Cúpula ocorre em momento delicado para Peña Nieto por sumiço de 43 estudantes

  • Por Agencia EFE
  • 03/12/2014 19h32
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Raúl Cortés.

Cidade do México, 3 dez (EFE).- A 24ª Cúpula Ibero-Americana, que vai ocorrer entre 8 e 9 de dezembro em Veracruz, é considerada uma oportunidade pelo México para reforçar sua liderança regional, mas chega em um momento delicado para o presidente Enrique Peña Nieto em função do desaparecimento dos 43 estudantes em Guerrero, o que causou um forte queda em sua popularidade.

Poucos imaginavam no início de 2014, quando só se falava das reformas estruturais empreendidas por Peña Nieto, sobretudo a abertura do setor petroleiro, que no final do ano o líder teria que lidar com uma conjuntura que manchou sua imagem tanto no exterior como internamente.

Segundo uma pesquisa divulgada no dia 1º de dezembro, sua aprovação entre os cidadãos caiu de 50% para 39%, “o nível de popularidade mais baixo registrado por um presidente da República desde 1995 e 1996, no início do mandato de Ernesto Zedillo e em um contexto de forte crise econômica”.

Peña Nieto reconheceu que o país ainda tem um “caminho a percorrer”, mas garantiu que as autoridades vão “ser perseverantes” para “estabelecer uma nova plataforma e um marco legal” que gere mais “prosperidade, desenvolvimento e melhores condições para os mexicanos”.

Questionado pela população pela falta de resultados e a lentidão na investigação do caso de Guerrero, que se iniciou em 26 de setembro e que segue sem resolução, o governante anunciou na semana passada várias reformas constitucionais para combater a corrupção e a violência.

Essas duas palavras pareciam ter sido extirpadas do vocabulário oficial em seu primeiro ano e meio de gestão graças ao forte aparelho de comunicação governamental, que lembrou os melhores tempos do Partido Revolucionário Institucional (1929-2000), de novo no poder no país pelas mãos de Peña Nieto (2012-2018).

Mas a demolidora evidência da vinculação das autoridades com o narcotráfico, motivo da tragédia de Guerrero, suscitou uma onda de protestos, nas quais as redes sociais desempenharam um papel vital.

Enquanto procura recompor a casa interiormente, com reformas para eliminar as ilegalidades das policiais locais e das prefeituras envolvidas com o crime organizado, a Cúpula de Veracruz se apresenta como um termômetro para medir como o mundo enxerga o governo mexicano.

Com uma ofensiva diplomática própria de sua condição de potência regional, o México espera conseguir um alto nível de participação na cúpula.

O secretário (ministro) de Relações Exteriores, José Antonio Meade, expressou em setembro sua confiança de que não haverá “nenhuma cadeira vazia” em Veracruz, após a “revitalização” do mecanismo cúpula do Panamá (2013).

Consultadas pela Agência Efe, um bom número de secretarias de comunicação de presidentes dos 22 países da comunidade ibero-americana confirmaram nos últimos dias sua participação no evento.

A única ausência certa é da presidente argentina, Cristina Kirchner. Há dúvidas ainda sobre a presença da presidente Dilma Rousseff e dos presidentes venezuelano, Nicolás Maduro, e cubano Raúl Castro. Nos círculos diplomáticos, no entanto, existe a crença de que pelo menos o líder da ilha caribenha irá ao México.

A reunião em Veracruz abrirá os encontros de periodicidade bienal e será a primeira em que Felipe VI participará como rei da Espanha.

No entanto, ninguém dúvida de que o fantasma dos 43 desaparecidos flutuará no ambiente do evento e até poderá causar alguma dor de cabeça para a nação anfitriã, seja em forma de protestos sociais ou de incidentes com outros governos.

O presidente do Uruguai, José Mujica, que em Veracruz participará de sua última cúpula, e o presidente boliviano, Evo Morales, pronunciaram-se sobre o caso.

Morales se solidarizou em 10 de novembro com as famílias das vítimas. Já Mujica afirmou 12 dias depois do desaparecimento que “à distância” o México parecia “um Estado fracassado”, comentário que não passou despercebido.

O embaixador uruguaio na capital mexicana foi chamado para consultas pela chancelaria mexicana e Mujica acabou relativizando suas palavras.

O caso também chegou indiretamente ao Chile: no dia 20 de novembro foi detido no México em uma manifestação contra o governo local um cidadão chileno acusado de agredir policiais.

O chanceler mexicano, que viajou uma semana depois ao Chile, reuniu-se em Santiago com o pai do detido e teve que garantir que seu filho gozava de todas as garantias dadas pela Justiça mexicana. EFE

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