Demografia está a favor dos democratas: futuro EUA será mais “azul”

  • Por Agencia EFE
  • 30/10/2014 16h18

Cristina García Casado.

Washington, 30 out (EFE).- Os democratas olham para o futuro político dos Estados Unidos além das eleições da próxima terça-feira ao perceberem que a demografia joga a seu favor, já que o país está mais diverso e menos branco, e que os latinos e a geração do milênio poderiam provocar uma reviravolta em vários redutos republicanos.

Por isso, mesmo com as pesquisas desfavoráveis, os democratas aproveitam os últimos dias antes de 4 de novembro para mobilizar jovens, minorias e mulheres, seu eleitorado fiel que tende a ficar em casa nas legislativas, ao contrário da maior mobilização dos eleitores republicanos.

Na terça-feira toda a Câmara dos Representantes será renovada, e parece quase certo que a câmara continuará nas mãos republicanas. No Senado buscam conseguir mais seis cadeiras para ter a maioria desta casa também, e aparecem com uma ligeira vantagem nas pesquisas, embora haja uma dezena de disputas sem um claro ganhador.

“A eleição de meio mandato beneficia historicamente os republicanos, porque menos pessoas votam e quem vota é mais velho, por isso será preciso esperar até 2016 para sentir o efeito das tendências demográficas favoráveis aos democratas, que já foram percebidas em 2008 e 2012”, explicou à Agência Efe John Hudak, especialista em eleições do centro de estudos Brookings Institution.

O empurrão dos eleitores latinos e jovens, decisivo na chegada de Barack Obama à presidência, tem atingido estados tradicionalmente conservadores que estão passando do “vermelho” (republicano) ao “azul” (democrata).

A Virgínia, que já foi em 2008 e 2012 um estado em disputa, exibe reflexos que indicam que se transformará em um lugar bastante seguro para os democratas nas presidenciais; no Colorado, Obama venceu com folga duas vezes; Nevada passou de estado pendular para um de êxito relativamente fácil, e o Novo México vai pelo mesmo caminho.

As vitórias conservadoras estão cada vez mais apertadas no Arizona, na Geórgia e inclusive no populoso Texas, estados do sul onde a população latina cresce, mesmo enfrentando algumas das políticas migratórias mais duras do país, impulsionadas por republicanos nas administrações local e estadual.

A demografia está a favor dos democratas: o tradicional eleitor conservador, o wasp (sigla para branco, anglo-saxão e protestante) está envelhecendo, e o novo eleitorado se caracteriza por ser mais progressista no aspecto social e pertence à geração mais diversificada da história do país.

São os jovens do milênio, que têm agora entre 18 e 33 anos, são bem formados, não são muito religiosos e adiaram o momento de casar e ter filhos.

Suas posições sobre aborto, direitos reprodutivos e casamento homossexual se chocam com as do partido republicano, que fez da batalha contra esses temas uma de suas bandeiras.

“Eles veem nos republicanos um partido beligerante em assuntos que eles defendem com paixão”, apontou Hudak.

Nas últimas eleições, a diferença nas tendências por idade foi a maior registrada desde que a idade mínima para votar foi reduzida para 18 anos, em 1972.

“No ano 2000 quase não havia diferença na maneira em que votavam jovens e velhos. Agora, há um abismo”, explicou Paul Taylor, vice-presidente executivo de projetos especiais do Centro de Estudos Pew, em seu livro “The Next América”, publicado este ano nos EUA (sem lançamento no Brasil).

Seis em cada dez jovens eleitores apoiaram a reeleição de Obama em 2012, mas só 47% da geração de seus pais (os “baby boomers”, entre 45 e 64 anos) e 44% da de seus avôs (maiores de 65).

A posição destes jovens sobre política externa e o papel que o governo federal deve ter também está em maior sintonia com os democratas, enquanto os eleitores mais velhos tendem a apoiar as teses republicanas de redução do poder de Washington em favor dos estados.

Quatro em cada dez “millennials” não são brancos; muitos deles são filhos das grandes ondas de imigração hispânica e asiática que chegaram ao país há meio século.

Dos 40 milhões de imigrantes que chegaram ao Estados Unidos desde 1965, quase a metade é hispânica e três em cada dez são asiáticos. No final do século XIX e princípio do XX, nove em cada dez imigrantes eram europeus, número que hoje é de representa 12%.

Os imigrantes atuais e seus filhos formarão 37% da população americana em meados deste século, a ratio mais alta na história de uma nação que caminha para ter uma maioria não branca, segundo as projeções do centro Pew.

“Realmente os hispânicos compartilham muitas posições com os republicanos em temas sociais como aborto, religião, casamentos homossexuais, mas o partido boicota a si mesmo com suas duras políticas contra a imigração”, avaliou Anthony Corrado, professor de Política Governamental no Colby College do Maine.

O ex-presidente republicano Ronald Reagan (1981-1989) costumava dizer que “os hispânicos já são republicanos, o que acontece é que não sabem”. No entanto, o discurso beligerante de seu partido contra a imigração os afasta ainda de um eleitorado estratégico.

A estagnação da reforma migratória, uma das grandes promessas eleitorais de Obama, frustrou a comunidade hispânica que confiou nele em 2008 e 2012, mas os republicanos estão longe de capitalizar essa desilusão porque bloquearam a iniciativa no Congresso e mantêm posições muito duras em imigração.

“Além disso, não é só a imigração que determina o voto dos hispânicos. Há outros muitos assuntos que os preocupam, como o acesso à educação, à saúde e as ajudas sociais, bandeiras defendidas pelos democratas e que os republicanos querem restringir”, assinalou Hudak.

“Se os dois partidos mantiverem suas posições e discurso atuais, tudo indica que os democratas sairão beneficiados de uma demografia em que latinos e jovens do milênio definirão a pauta”, concluiu. EFE

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