David Heymann, descobridor do ebola, não vê “risco de epidemia na Espanha”

  • Por Agencia EFE
  • 07/10/2014 15h01
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Judith Mora.

Londres, 7 out (EFE).- O epidemiologista americano David Heymann, membro da equipe internacional que em 1976 descobriu o vírus do ebola, garantiu hoje à Agência Efe que “não há risco de ocorrer uma epidemia na Espanha”, após o inesperado contágio de uma auxiliar de enfermagem.

Heymann, professor da Escola de Higiene e Medicina Tropical de Londres, afirmou que “o serviço público de saúde espanhol sabe muito bem o que deve fazer”, e que prova disso é que localizou e isolou às pessoas que podem ter mantido contato com a auxiliar de enfermagem, contagiada após atender dois missionários vindos da África quando estes foram repatriados à Espanha, onde morreram.

Em entrevista à Agência Efe, Heymann, ex-diretor-executivo da Organização Mundial da Saúde (OMS), disse que “infelizmente, os contágios como este acontecem, pois às vezes o equipamento protetor não funciona ou ocorre algum erro de protocolo”.

Em todo caso, “não há nenhum risco de que o ebola se propague rapidamente entre a população” da Espanha, sempre que as autoridades sanitárias “façam o que melhor sabem fazer: proteger a saúde pública”, como já estão fazendo, manifestou.

O professor americano, que em 1976 pesquisou o vírus com Peter Piot, afirmou que, embora ainda não haja remédios ou vacinas contra a doença, “alguns tratamentos com anticorpos deram sinais de eficácia”.

“Mas o mais importante é manter um bom equilíbrio dos fluidos internos do corpo, para manter com vida o paciente e que seu próprio sistema imunológico possa gerar anticorpos para combater o vírus”, ressaltou.

Estas medidas, que nos países desenvolvidos podem conter a infecção, são mais difíceis de aplicar nas nações menos organizadas e com população mais frágil, por desnutrição e diversas outras causas.

“O que aconteceu na África é que a explosão do vírus não ficou nas zonas rurais, onde poderia ter se isolado em março, e chegou a zonas urbanas, onde é mais difícil conter. A situação agora é muito complicada, pois os governos dos países africanos estão com problemas e, além disso, alguns não oferecem confiança à população”, explicou.

Heymann, que no passado liderou equipes internacionais para combater epidemias de Aids e gripe aviária, disse que, embora exista “muita boa vontade em nível internacional” para ajudar na crise, falta uma melhor coordenação. O cientista acredita que a atual explosão servirá para que os países mais desenvolvidos aumentem sua cooperação com os mais vulneráveis. Para ele, essa é uma oportunidade para testar novos remédios.

“Alguns laboratórios nos Estados Unidos desenvolveram vacinas e compostos de anticorpos para combater o ebola com financiamento do Ministério da Defesa, mas os fármacos nunca foram testados em humanos, agora há uma oportunidade. Após testá-los em animais, só se pode estudar sua eficácia em humanos quando há uma epidemia”, esclareceu.

Em 1976, um médico de Kinshasa enviou a um laboratório de Antuérpia, na Bélgica, uma amostra de um vírus desconhecido que tinha causado a morte a uma freira belga no remoto povoado de Yambuku, no antigo Zaire.

“A propagação aconteceu em parte porque as freiras, que tinham montado um hospital de campanha, atenderam à população local sem equipamento médico devidamente esterilizado”, detalhou Heymann, que em 1995 liderou a resposta a outra explosão de ebola no Kikwit.

Após estabelecer em 1976 que o vírus que enfrentavam não tinha sido identificado antes, tiveram que colocar um nome nele, “e foi o de ebola, por um rio próximo dali”, lembra.

Heymann afirma que, apesar da grave situação na África, que precisa ser resolvida a todo custo, um hipotético de foco na Europa ou nos Estados Unidos seria fácil de controlar, por há melhores protocolos sanitários.

Ele ressalta que as três medidas básicas para conter a infecção, como já é feito na Espanha, são o isolamento ou “impedir o contato com a comunidade”; “manter um controle regular da temperatura de possíveis infectados” para diagnosticar o vírus; e “informar à população sobre como evitar o contágio”. EFE

jm/cdr

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