Desaparece o sonho da independência escocesa de Alex Salmond
Edimburgo (R.Unido), 19 set (EFE).- Carismático, pragmático e temperamental, o primeiro ministro do governo autônomo da Escócia, o social-democrata Alex Salmond, viu desaparecer por uma margem maior que a esperada seu sonho – a independência escocesa – no referendo de ontem, o que o levou a anunciar nesta sexta-feira sua renúncia.
Na votação, que teve uma participação recorde de quase 85% dos eleitores, segundo a apuração oficial, 55% dos residentes marcaram com um “não” a cédula que perguntava se a Escócia deveria ser um país independente, enquanto quase 45% apoiaram o “sim”.
Após conhecer sua derrota na consulta, o dirigente independentista anunciou que renunciará como líder do Partido Nacionalista Escocês (SNP) e do cargo do governo local, que defendia a ruptura com o Reino Unido.
O veterano político, governante local desde 2007, disse que deixará o posto no congresso anual de seu partido, que será realizado entre 13 e 15 de novembro, quando seu sucessor será eleito. Salmond completou que a região se beneficiará “com uma nova liderança” na fase de negociação com Londres para conseguir mais autonomia.
Com a conquista de uma surpreendente maioria absoluta nas eleições escocesas de 2011, quando foi reeleito, Salmond, de 59 anos, se atreveu a apostar todas as suas fichas em um referendo sobre a independência.
Apesar de ninguém subestimar a capacidade do perseverante político, poucos achavam, neste momento, que ele seria capaz de convencer os escoceses a por fim aos 307 anos de história compartilhada com o Reino Unido.
Mesmo com a derrota, Salmond conseguiu colocar seu nome nos livros de história e garantir o compromisso de que a Escócia terá mais autonomia.
Durante a campanha, seus ataques à “equipe Westminster”, em referência à elite política inglesa, foram constantes. Ele os acusou de “subornar” a Escócia com promessas de última hora para combater seu avanço nas pesquisas sobre a independência.
Salmond nasceu em 1954 na cidade escocesa de Linlithgow, filho de uma mãe conservadora e de um pai trabalhista.
Estudou na Universidade de St. Andrews, onde aprofundou suas enraizadas ideias nacionalistas, e estudou econômia e história.
Após alguns anos de trabalho para o Royal Bank of Scotland, Salmond conseguiu sua primeira cadeira como deputado em Londres em 1979, pelo então dividido Partido Nacionalista Escocês.
Após voltar à Edimburgo em 2005 e assumir o comando de uma organização vista pelos eleitores mais como contrapeso do que como uma opção real de governo, Salmond conseguiu vencer as eleições locais dois anos depois.
Em 16 de maio de 2007 fez história ao se tornar o primeiro nacionalista eleito como primeiro ministro do governo local da Escócia, embora tivesse que governar sem a maioria, sendo impedido de convocar seu prometido referendo de independência no primeiro mandato.
A gestão de Salmond convenceu os escoceses por seu empenho em elevar a voz da região, e enfrentar os partidos de Londres. Além disso, ele propôs medidas muito populares como a gratuidade de remédios e de universidade.
No pleito seguinte, em 2011, venceu com amplo apoio, algo nunca feito antes no recém-criado parlamento escocês, em funcionamento desde 1998.
Sua expansiva faceta política – as aparições públicas e na imprensa são constantes – constrata com uma vida privada discreta.
Salmond é casado há 30 anos com Moira McGlashan, uma mulher 17 anos mais velha que ele, que jamais concede entrevistas nem participa de atividades públicas, mas a quem considera como uma grande aliada.
O casal nunca teve filhos e pouco se sabe sobre a intimidade do popular político.
Salmond exibe sem complexo seu amplo conhecimento da história da Inglaterra e sempre disse que, embora desejasse a Escócia independente do Reino Unido, queria que a rainha Elizabeth II, de 88 anos, continuasse como sua chefe de Estado.
“Acho que vossa majestade, que viu tantos eventos durante seu longo reinado, estará orgulhosa de ser rainha dos escoceses”, afirmou recentemente.
Salmond alega que o petróleo e o gás do Mar do Norte, e o próprio contexto da União Europeia, fazem da Escócia, um território de pouco mais de cinco milhões de habitantes, mais do que autossuficiente. EFE
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