Denúncias de espionagem derrubam cúpula de inteligência militar na Colômbia

  • Por Agencia EFE
  • 05/02/2014 05h22

Bogotá, 4 fev (EFE).- Denúncias reveladas pela imprensa da Colômbia sobre a espionagem ilegal feita pela cúpula de inteligência militar do país, que tinha os negociadores do governo nas conversas de paz com as Farc entre os alvos, fez com que o Ministério da Defesa realizasse mudanças nesta terça-feira na chefia de inteligência do Exército colombiano.

O episódio, revelado pelo site da revista “Semana”, se trata de uma conspiração feita aparentemente por unidades de inteligência do Exército e sem o consentimento do governo. O presidente colombiano, Juan Manuel Santos, condenou o fato e exigiu uma investigação “profunda” do caso, que atribuiu a “forças obscuras”.

Horas depois, o ministro da Defesa, Juan Carlos Pinzón, anunciou a “substituição” do chefe de Inteligência do Exército, o general Mauricio Ricardo Zúñiga, e do diretor da Central de Inteligência Técnica (Citec), o general Oscar Zuluaga.

Pinzón disse, após uma prolongada reunião com o procurador-geral do país, Eduardo Montealegre, que na manhã desta terça-feira foi aberta uma “investigação disciplinar” do caso que deve render um relatório até o final da próxima semana.

De acordo com a investigação da revista “Semana”, um capitão que pertence ao batalhão de Inteligência Técnica do Exército dirigiu, desde setembro de 2012, uma central de grampos em um local que funcionava como restaurante e como escola de informática para “hackers”.

Os supostos espiões interceptavam e-mails, bases de dados e mensagens em programas de telefones celulares.

Entre eles havia militares e civis recrutados em convenções de informática. Já entre os espionados estão ativistas e políticos de esquerda, como a ex-senadora Piedad Córdoba e o representante na Câmara Ivan Cepeda.

Também estariam sendo monitorados os representantes do governo nas conversas de paz com as Farc em Cuba: o chefe negociador e ex-vice-presidente Humberto de la Calle, e o alto comissário de Paz, Sergio Jaramillo, além do diretor da Agência Colombiana para a Reintegração (ACR), Alejandro Eder.

O presidente Santos afirmou que “não é aceitável que essa inteligência se faça contra cidadãos comuns, muito menos contra funcionários do próprio Estado. Especificamente contra os negociadores é algo totalmente inaceitável”.

Por isso, o chefe de Estado ordenou ao ministro da Defesa e aos comandantes da polícia que determinem “até onde chegou este uso ilícito da inteligência e quem pode estar interessado em gravar e interceptar os nossos negociadores de paz”.

De acordo com a imprensa local, outras instituições podem ter sido alvo dos grampos dessas “forças obscuras”.

O jornal “El Tiempo” informou que a promotoria e a polícia também foram vítimas das interceptações do Exército e que essa central clandestina tinha alvos “estratégicos”, até que uma ordem provocou uma mudança nos alvos da espionagem para os próprios membros do Estado.

O caso foi remitido na quinta-feira passada para um promotor do Corpo Técnico de Investigação (CTI) e em tempo recorde se ordenou uma revista na central clandestina. 26 computadores foram apreendidos e cinco pessoas ficaram detidas durante horas para prestar depoimento à promotoria. EFE

agp/rpr

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