Derrota do líder republicano na Câmara dos EUA obriga partido a refletir
Raquel Godos.
Washington, 11 jun (EFE).- A inesperada derrota nas primárias do líder da maioria republicana na Câmara dos Representantes dos Estados Unidos, Eric Cantor, estremeceu Washington e as entranhas do Partido Republicano, a ponto de se confirmar nesta quarta-feira sua renúncia à liderança dos conservadores.
As pesquisas e os analistas previam uma vitória fácil para o deputado, símbolo do establishment republicano, que enfrentava nas primárias da Virgínia Dave Brat, um professor de Ciências Econômicas praticamente desconhecido e ligado ao ultraconservador Tea Party, que tinha alcançado apenas US$ 200 de arrecadação para sua campanha frente aos mais de US$ 6 milhões amealhados por Cantor.
Diante do desconcerto sem precedentes desde que o cargo de líder da maioria foi criado no final do século XIX, muitos meios de comunicação americanos tentaram estabelecer as causas da punição infligida a Cantor pelos eleitores, e muitos apontaram sua posição sobre a reforma migratória.
Cantor mostrou uma atitude instável sobre a matéria, dizendo estar a favor de aprovar uma reforma, mas barrando o voto de um texto legislativo a respeito na Câmara, onde permanece estagnado desde que foi aprovado pelo Senado há um ano.
Cada vez mais vozes discordam desta teoria, já que várias pesquisas reiteraram nos últimos meses que a maioria dos eleitores republicanos apoia uma reforma migratória, o que pode ser demonstrado com a vitória do senador republicano Lindsey Graham, abertamente defensor da lei, nas primárias desta terça-feira na Carolina do Sul, um dos estados mais conservadores do país.
Tim Kaine, ex-governador, atual senador pela Virgínia e grande conhecedor dos eleitores de seu estado, disse hoje que a derrota de Cantor “virtualmente não tem nada a ver com a reforma migratória, mas com as necessidades das pessoas de seu distrito”.
Segundo o senador democrata, os cidadãos da Virgínia puniram a falta de contato de Cantor com seu eleitorado e por colocar a liderança em Washington à frente de suas obrigações como representante, embora pareça evidente que o assunto migratório influiu mais em sua campanha do que em outras primárias no país.
Independentemente de um motivo concreto para este duro golpe em Cantor, o certo é que não se pode atribuir estritamente esta vitória dos ultraconservadores contra a ala moderada representada pelo deputado, já que na maioria das primárias realizadas nas últimas semanas o Tea Party não saiu vencedor.
Mesmo assim, a renúncia de Cantor à liderança da Câmara obriga o coração do partido a repensar sua estratégia, e deverá encontrar um substituto após o verão americano, quando sua saída da liderança será efetivada.
O ainda líder pertence ao aparelho republicano desde o começo de sua carreira política, mas flertou com os ultraconservadores em 2010, ao se colocar como o antagonista conservador ao presidente da Câmara dos Representantes, o republicano John Boehner.
De fato, corre à meia boca nos corredores do Congresso que Cantor queria tomar a posição de Boehner, o único acima dele entre os congressistas, e ser seu rival após as eleições de novembro.
Esta rivalidade interna levou o próprio presidente da Câmara dos Representantes a ser mais cauteloso em suas decisões, mas a saída de Cantor do tabuleiro garante a Bohener sua permanência e pode ser o prefácio de uma mudança de estratégia política.
As próximas eleições legislativas acontecem em novembro e renovará totalmente as 435 cadeiras Câmara dos Representantes e dois terços do Senado.
O objetivo dos republicanos é conquistar a maioria no Senado e assumir o controle total do Congresso, o mais polarizado em décadas. EFE
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