Cubanos reagem com otimismo e cautela após acordo de reabertura de embaixadas

  • Por Agencia EFE
  • 02/07/2015 21h27

Havana, 2 jul (EFE).- O acordo para o restabelecimento de relações diplomáticas com os Estados Unidos gerou nesta quinta-feira renovadas expectativas entre muitos cubanos, mas também paralelamente um sentimento de cautela devido à continuidade do “bloqueio” comercial.

A nova etapa entre os dois países foi o grande destaque da imprensa de Cuba, incluindo o Granma, principal jornal do país e órgão oficial do Partido Comunista (PCC), que reproduziu na capa as cartas que os presidentes Raúl Castro e Barack Obama trocaram na quarta-feira para oficializar a restauração diplomática.

O texto na íntegra do discurso que Obama pronunciou ontem no jardim da Casa Branca também foi publicado nos jornais cubanos.

Nas ruas de Havana, o anúncio da abertura de embaixadas em 20 de julho foi recebido, em geral, de forma positiva.

Onel, um professor de ensino pré-universitário, se disse “feliz” pela “maravilhosa notícia”, e Osirys, trabalhador do setor turístico, o qualificou como um acontecimento de “grande impacto”.

“Nós consideramos que é bom o acordo. Essas relações favorecem tanto Cuba como os Estados Unidos”, afirmou, por sua vez, Fidel, um aposentado que vive na capital.

Ouvidos pela Agência Efe, estes e outros cubanos que fazia fila nesta quinta-feira na famosa sorveteria Coppelia não deixaram de lembrar que, apesar da decisão de restaurar as relações diplomáticas, o bloqueio dos EUA contra Cuba ainda estão em vigor.

“Primeiro é preciso que haja o fim do bloqueio para melhorar nossa situação econômica”, disse Rubisaida, diretora de uma escola primária, que admitiu que o passo anunciado ontem é “o início”, e espera que surjam melhoras para o povo cubano.

“Tudo tem que ser passo a passo. Em um dia não se pode conseguir o que não se alcançou em 50 anos. Tenho esperança de que, passo a passo, se possam conseguir bons resultados”, afirmou Osirys.

Vários destes havaneses elogiaram a atitude do presidente americano, Barack Obama, em relação a Cuba: “Deu um passo a favor do povo cubano, e é preciso respeitá-lo”, “É o único presidente (dos EUA) que trabalhou pela melhora das relações”, foram alguns dos comentários.

Entre os mais jovens, a notícia também não passou despercebida: “Deu na televisão, muitas pessoas a estavam comentando. Representa um antecipação para que nosso país avance”, disse Vivianne, uma adolescente estudante de ensino médio, enquanto a seu lado um menino de 7 anos exclamava: “Vai ser no dia 20 deste mês, não é?”.

Já entre os dissidentes que vivem em Cuba, as opiniões variam: de quatro opositores consultados hoje pela Efe, dois se mostraram a favor do restabelecimento de relações diplomáticas, e outros dois consideraram que a decisão dos Estados Unidos é um erro.

José Daniel Ferrer, líder da União Patriótica de Cuba (Unpacu), e Elizardo Sánchez, da Comissão Cubana de Direitos Humanos e Reconciliação Nacional (CCDHRN) concordaram que se trata de um passo “positivo”.

“Esperamos que contribua para uma melhor relação entre os dois povos”, disse Ferrer, um dos 75 dissidentes condenados (e já libertados) na “Primavera Negra” de 2003, que expressou seu desejo de que, à medida que avance a normalização de relações, também se fortaleça a relação com a sociedade democrática cubana.

Elizardo Sánchez vê “bem” o processo entre Cuba e EUA, mas advertiu que a situação dos direitos fundamentais vai continuar “muito desfavorável” na ilha.

“Continuamos sem ver nenhum sinal das reformas que o país precisa, nem de boa vontade do governo cubano para com os EUA nem outros países da América Latina e da UE que lhe pedem para manter os padrões internacionais de direitos humanos”, frisou.

O líder das Damas de Branco, Berta Soler, opinou que este não é o momento para a abertura de uma embaixada americana e lamentou que a administração Obama não tenha se pronunciado contra a violência e repressão sistemática do governo cubano contra seu grupo, apesar de dizer “respeitar” a decisão do presidente.

Por sua vez, Guillermo Fariñas, Prêmio Sakharov do parlamento Europeu em 2010, acredita que os Estados Unidos cometeram um “grave erro”.

“O governo dos EUA legitimou um governo que não é democraticamente eleito”, ressaltou Fariñas, que acredita que Washington está sendo “permissivo” com o regime cubano. EFE

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