Dengue endêmica se propaga de 9 para 100 países em 50 anos

  • Por Agencia EFE
  • 03/04/2014 21h44
  • BlueSky

Marta Hurtado.

Genebra, 4 abr (EFE).- Nos últimos 50 anos, a dengue se propagou de nove para 100 países e sua incidência mundial aumentou 30 vezes, convertendo-se na doença vetorial de mais rápida propagação.

Atualmente, quase metade da população mundial vive em países onde a dengue é endêmica, e mais de 390 milhões de pessoas no mundo padecem da doença a cada ano, quando há meio século só foram registrados 15 mil casos em nove países do sudeste asiático.

Perante esta realidade, a Federação Internacional da Cruz Vermelha (FICV) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) quiseram soar o alarme sobre uma doença que consideram “silenciada”, apesar de seu grande impacto.

“A doença não tem a atenção dos doadores, nem das autoridades políticas, e está se expandindo rapidamente, quando é uma dolência que poderia ser prevenida”, alertou em entrevista coletiva o subsecretário-geral da FICV, Walter Cotte.

“A taxa de mortalidade da dengue é de 2,5%. É baixa se for comparada com o ebola, que pode chegar a 90%. Mas as consequências para a economia das famílias são catastróficas”, declarou Amanda McClelland, do departamento de Saúde de Emergências da FICV.

Segundo os cálculos da FICV, o impacto econômico da dengue na América se eleva a US$ 2,1 bilhões anualmente, e no sudeste da Ásia a US$ 2,36 bilhões.

O vírus da dengue tem quatro sorotipos e a pessoa que contraiu e adoeceu com um, fica imunizada para este, mas não para os outros três.

Além disso, ficou comprovado que a segunda vez que se contrai a doença, esta é muito mais severa que a primeira, e assim sucessivamente, “com o que o risco de morrer se multiplica consideravelmente”, advertiu McClelland.

Em 2010, o número de casos registrados de dengue na América Latina se elevou a 40,5 milhões, a 48,4 milhões na África, e a 204,4 milhões na Ásia.

Um dos principais problemas é que não há um controle epidemiológico efetivo, motivo pelo qual “se estima” que 400 milhões de pessoas se infectam anualmente, mas se desconhece se há mais casos, uma vez que, quando afeta de forma leve, pode ser confundida com uma gripe.

De fato, são necessários três dias para diagnosticar corretamente o vírus e, uma vez confirmado, não tem cura nem tratamento específico, e a vacina para preveni-lo ainda está sendo desenvolvida.

As causas desta rápida expansão são várias: a mudança climática contribuiu para que o mosquito transmissor (o Aedes aegypti), que originalmente se reproduzia em áreas tropicais, viva agora em regiões menos cálidas, onde antes não existia.

Em 2010, por exemplo, foram registrados casos de dengue em lugares como França e Croácia.

Mas, principalmente, o aumento das viagens e do comércio internacional facilitou que o mosquito se movimentasse com grande rapidez.

As larvas e os mosquitos adultos se desenvolvem em águas paradas, tanto em grandes reservas como em tanques ou rios, assim como em pequenos vasos ou jarras, razão pela qual que se reproduzem por igual em zonas rurais e em áreas urbanas.

“As larvas podem sobreviver meses antes de se transformar em mosquitos”, explicou Raman Velayudhan, coordenador de doenças vetoriais no departamento de Doenças Negligenciadas da OMS.

Atualmente estão sendo realizados dois projetos de controle do vetor: um que deixa os machos estéreis, com o objetivo de longo prazo que a espécie se extinga, e outro que pretende paralisar a transmissão do vírus no interior do mosquito.

“Os dois programas estão ainda em testes. Mas, além disso, a grande questão é, caso controlemos o vetor, também controlaremos a doença?”, ressaltou Velayudhan. EFE

  • BlueSky

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.