Desemprego no Brasil recua a 4,3% em dezembro mas cenário é de fragilidade
O desemprego brasileiro caiu a 4,3 por cento em dezembro e igualou a mínima histórica, mas a principal razão para isso foi a menor procura por trabalho, com o mercado dando sinais de esgotamento ao registrar redução de vagas no ano pela primeira vez em uma década.
A taxa de dezembro da Pesquisa Mensal de Emprego (PME) divulgada nesta quinta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) ficou 0,5 ponto percentual abaixo da que foi vista em novembro, e também aquém da mediana das expectativas em pesquisa da Reuters, de 4,6 por cento.
O resultado mensal igualou o menor patamar da série registrado em dezembro de 2013, e com isso a taxa média de desemprego do ano passado ficou em 4,8 por cento, também marcando o menor nível histórico, abaixo dos 5,4 por cento vistos em 2013.
Mas, embora a taxa de desemprego calculada pela PME permaneça em patamares historicamente baixos, o mercado de trabalho brasileiro vem mostrando sinais de exaustão diante da fragilidade da economia, da inflação alta e dos juros elevados.
“Apesar de o número aparentar uma situação melhor, não é. A atividade econômica está fraca e isso se reflete no mercado de trabalho com demissões”, avaliou a economista da Tendências Alessandra Ribeiro.
Além disso, argumentou, “a tendência é que a população economicamente ativa volte para o mercado de trabalho”, aumentando o número de pessoas procurando empregos.
estima aumento da taxa média de desemprego para 6,3 por cento em 2015 diante de uma contração do Produto Interno Bruto (PIB) de 0,5 por cento no ano.
O país criou menos de 400 mil postos de trabalho com carteira assinada em 2014, segundo o Ministério do Trabalho, o pior desempenho em 12 anos, apontando para mais um ano fraco em 2015.
População ocupada
Sinal da fraqueza do mercado de trabalho é que a população ocupada caiu 0,1 por cento em 2014 sobre 2013, primeira queda desde 2004, que é quando o IBGE tem os números disponíveis.
“Pela primeira vez na série da PME houve retração da população ocupada e isso exemplifica o que foi o mercado de trabalho em 2014”, destacou a técnica do IBGE Adriana Beringuy.
Em dezembro a população ocupada diminuiu 0,7 por cento sobre novembro e recuou 0,5 por cento ante o mesmo período do ano anterior, chegando a 23,224 milhões de pessoas.
A queda da taxa em dezembro decorre principalmente da redução na população desocupada, que são as pessoas sem trabalhar mas à procura de uma oportunidade. Esse contingente recuou 11,8 por cento na comparação mensal e caiu 0,9 por cento na base anual, atingindo 1,051 milhão de pessoas.
Historicamente, no fim de cada ano há uma redução na procura de trabalho, principalmente entre Natal e Ano Novo.
No ano passado, o recuo do número de desocupados foi de 10,8 por cento sobre 2013, maior queda desde 2010, quando caiu 15 por cento sobre o ano anterior.
As pessoas que decidiram migrar do mercado de trabalho para a inatividade também exerceram forte influência. A população inativa aumentou em dezembro 2,2 por cento sobre novembro, e subiu 3,5 por cento sobre o ano anterior.
Carteira
O IBGE informou ainda que, em dezembro, a renda média real caiu 1,8 por cento sobre novembro mas avançou 1,6 por cento sobre um ano antes, a 2.122,10 reais. Em 2014 como um todo, a média anual da renda subiu 2,7 por cento sobre 2013.
Por outro lado, o crescimento do emprego com carteira assinada subiu apenas 0,9 por cento no ano passado, menor expansão desde 2004.
“A indústria é o setor que tem mais empregos formais e foi o que dispensou mais em 2014”, disse Adriana, do IBGE.
Pelos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, prevista para substituir a PME, a taxa de desemprego ficou estável em 6,8 por cento no terceiro trimestre de 2014. Os números do último trimestre do ano passado serão publicados em 10 de fevereiro.
Para reverter o quadro econômico e também reconquistar a confiança de investidores, a nova equipe econômica vem anunciando medidas fiscais para reorganizar as contas públicas.
Mas para o economista-chefe do Banco Fator, José Francisco Gonçalves, uma piora na taxa de desemprego neste ano também é inevitável, principalmente diante da perspectiva de elevação elevada, com as estimativas já chegando a 7 por cento no ano.
“A aceleração da inflação vai corroer o salário real, e isso pode fazer com que as pessoas voltem ao mercado de trabalho”, disse ele.
*Rodrigo Viga Gaier e Camila Moreira
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