Descoberto elo perdido entre roedores africanos e antepassados asiáticos

  • Por Agencia EFE
  • 07/08/2015 15h57
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Madri, 7 ago (EFE).- Pesquisadores do Museu Nacional de Ciências Naturais (MNCN-CSIC) da Espanha descobriram uma nova espécie de roedor que viveu durante o Mioceno Superior, há nove milhões de anos, e que acabou sendo o elo perdido entre os roedores gundis africanos e seus antepassados asiáticos.

Os gundis são roedores da família Ctenodactylidae, que atualmente só vivem em ambientes desérticos do norte e leste da África, dos quais sobrevivem cinco espécies.

A nova espécie descoberta foi achada no Oriente Médio, onde aparentemente viveu há nove milhões de anos, e foi batizada pelos cientistas do MNCN-CSIC como Proafricanomys libanensis, segundo um artigo publicado na revista “Scientific Reports”.

Os cientistas sabiam que na sua época a espécie esteve mais espalhada, especialmente na Ásia, onde se encontraram restos de seus antepassados que costumavam viver em ambientes mais úmidos.

Os roedores da família Ctenodactylidae são conhecidos desde o final do Oligoceno Inferior (há cerca de 28 milhões de anos) e incluíam 27 espécies distribuídas em 16 gêneros que, no passado, apresentava uma ampla distribuição geográfica que se estendia da China Central até o Noroeste da África.

Os atuais gundis africanos ou ctenodactilídeos são roedores pequenos que, ao contrário de seus representantes asiáticos extintos desde o Plioceno (há aproximadamente quatro milhões de anos), vivem em zonas desérticas e semidesérticas do Norte e do Leste da África.

A diretora da pesquisa, a geóloga especialista em paleontologia de vertebrados que atualmente trabalha na Universidade de Bristol (Reino Unido), Raquel López-Antoñanzas, ressalta que o fato de passar de viver de ambientes mais úmidos para zonas desérticas requeriu um processo de adaptação por parte desta espécie.

Uma adaptação que provavelmente teve a ver com a aparição do deserto do Saara, há aproximadamente sete milhões de anos.

“Graças aos estudos já tinham sido elucidadas as relações de parentesco destes animais de origem asiática, mas os fósseis descobertos resultaram pertencer a uma espécie-chave para descobrir as origens dos gundis africanos”, disse.

Devido às poucas expedições paleontológicas realizadas no Oriente Médio, o registro fóssil da região é muito pouco conhecido.

Por este motivo resulta difícil compreender a evolução das faunas de procedência asiática que, como os gundis, entraram durante o Mioceno na África através da península Arábica e zonas circundantes.

“Até a descoberta desta nova espécie, desconhecíamos os passos evolutivos que tinham resultado no surgimento das morfologias dos gundis africanos, que incluem os únicos representantes atuais”, disse Raquel.

A nova espécie, que compartilha caráteres dentais com os membros mais primitivos da família (asiáticos), assim como com os mais evoluídos (africanos), preencheu esta lacuna de conhecimento.

Os fósseis foram achados graças a uma expedição realizada em 2013 e liderada por Raquel no Líbano, na região fronteiriça com a Síria chamada Beqaa.

O sítio do Mioceno Superior (9 milhões de anos) fica em Zahlé, entre Beirute e Damasco, e corresponde a uma região que, na época, era coberta por um sistema de lagos.

Além do novo gênero de gundi, também foram encontrados outros micromamíferos como ratos, hamsteres, esquilos, espécies de roedores que hibernam e insetívoros, junto com restos de crocodilos, tartarugas e peixes.

“A descoberta é importante porque até agora não tinham sido encontrados restos de micromamíferos no Líbano, havendo um grande desconhecimento sobre a fauna e o meio ambiente nesta região”, disse Raquel em entrevista à Efe.

“A descoberta do Proafricanomys libanensis demonstra a importância crucial de continuar realizando trabalhos de campo no vasto, mas frequentemente descuidado, Oriente Médio”, concluiu a pesquisadora. EFE

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