Demanda interna está caindo mais do que o PIB, avalia IBGE
A demanda está recuando mais do que o PIB brasileiro, mas o efeito tem sido parcialmente compensado pelo setor externo, observou Rebeca Palis, coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O Consumo das Famílias encolheu 3,4% no terceiro trimestre ante o mesmo trimestre do ano anterior, ante um recuo de 2,9% no PIB no período. Os dados são das Contas Nacionais Trimestrais, divulgadas nesta quarta-feira, 30, pelo IBGE.
“A demanda interna está caindo mais do que o PIB, na verdade, sendo contrabalançada parcialmente pelo setor externo. Tem o câmbio e a própria queda da importação, pela redução da demanda em si”, explicou Rebeca.
No terceiro trimestre, as exportações de bens e serviços aumentaram 0,2%, enquanto as importações recuaram 6,8%.
“A gente está tendo taxas positivas na exportação e negativas na importação, então isso tem efeito positivo sobre o PIB”, lembrou a pesquisadora.
No entanto, a valorização do dólar ante o real no terceiro trimestre ajudou a reduzir a contribuição do setor externo para o desempenho da economia brasileira. As exportações estão crescendo a taxas menores, enquanto as importações vêm caindo também em menor ritmo.
“No terceiro trimestre, a diferença está menor. Aqui tem um pouco o efeito do câmbio que deu uma valorizada nesse trimestre”, disse Rebeca.
No terceiro trimestre, houve impacto também da redução nas importações de bens de capital sobre a Formação Bruta de Capital Fixo, que encolheu 8,4% ante o mesmo trimestre de 2015, sob influência também da menor fabricação de bens de capital e das perdas na construção civil.
“A queda na importação (de bens de capital) teve efeito maior porque ela foi bastante relevante no terceiro trimestre”, apontou a coordenadora do IBGE.
Ciclo
Quando se olha o desempenho do PIB sob a ótica do ciclo econômico, levando em conta a variação acumulada em quatro trimestres, os dados do IBGE apontam para uma desaceleração da retração, destacou Rebeca Palis.
No acumulado em quatro trimestres até setembro, o PIB encolheu 4,4% ante igual período do ano anterior, informou o IBGE. A mesma taxa estava em 4,8% no segundo trimestre e em 4,7%, no primeiro.
Foi o primeiro trimestre em que a leitura dessa taxa foi superior ao trimestre imediatamente anterior desde o primeiro trimestre de 2014. Também foi a queda menos acentuada desde o quarto trimestre de 2015, quando o recuo foi de 3,8%. As taxas no acumulado em quatro trimestres estão negativas desde o primeiro trimestre de 2015.
“A queda é pouco menor, mas a gente vinha tendo uma aceleração da queda e agora teve uma desaceleração”, disse Rebeca a jornalistas, após encerrar a entrevista coletiva para comentar os dados do PIB do terceiro trimestre.
Fundo do poço
Ainda assim, segundo Rebeca, é cedo para dizer se chegamos ao fundo do poço. A pesquisadora lembrou que, sazonalmente, o PIB agropecuário pesa pouco no quarto trimestre, porque há poucas safras de grãos nesta época. No mesmo sentido, a indústria arrefece, tradicionalmente, sua produção no fim ano. Conforme Rebeca, as atividades mais intensas estão no PIB de serviços, com destaque para o comércio, especialmente o varejista.
“O quarto trimestre vai depender muito do comércio. Vamos ver”, disse Rebeca.
Necessidade de financiamento
A necessidade de financiamento do País alcançou R$ 21,9 bilhões no terceiro trimestre de 2016, abaixo dos R$ 39,2 bilhões do terceiro trimestre de 2015, informou o IBGE.
“Essa necessidade de financiamento diminuiu muito por conta do saldo externo. Também enviamos um pouco menos de renda e propriedade para outros países”, explicou Rebeca.
No trimestre de julho a setembro, o saldo externo de bens e serviços somou R$ 7,3 bilhões, um aumento de R$ 14,6 bilhões em relação ao mesmo trimestre do ano passado. Já a renda líquida de propriedade enviada ao resto do mundo teve queda de R$ 3,3 bilhões do terceiro trimestre do ano passado para o mesmo período deste ano, somando R$ 31,5 bilhões.
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