Derrota alemã em 1918 foi decisiva para nascimento da propaganda nazista
Rodrigo Zuleta.
Berlim, 27 jul (EFE).- A derrota da Alemanha na I Guerra Mundial foi vista por parte do exército e de grupos políticos de direita como uma traição das elites democráticas, o que criou um ambiente de revanchismo decisivo para o nascimento do nazismo.
Um projeto de pesquisa dirigido por Gerd Krumeich, da Universidade de Düsseldorf, teve como objetivo traçar as conexões entre esse conflito, que completa 100 anos, e a propaganda política nacional-socialista.
“Sem a I Guerra Mundial e suas consequências, o III Reich teria sido sido impensável”, afirmou o historiador britânico Ian Kerschaw durante um congresso organizado por Krumeich.
A direita alemã do primeiro pós-guerra, que tinha como ícones generais como Erich Ludendorf e Paul von Hindenburg, criou um mito que foi parte de seu arsenal propagandístico, o de um exército que não tinha sido vencido no campo de batalha.
Segundo essa lenda – usada depois por Hitler e Goebbels -, a derrota alemã ocorreu devido a um levante interno – protagonizado antes de tudo por comunistas e social-democratas e pela suposta plutocracia judaica -, que terminaria com a proclamação da República de Weimar em 9 de novembro de 1918.
O Tratado de Versalhes, que obrigava a Alemanha a assumir praticamente os custos totais da guerra, era outro elemento da propaganda da direita para atacar não só as potências estrangeiras, que se beneficiavam do acordo, mas os políticos da república.
Em 13 de março de 1920 houve um dos primeiros pontos culminantes da tensão entre a nova ordem republicana e a nova direita que terminaria posteriormente se aglutinando no partido nazista.
Devido ao artigo 160 do Tratado de Versalhes, que determinava que o exército alemão não podia ter mais de 100 mil soldados, o ministro de Guerra, Gustav Noske, tinha ordenado a dissolução de várias unidades. Um movimento liderado por Wolfgang Kapp e o general Walther von Lüttwitz, e apoiado por Ludendorff, tentou dar um golpe de estado que obrigou o governo a fugir provisoriamente de Berlim, mas que acabou sendo sufocado, em parte graças à ajuda de uma greve geral.
Três anos mais tarde, em 8 e 9 de novembro de 1923, aconteceu uma segunda tentativa de golpe, desta vez comandado pelo próprio Adolf Hitler, novamente apoiado por Ludendorff e voltado contra “o governo dos criminosos de novembro”, em alusão a novembro de 1918.
A tentativa de golpe ocorreu em Munique, e o plano era, seguindo o modelo da passeata em Roma de Benito Mussolini, marchar sobre Berlim com unidades rebeldes do exército e com grupos paramilitares antidemocráticos. O novo governo, segundo os planos dos opositores, deveria ser formado por Hitler, Ludendorff, Otto von Lossow e Hans von Seisser.
No entanto, a polícia bávara conseguiu reprimir o levante, em uma ação que custaria a vida de mais de dez golpistas que posteriormente seriam chamados pelos nazistas de “mártires do movimento”.
Hitler foi julgado e condenado a cinco anos de prisão por alta traição, mas foi colocado em liberdade após nove meses por bom comportamento. Durante o processo, ele se defendeu alegando que os verdadeiros traidores tinham sido os que supostamente levaram o país à derrota em 1918.
Os meses na prisão foram aproveitados por Hitler para ditar a seus companheiros de cela Rudolf Hess e Emil Maurice parte de seu célebre panfleto político “Mein Kampf” (“Minha luta”).
O pronunciamento no processo contra ele próprio e seu ataque contra os “criminosos de novembro” é, para muitos, o começo da corrida política de Hitler.
Se na tentativa de golpe de 1923 ele era apoiado por Ludendorff, na sua chegada ao poder, dez anos depois, o outro ícone alemão da I Guerra Mundial, Paul von Hindenburg, teria um papel-chave.
Hindenburg, presidente da Alemanha, nomeou Hitler como chanceler, o que lhe permitiu primeiro formar um governo de coalizão para depois, após novas eleições, assumir todo o poder e inclusive suceder o velho general na presidência. EFE
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