Dar es Salam, um refúgio para os nigerianos que fogem do Boko Haram

  • Por Agencia EFE
  • 06/04/2015 06h31

Xavi Fernández de Castro.

Baga Sola (Chade), 6 abr (EFE).- Em sua fuga desesperada da violência do Boko Haram, mais de 15 mil nigerianos cruzaram o Lago Chade nos últimos três meses em busca de um lugar onde possam viver tranquilos e não ter que lidar com os ataques brutais realizados pelo grupo.

Cerca de quatro mil nigerianos, alguns recém-chegados e outros que fugiram da Nigéria há quase dois anos, encontraram o que consideram mais parecido com um lar em Dar es Salam, um campo de refugiados situado a uma dezena de quilômetros de Baga Sola, a última grande cidade do Chade antes de chegar às terras que rodeiam o lago.

Uma tempestade de areia cobre o céu e praticamente não deixa passar nem um raio de sol. E um calor sufocante pressagia outro dia de suor e vento que desacelerará a atividade rotineira dos moradores de Dar es Salam.

“As condições de vida são complicadas e as pessoas não gostam de ficar afastadas do lago”, comentou à Agência Efe o coordenador do campo, Idriss Dezeh.

“Suas vidas se baseiam na pesca e na agricultura e aqui não podem fazer nenhuma das duas coisas, embora a segurança que este lugar oferece os ajude a suportar as dificuldades”, acrescentou.

Quase não há organizações humanitárias que auxiliam o governo local e a escassez de recursos põe em perigo o refúgio que tanto custou para ser levantado. O Unicef é uma das poucas organizações que está em Dar es Salam desde o primeiro momento, junto à Cruz Vermelha do Chade e a Agência da ONU para Refugiados (Acnur).

“A cada dia chegam novos refugiados, a maioria mulheres e crianças, que às vezes vêm sem seus pais”, explicou o porta-voz do Unicef no Chade, Manuel Moreno.

“Em muitos casos as famílias tiveram que se deslocar várias vezes e vêm sem nada, por isso que as necessidades são muitas e os atores humanitários sobre o terreno, poucos”, lamentou.

No entanto, e apesar das limitações, o esforço é notável. Em cada esquina há uma mulher que prepara a comida, um homem que retorna após cortar lenha ou uma criança que brinca despreocupada com seus vizinhos. Normalidade é o que todos anseiam e aqui a encontram em um tempo recorde.

O campo de Dar es Salam foi construído há dois meses e meio. Antes estava em uma cidade mais próxima ao rio, mas teve que ser desalojado pelo crescente temor de que o Boko Haram realizasse uma incursão no Chade, como acabou ocorrendo no último dia 13 de fevereiro, quando nove pessoas morreram após um ataque do grupo.

O primeiro campo, situado em Ngouboua, acomodava a primeira onda de refugiados, que chegou entre 2013 e 2014 depois que o Boko Haram intensificou seus ataques na margem nigeriana do lago.

A segunda onda, a mais numerosa com 15 mil refugiados, começou em meados de janeiro deste ano. O Boko Haram massacrou centenas de pessoas nos arredores de Baga Sola e queimou vários povoados, no que é considerado o ataque mais sangrento até o momento.

Todos e cada um dos habitantes de Dar es Salam podem contar pelo menos uma história sobre como o Boko Haram cruzou em suas vidas. Nasiru Saidu, um comerciante de 36 anos que vivia em Doron Baga, também na margem do lago, possui várias delas e uma mais estarrecedora que a outra.

“Uma vez um grupo de homens sequestrou 20 meninos de meu povo”, relatou Saidu com a naturalidade de alguém que já não percebe este tipo de atos selvagens como algo aterrorizante.

“Em setembro estava de viagem na parte chadiana do lago para comprar pescado e cerca de 70 milicianos de Boko Haram chegaram de canoa, nos roubaram tudo o que tínhamos e levaram dois homens que estavam conosco”, continuou.

Depois do massacre de Baga, Saidu decidiu que não podia aguentar mais e fugiu junto a sua família. Agora, e apesar de não ter nada e seu futuro ser incerto, pelo menos dorme tranquilo pelas noites e sabe que em Dar es Salam sua família está a salvo da barbárie do Boko Haram. EFE

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