeiro a discursar. (Foto: Beto Barata/Folhapress) Beto Barata/Folhapress Senador Cristovam Buarque

“Há um desprezo na educação brasileira e isso levará a uma tragédia”. A constatação é do senador pelo PDT, professor emérito da Universidade de Brasília e ex-ministro da Educação, Cristovam Buarque, que sempre baseou seu discurso no tema. Ele vê dois tipos de tragédia decorrentes da depreciação da educação. “A tragédia social, pela desarmonia que vem de uma escola desigual: uma parcela tem uma escola boa e a imensa maioria tem escola ruim; e a tragédia da ineficiência na economia em um mundo em que o grande capital é o conhecimento.”

Para Buarque, tal “desprezo” possui duas causas. A primeira é psicológica, “na mente brasileira, a educação não é vista como fator importante”. Ele analisa: “ninguém é considerado rico por ser educado. Às vezes é até ridicularizado o homem culto que não é rico. Rico aqui (no Brasil) é o contracheque, a conta bancária, a casa”.

“O segundo (motivo) é o fato de o Brasil ser dividido em duas castas. Tudo que é da casta de cima a gente resolve; o que é da casta de baixo a gente despreza”, disse o senador. Neste caso, educação entraria no mesmo caso de água, saúde, transporte, segurança.

Propostas

Uma solução apontada pelo político seria fazer com que as escolas do Brasil sejam federais. “Só assim para fazer que elas sejam iguais num país desigual”, entende. “Nossos municípios são muito desiguais na renda e nos recursos humanos que têm.” 

Cristovam Buarque argumenta que a medida já foi feita com sucesso em outros casos. “Escolas técnicas federais são quase igualmente boas, não importa o município”, exemplifica.

“A gente tem que apagar dois carimbos que colocamos na testa da criança quando nasce no Brasil: carimbo CPF dos pais e o CEP da cidade”, afirmou.

“Dinheiro não chega no neurônio da criança”

Para Buarque, a questão da melhoria na educação não passa apenas por aumentar os investimentos na área ou o salário dos professores por si só. “O dinheiro para chegar na cabeça da criança, precisa ter um professor muito bem preparado, dedicado e avaliado”, disse.

O salário, entretanto, estaria bem longe de ser atrativo às melhores cabeças do mercado. “Se a gente pagar menos de R$ 9 mil reais por mês a um professor, não consegue escolher entre os melhores quadros da sociedade para o magistério, salvo um ou outro por razão missionária, por uma vocação fortíssima, que faz com que despreze o dinheiro para poder ficar na sala de aula”, avaliou.

Hoje o piso salarial do professor é de R$ 1.917,78.

“Tem que pagar bem, mas não basta. Precisa selecionar bem: pessoas bem formadas e avaliados”, considerou ainda Cristovam. Ele diz que a parte mais difícil de seu progreama de federalização seria retirar a estabilidade plena dos professores. “(O professor) precisa se submeter a avaliações e, se não tiver demonstrando dedicação e preparo, tem que sair”, disse.

Buarque também defende a “cultura do mérito”, a meritocracia. “Melhorar significa mérito.” Para ele, quando as centrais sindicais se manifestam contra esta proposta, estão sendo corporativistas, defendendo seus interesses, mas não necessariamente o da melhoria da educação.

Futuro

Apesar do cenário pessimistra traçado em sua entrevista, Cristovam Buarque vê com otimisto o futuro da educação no Brasil. “Cada família hoje está entendendo que se o filho não estudar ele não tem futuro”, considerou.

“Todo mundo está entrando para entrar na universidade”, disse. “Em questão de 5, 6, 10 anos, as famílias devem perceber que a luta deve começar na educação de base das crianças”.

Ouça a entrevista completa cedida ao programa Morning Show no áudio acima, no começo do texto.

(Fotos do texto: Folhapress e Elza Fiúza/ ABr)

 

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