Debate sobre pena de morte ressurge após condenado agonizar por horas nos EUA
Jorge A. Bañales.
Washington, 24 jul (EFE).- A governadora do Arizona, nos Estados Unidos, Jan Brewer, ordenou nesta quinta-feira uma investigação sobre o caso de Joseph Wood, condenado à morte, que agonizou por duas horas depois da injeção letal que possuía a mesma composição de outra polêmica execução em Ohio, há seis meses.
As autoridades carcerárias declararam Joseph Rudolph Wood, condenado à pena capital por duplo homicídio em 1989 de sua companheira e do pai dela, morto uma hora e 57 minutos depois do início da aplicação do sedativo midazolam e do narcótico hidromorfona.
As testemunhas disseram que Wood, de 55 anos, continuou respirando agonizante centenas de vezes, quando a execução deveria ter sido terminada em dez minutos.
“Buscava o ar como um peixe na terra”, relatou o jornalista Michael Kiefer, do jornal “Arizona Republic”, que foi testemunha da execução. “O movimento era como o de um pistão. Abria a boca, levantava o peito, enchia o abdômen”.
“E quando o médico foi examiná-lo, anunciou pelo microfone que Wood continuava sedado, mas podíamos escutar os ruídos que fazia, como quando o filtro de uma piscina chupa ar”, acrescentou. “Foi morte por apnéia, e durou mais de uma hora e meia”.
O caso reavivou hoje o debate nos Estados Unidos sobre a pena de morte, punição restabelecida pela Suprema Corte em 1976 e ainda aplicada em 32 estados.
Uma das limitações da pena de morte é a Oitava Emenda da Constituição que proíbe “punições cruéis e inusitados”.
Em janeiro passado, Dennis McGuire, de 43 anos, condenado à morte pelo estupro e assassinato em 1989 da recém-casada e grávida Joy Stewart, levou quase 25 minutos para morrer depois de receber a injeção com a mesma combinação de compostos, usada pela primeira vez nos Estados Unidos para executar alguém.
Em abril Clayton Lockett, de 38 anos, condenado pelo estupro e assassinato de Stéphanie Neiman, morreu vítima de um ataque cardíaco quase uma hora depois ter administrado uma combinação de três drogas que incluía midazolam.
Os advogados de Wood tinham levado aos tribunais estaduais e federais a preocupação com a combinação de compostos químicos e a recusa do Departamento de Correções do Arizona de dar informação sobre as verbas específicas com as quais as drogas foram adquiridas.
“O Arizona se somou aos estados responsáveis por um horror que poderia ser evitado totalmente: uma execução mal executada”, disse Dale Baich, um dos advogados defensores de Wood. “O público deveria responsabilizar os funcionários e exigir que este processo seja mais transparente”.
As polêmicas sobre a pena de morte em si cresceram nos EUA desde que as análises genéticas provaram a inocência de vários condenados, e desde que o tiopentato de sódio, um narcótico que fazia parte do coquetel de três compostos usado nas injeções letais, parasse de ser produzidos por diversas farmacêuticas.
Mês passado a Hospira, única companhia com permissão para fabricar o narcótico nos Estados Unidos, anunciou que não produziria o tiopentato após uma campanha global mobilizada por grupos contrários à pena de morte.
Isto forçou os estados a adiarem execuções, em busca do pouco que resta do narcótico no mercado ou a testar compostos alternativos.
Desde 1976 foram executadas 1.385 pessoas nos Estados Unidos e há atualmente 3.070 pessoas no corredor da morte.
Embora os negros sejam 12% da população norte-americana, foram 34% dos réus executados e 41% da população no corredor da morte. EFE
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