Dependente da Venezuela, Cuba segue apreensiva protestos contra Maduro

  • Por Agencia EFE
  • 19/03/2014 18h23

Soledad Álvarez.

Havana, 19 mar (EFE).- A onda de protestos na Venezuela voltou a avivar o debate sobre os riscos que Cuba corre por ser dependente do país sul-americano, já que uma hipotética reviravolta nessa aliança representaria para a ilha um forte impacto e uma queda econômica superior a 7%, segundo especialistas.

“Uma crise na Venezuela ou um eventual colapso de suas relações com Cuba seria o pior de todos os cenários para a ilha”, disse à Agência Efe o economista cubano Pavel Vidal, atualmente professor na Universidade Javeriana de Cali, na Colômbia.

Vidal calcula que esse cenário provocaria uma queda de 7,7% do Produto Interno Bruto (PIB) cubano, muito menor que a queda de 35% que sofreu a economia da ilha nos anos 90 com o fim da União Soviética.

No entanto, em sua opinião, Cuba estaria agora em piores condições para um choque desse tipo, principalmente quando o país desenvolve um plano para “atualizar” o modelo socialista e remontar sua fraca situação econômica.

Vidal lembra que, nos anos 90, ao cair o bloco soviético e ser decretado em Cuba o chamado Período Especial, o custo do ajuste foi pago com os salários dos cubanos que caíram quase 80% ou 90%. O economista advertiu que, atualmente, o poder aquisitivo salarial na ilha é apenas 30% do que havia em 1989.

“Não há um colchão de reservas de renda. O ajuste agora seria muito mais difícil porque não haveria como pagá-lo. É muito mais complicado. A isso é preciso acrescentar que Cuba está imersa em todo um processo de mudança que ainda não oferece todos seus resultados”, afirmou.

Mauricio de Miranda, também cubano e professor de Economia mesma universidade, assegurou que a situação da Venezuela representa um elemento de preocupação para Cuba.

“Todos sabemos que os ingressos por serviços profissionais constituem provavelmente a principal fonte de divisas de Cuba nestes momentos, e em uma grande medida dependem da relação particular com o governo da Venezuela”, destacou Miranda.

Para ele, não se pode comparar a relação de Havana com Caracas com a forte dependência que tinha da extinta União Soviética, porém Miranda acredita que uma crise política na Venezuela, uma mudança de governo ou uma situação grave em sua economia traria consequências nefastas.

Muitos cubanos estão pendentes do que ocorre na Venezuela, e com as repercussões para a ilha, porque, além disso, milhares de compatriotas estão no país prestando serviços médicos e educativos, entre outros.

“Todos estamos pendentes da paz na Venezuela. Primeiro por eles, que merecem, mas também porque é com o petróleo que Cuba caminha. Sempre estamos dependendo de alguém”, lamentou Rosemary Alfonso, que é administradora.

“A preocupação central do cubano é o petróleo. Se algo ruim acontece lá, nos tiram o petróleo de repente e o que vai ser da gente? Além do mais, todo mundo aqui tem um parente na Venezuela. O que vai acontecer com eles?”, se perguntou Yasser López, um vendedor da capital.

Após os anos duros do Período Especial, Cuba encontrou na Venezuela de Hugo Chávez a tábua de salvação ao consolidar uma estreita aliança política e econômica a partir da assinatura, no ano 2000, de um Acordo Integral de Cooperação, que abrange todo tipo de setores.

Para Cuba é particularmente importante o convênio energético pelo qual a Venezuela lhe fornece diariamente mais de 100 mil barris de petróleo, que a ilha paga, em parte, com o serviço que médicos, professores, treinadores esportivos e outros profissionais prestam no país sul-americano.

A Venezuela é o principal parceiro de Cuba e o volume de troca comercial bilateral representa 40% do total registrado neste país. Concretamente, 37,6% das exportações cubanas têm como destino esse país sul-americano, de onde procedem 40% das importações cubanas.

Há mais de um mês, a Venezuela está imersa em uma onda de protestos contra as políticas do presidente Nicolás Maduro que deixaram cerca de 30 mortos e centenas de feridos.

O governo de Cuba se pronunciou várias vezes sobre a situação para ratificar seu pleno respaldo a Maduro, condenar as tentativas de desestabilização de seu governo e denunciar a “intromissão estrangeira”, especialmente dos Estados Unidos.

“Sabemos, por experiência própria, os que estão por trás, financiam e apoiam essas brutais ações para derrubar o governo constitucional venezuelano”, afirmou em fevereiro o presidente cubano, Raúl Castro.

Nos últimos dias, Cuba se transformou, além disso, em protagonista dos protestos e manifestações na Venezuela, onde os opositores exigem o fim da suposta “ingerência” da ilha em seu país, ao que Maduro respondeu com a decisão de aumentar a cooperação com Havana “em todos os níveis”. EFE

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