Cúpula dos Povos adverte para risco de retrocessos sociais

  • Por Agencia EFE
  • 09/04/2015 22h32

Julio César Rivas.

Cidade do Panamá, 9 abr (EFE).- Organizações sociais do continente americano advertiram nesta quinta-feira, no início da Cúpula dos Povos, alternativa à Cúpula das Américas, que lutarão para que a desaceleração econômica não se traduza em retrocesso para os avanços sociais da última década, e condenaram as políticas dos Estados Unidos contra a Venezuela.

A Cúpula dos Povos, que segundo os organizadores conta com a participação de três mil delegados de todo o continente americano, acontece paralelamente à Cúpula das Américas que começa na sexta-feira na capital panamenha com a presença dos chefes de Estado da região.

Os participantes do encontro, entre eles o argentino Adolfo Pérez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, ressaltaram a importância simbólica da Cúpula dos Povos do Panamá, celebrada 10 anos depois da primeira reunião alternativa na Cúpula das Américas de Mar del Plata (Argentina).

Esse encontro consolidou a oposição dos movimentos sociais, organizações civis ede alguns governos da região à proposta de criação da Área de Livre-Comércio das Américas (Alca), o qe representou o início de seu fim.

Na cerimônia da abertura da reunião alternativa deste ano, Rafael Freire, secretário de política econômica e desenvolvimento sustentável da Confederação Sindical das Américas (CSA), também criticou, em declaração à Agência Efe, o Fórum da Sociedade Civil organizado pelo Panamá como parte da Cúpula das Américas.

Freire disse que “a cúpula da sociedade civil não nos representa. A forma como foi convocada, o processo de credenciamento, as mesas de debate, a forma de diálogo com os chefes de Estado não nos permite expressar a opinião dos trabalhadores”.

O representante sindical acrescentou que a Cúpula dos Povos é “uma mensagem clara aos chefes de Estado e um contraponto também ao fórum empresarial, porque defendemos um desenvolvimento sustentável em que o emprego, a distribuição da renda e o combate à pobreza extrema estejam no centro do modelo”.

Na abertura da cúpula alternativa, que vai até sábado 11 de abril, o diretor da Organização Internacional do Trabalho (OIT), Guy Ryder, se mostrou preocupado porque “o continente vive uma desaceleração econômica grande. E é inevitável que isso repercuta nos mercados de trabalho”.

À Efe, Ryder articulou de forma mais explícita seus temores, ao assinalar que a América Latina tem que se preparar para “um aumento das taxas de desemprego nos próximos anos”.

Ryder acrescentou que apesar de a América Latina ter conseguido aumentar o emprego e reduzir os níveis de pobreza na região na última década, “continua sendo o continente mais desigual do planeta” apesar do desenvolvimento de “políticas progressistas”.

“A desigualdade no continente tem raízes estruturais e precisamos hoje de soluções estruturais. Trata-se de uma transformação produtiva do continente”, acrescentou.

Neste sentido, Freire disse que a Cúpula dos Povos apresentará uma “Plataforma de Desenvolvimento das Américas” baseado em um novo modelo econômico, de sustentabilidade social e ambiental e uma “democracia política”.

“A primeira cúpula concentrou a resistência à onda neoliberal na região. Dez anos depois, houve um combate à pobreza e aumento do emprego em vários países. A questão desta cúpula agora é como garantirmos que avançaremos, porque inclusive os governos progressistas da região alcançaram limites”, explicou Freire.

Tanto Freire como Pérez Esquivel e outros delegados da cúpula alternativa elogiaram a postura dos Estados Unidos, que permitiu a presença na Cúpula das Américas, pela primeira vez na história, de Cuba, mas também criticaram sua atitude com a Venezuela.

Freire disse que a Cúpula dos Povos emitirá uma “condenação clara ao governo dos Estados Unidos por apontar a Venezuela como um perigo para sua segurança nacional”.

O prêmio Nobel argentino destacou que a presença de Cuba na Cúpula das Américas “é um símbolo de que algo está mudando nos Estados Unidos. E que hoje Cuba tem o lugar que lhe cabe”.

Mas ele acrescentou que “os Estados Unidos não têm direito de fazer isto com a Venezuela e tentar desestabilizar governos. Aí não podemos estar de acordo com Obama. Temos que saber diferenciar o joio do trigo”. EFE

jcr/cd

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