Cuba e o inédito desafio de ser um país envelhecido e subdesenvolvido

  • Por Agencia EFE
  • 16/12/2014 10h32
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Anett Ríos.

Havana, 16 dez (EFE).- O precipitado envelhecimento populacional de Cuba desafia seu futuro com a mesma urgência da crise econômica ou a mudança climática e pressiona políticas que lidem com o inédito desafio de ser um país muito antigo e subdesenvolvido.

Os dados do fenômeno são contundentes há anos: a população decresce, a fecundidade é baixa, a expectativa de vida elevada (78 anos) e o saldo migratório externo é negativo.

Atualmente, 18,3% dos 11,1 milhões de habitantes da ilha caribenha têm mais de 60 anos, mas em 2030 o número chegará a 30% e Cuba pode se tornar o país mais envelhecido da América.

“Nos preparamos para tudo, exceto para isto. Tive que renunciar a minha carreira para ser filha”, disse à Agência Efe Pilar Suárez, de 60 anos, microbiologista residente em Havana que teve que antecipar sua aposentadoria para cuidar de seu pai de 99 anos e sua mãe de, 89, que tem demência senil.

Um estudo realizado pelo Escritório Nacional de Estatísticas (ONE) a partir do último censo de população revelou que entre 1953 e 2012 as pessoas com 60 anos ou mais quadruplicaram na ilha, uma situação não vista até agora “em nenhum país do mundo”.

“O envelhecimento demográfico que Cuba apresenta em termos estatísticos é comparável apenas com os países mais desenvolvidos”, mas aconteceu “em menos de 50 anos”, enquanto nos países europeus levou dois séculos, segundo demonstrou essa pesquisa.

O governo de Raúl Castro teve que encarar o fenômeno sem contar com experiências similares e no meio do complexo cenário econômico e social no qual impulsiona seu plano de reformas para “atualizar” o socialismo cubano.

Em outubro, o Conselho de Ministros anunciou a aprovação de uma nova política demográfica que estimulará a fecundidade e favorecerá o atendimento a idosos, embora ainda não tenham sido divulgados os detalhes.

Nos últimos anos foram tomadas algumas medidas: o governo estendeu a idade de aposentadoria, aumentou as pensões (continuam sendo muito baixas em um país onde o salário médio é de cerca de US$20 mensais, ou R$53) e permitiu a reincorporação de aposentados a alguns setores, como a educação.

Mas o desafio é enorme para um país com dificuldades crônicas – como transporte público, moradia, deterioração de infraestruturas, escassez de produtos e altos preços de alimentos – que multiplicarão seu impacto no longo prazo em uma sociedade envelhecida.

“Nos faltam coisas fundamentais, como fraldas geriátricas, cadeiras de rodas e sanitárias, colchões anti-escaras, geriatras, profissionais e instituições cuidadoras, porque há poucas e as melhores são da Igreja”, ressaltou Pilar.

Neste ano, o Estado expandiu o orçamento para garantir essas ajudas “técnicas” mediante suas instituições, e reformar e aumentar lares para idosos e centros diurnos, embora as listas de espera sejam longas e o governo reconheça que resta muito a fazer.

Dados do Ministério da Saúde Pública indicam, por exemplo, que dos mais de 83 mil médicos existentes em Cuba em 2013, apenas 279, 0,33%, eram especialistas em Geriatria e Gerontologia.

A coordenadora do Programa da Terceira Idade da Cáritas em Cuba, Migdalia Dopico, disse à Agência Efe que a articulação de um sistema “adequado” de proteção e cuidados deve ser prioridade e, em particular, a formação de cuidadores.

No caso da Cáritas, mais de três mil voluntários atendem a 28 mil pessoas nas comunidades do país, com serviços de comida, lavagem de roupa.

“A Igreja tem poucos lares de idosos e muita demanda”, afirmou Migdalia, lembrando que, embora na sociedade cubana existam preconceitos culturais para “institucionalizar” os idosos, está havendo um aumento de pedidos e a tendência está em alta.

O censo de 2012 computou que em 9% dos lares cubanos vivem, pelo menos, três gerações, enquanto em 12,6% residem idosos sozinhos.

Em uma pesquisa concluída em 2011, 71% dos anciãos entrevistados afirmaram que sua única renda era a previdência, 15% disseram ter ajuda de familiares “em Cuba ou no exterior”, enquanto 60% admitiu viver com “privações e carências”.

Além da vulnerabilidade econômica, a coordenadora do programa ressaltou que as pessoas mais velhas do país têm a garantia de uma previdência universal e acesso gratuito à saúde, duas fortalezas em comparação a outros países da região.

“Sabemos que o Estado sozinho não pode”, sustentou Migdalia, que considerou que as soluções deverão integrar vários atores sociais, do governo a Igreja, passando pelas ONG e até o incipiente setor privado. EFE

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