Descoberta na África do Sul uma nova espécie do gênero humano

  • Por Agencia EFE
  • 10/09/2015 10h21
EFE Professor Lee Burger (d) e vice-presidente sul-africano Cryril Ramaphosa (esq.) seguram o crânio do suposto Homo Naledi

Uma equipe internacional de cientistas descreveu pela primeira vez o Homo Naledi, uma nova espécie de hominídeo que tem traços de Australopithecus e que poderia ser o exemplar mais antigo do gênero Homo.

O Homo Naledi foi descoberto em 2013 na câmara Dinaledi da caverna Rising Star da África do Sul (perto de Johanesburgo) e seus restos apareceram entre mais de 1.550 fósseis, o que torna este sítio em um tesouro paleontológico.

Neste local foram encontrados os ossos de 15 indivíduos da mesma espécie, o que permitiu documentar e descrever o esqueleto do Homo naledi com muito detalhe.

A descrição completa desta nova espécie de hominídeo foi publicado nesta quinta-feira na revista “eLIFE”.

“O Homo naledi é um mosaico de características de formas, ou seja, tem um tronco com forma de funil, não em forma de barril como o dos homens atuais, mas parecido com uma pirâmide, um traço próprio do Australopithecus ou dos grandes símios atuais como o chimpanzé”, explicou a Agência Efe o pesquisador do Museu Nacional de Ciências Naturais (MNCN) da Espanha e coautor do estudo, Markus Bastir.

“Além disso, tem um crânio pequeno, com a forma dos primeiros representantes do gênero Homo, como o habilis e o erectus, e uma capacidade craniana muito pequena, aproximadamente um terço do que ocupa nosso cérebro atual”, acrescentou.

No entanto, embora seja muito robusto, e tenha um crânio e um tronco primitivos, suas extremidades são “praticamente iguais às dos humanos modernos”.

Suas mãos têm a capacidade de manejo de objetos que os homens de agora têm, mas seus dedos e falanges são curvos, o que, segundo os especialistas anatômicos, significa que eram adaptados para viver em um habitat arbóreo.

“Ao mesmo tempo, tanto o punho como os ossos da palma das mãos são muito modernos, o que indica que, apesar de não terem sido encontradas ferramentas no sítio arqueológico, com essa anatomia poderiam utilizá-las perfeitamente”, explicou o pesquisador.

“Os pés também são como os nossos, salvo que os dedos são ligeiramente curvos, o que significa que estariam adaptados para viver nas árvores e na terra”.

Em conjunto, este homo, de 1,50 metro e cerca de 50 quilos, tem traços de Australopithecus, mas é mais grácil que esta espécie, o que lhe aproximaria mais dos primeiros da espécie.

Quanto à datação do fóssil, os especialistas ainda não se atrevem a dar uma porque a ausência de outros fósseis animais está complicando a análise, mas “toda uma equipe de paleogeólogos está analisando os sedimentos do sítio para fazer um cálculo aproximado”, explicou Bastir.

No entanto, “baseando-se na morfologia, as análises situam este fóssil entre os primeiros da espécie homo – de cerca de 2,5 milhões de anos – e, se for mais recente (de menos de um milhão de anos), seria a prova da coexistência na África de espécies do gênero Homo muito diferentes entre si”, destacou o pesquisador.

“Estamos diante de uma estupenda oportunidade para obter informação que nos permita reconstruir nossa complexa história evolutiva e esclarecer algumas incógnitas, como determinar se os 15 corpos do local foram colocados deliberadamente por seus congêneres na câmara de Dinaledi”, disse.

Para descobrir todos os segredos desta jazida, o governo da África do Sul organizou em 2014 uma oficina denominada “Rising Star Workshop”, financiado em grande medida pela National Geographic, que permitiu que cientistas de todo o mundo e de todas as especialidades pudessem compartilhar dados.

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