Cúcuta e San Antonio: uma região colombo-venezuelana obstruída pela fronteira
Gonzalo Domínguez Loeda.
Cúcuta (Colômbia), 27 ago (EFE).- Ao contrário de muitas cidades de fronteira da América Latina, a colombiana Cúcuta tem boa qualidade de vida e um comércio dinâmico, devido, em parte, a sua proximidade com San Antonio, a vizinha venezuelana com a qual forma uma conurbação agora marcada pelo fechamento da fronteira.
Quando o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, tomou a decisão de fechar a fronteira marcada pela Ponte Internacional Simón Bolívar, os cidadãos dos dois lados lamentaram a medida, pois sabiam que suas vidas seriam diametralmente afetadas.
Crianças de ambos os países cruzam diariamente a via para ir à escola, acompanhadas pelos pais que têm negócios, legais e ilegais, tanto na Venezuela quanto na Colômbia, algumas pessoas visitam seus parentes e outras simplesmente passeiam pelas ruas vizinhas.
Boa parte dessa relação de vai e vem pode ser vista nos veículos que circulam pelo lado colombiano, a maioria deles com placa venezuelana. Já os cidadãos do lado cucutenho aproveitam a gasolina barata para abastecer seus carros. Ela chega contrabandeada da Venezuela, assim como muitos produtos que se amontoam nas prateleiras das lojas.
Os subsídios e o baixo preço do bolívar forte fazem com que produtos de primeira necessidade comecem a faltar, especialmente a gasolina, cada vez mais difícil de encontrar em Cúcuta. Os motoristas colombianos têm que se conformar com os postos de gasolina tradicionais, enquanto os pontos de venda irregulares que ficam nos limites da estrada, nos quais o combustível é vendido em vasilhas, estão secos.
Essa é a grande tensão que cresce no lado colombiano, que vive uma calmaria nos limites da Ponte Simón Bolívar, onde continua a atividade cotidiana.
“O contrabando é muito perceptível. A fronteira é muito delicada, há grupos criminosos e muita corrupção tanto na Polícia Colombiana quanto na Guarda Nacional Bolivariana”, resumiu à Agência Efe Sebastián Role, morador de Cúcuta.
Em sua opinião, o fechamento causou hostilidade e um risco efetivo de “que os dois países possam se enfrentar”, o que é visto na convivência diária dos moradores. Não à toa, quase mil colombianos foram expulsos nos últimos dias da Venezuela e deixaram para trás suas vidas e casas rumo a um futuro incerto.
“É uma decisão errada. São países-irmãos e não cabem essas decisões arbitrárias porque as pessoas comuns são as que sofrem”, ressaltou Role.
Esse delicado vínculo pode ser resumido em histórias como a de José Agmar, um venezuelano que estava em Cúcuta visitando a mãe quando a fronteira foi fechada.
“Eu tive a possibilidade de continuar, mas outros não têm e ficam na rua”, explicou.
O mal-estar entre os colombianos também foi exacerbado pela falta de uma resposta oficial do governo, que no início qualificou o fechamento como uma “medida soberana” da Venezuela e levou dias para apresentar os primeiros motivos.
“É uma falta de respeito, porque não estamos fazendo mal a ninguém”, disse à Efe Nayorie Arenas, simpatizante do ex-presidente Álvaro Uribe que discursou na fronteira, apesar dos problemas de segurança, com uma dura fala que foi fortemente aplaudida pelos moradores dos dois lados.
A complicada situação é exemplificada no meio da Ponte Simón Bolívar, onde membros das unidades especiais da Polícia Colombiana e da Guarda Nacional Venezuelana, separadas por uma cerca, se olham desafiantes com armas grandes em uma cena que lembra a Berlim da Guerra Fria. No entanto, os vínculos reaparecem quando os agentes ocasionalmente deixam os olhares ferozes de lado para conversar nas laterais da ponte.
A conversa gira em torno da vida, do calor e dos seus trabalhos. Igual a dois velhos vizinhos. EFE
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