Desgastado, Peña Nieto terá futuro de 2ª metade de mandato definido nas urnas
Paola Martínez Castro.
Cidade do México, 4 jun (EFE).- As eleições do próximo domingo no México, que renovarão 1.996 cargos públicos, serão decisivas para a segunda metade do mandato de Enrique Peña Nieto, um presidente muito elogiado por suas reformas, mas desgastado pelo desaparecimento de 43 estudantes em Iguala, um caso que ganhou repercussão mundial.
Esta é uma das maiores eleições da história do México, já que coincidem com a renovação da Câmara dos Deputados federal com a escolha dos governadores de nove estados (Baja Califórnia Sul, Campeche, Colima, Guerrero, Michoacán, Nuevo León, Querétaro, San Luis Potosí e Sonora).
Nesses estados também haverá eleições locais e será renovado o Congresso, assim como no Distrito Federal, no Estado do México, e em Guanajuato, Jalisco, Morelos, Tabasco e Yucatán.
O presidente do órgão eleitoral, Lorenzo Córdova, afirmou que o México põe em jogo seu “futuro democrático” nestas eleições, que considera as “mais complexas” do país devido às ameaças de boicote em Guerrero e em Oaxaca e à insegurança em grande parte da geografia nacional.
Na opinião do especialista em processos políticos, Víctor Alarcón, a campanha “foi muito pobre em propostas” e não conseguiu despertar o interesse dos cidadãos, exceto em casos muito pontuais.
Entre eles está o de Nuevo León, estado mais importante em disputa, por seu tamanho e riqueza, onde pela primeira vez um candidato independente – Jaime Rodríguez, “o Bronco” – pode se tornar em governador, o que significaria um duro golpe ao Partido Revolucionário Institucional (PRI), atualmente na presidência.
Uma das novidades do processo é justamente a participação dos candidatos independentes (22 nesta ocasião), graças à reforma político-eleitoral aprovada em 2014, que também abriu a porta para a igualdade de gênero nas candidaturas entre deputados estaduais e federais.
Guerrero, no sul do país, também chama a atenção pela “efervescência social” gerada pelo desaparecimento de 43 estudantes em Iguala há oito meses, provocado por autoridades corruptas e membros do crime organizado, explicou Alarcón à Agência Efe.
Ele também destacou que Michoacán, por causa da violência provocada pelos cartéis das drogas, assim como em Guerrero, pode gerar dificuldades no dia 7 de junho.
Segundo Alarcón, professor da Universidade Autônoma Metropolitana (UAM), os partidos de oposição não mostraram em campanha como podem provocar uma mudança de rumo.
O conservador Partido Ação Nacional (PAN) e o esquerdista Partido da Revolução Democrática (PRD) continuam “presos na inércia que o Pacto pelo México deixou”, o que os impedia de gerar ataques mais frontais ou propostas atraentes.
Esse acordo assinado pelas três principais formações em dezembro de 2012 permitiu a Peña Nieto realizar reformas em setores-chave para o país, como o de energia e o de telecomunicações, e projetar ao mundo uma imagem do México em transformação.
Mas o otimismo veio abaixo após o desaparecimento forçado de 43 estudantes da Escola Normal Rural de Ayotzinapa – um caso que consternou o mundo e gerou um movimento para exigir justiça em um país que tem mais de 22 mil pessoas desaparecidas – e escândalos sobre supostos conflitos de interesse de seu entorno mais próximo.
Neste cenário, Alarcón acredita que o PAN pode “fazer uma surpresa” em estados como Querétaro, San Luis Potosí, Baja Califórnia Sul e talvez Michoacán, onde a corrida está muito fechada com o PRI.
Se conseguir estas vitórias, apontou, haveria uma recuperação de estados por esta força, que perdeu espaços nas eleições de 2012 desgastada por dois mandatos consecutivos, e o retorno a um bipartidarismo mais efetivo.
No entanto, apontou Alarcón, é possível que isso não seja suficiente “para fazer um contrapeso significativo ao PRI na Câmara dos Deputados”, onde atualmente tem 113 cadeiras, contra 214 do partido governante.
Se o PRI conquistar “um peso importante na câmara”, isso permitirá a Peña Nieto fazer pressão para conseguir “algum nível de implementação das reformas no restante de seu mandato”, previu.
Em relação aos estados, exceto Campeche e Guerrero, onde o PRI pode tomar o governo de um PRD abalado pelo caso Iguala, os cenários “não são muito encorajadores” para este partido nas eleições, que servirão para avaliar a primeira metade do mandato de Peña Nieto, indicou.
De acordo com as pesquisas, no melhor dos cenários o PRI obterá 30% dos votos, uma perda “muito grande” (cerca de 10 pontos percentuais) em relação às eleições de 2012.
Segundo Alarcón, isso seria uma amostra de uma “insatisfação muito significativa” da população, o que leva a cogitar que a disputa presidencial de 2018 terá pelo menos três importantes candidatos, um independente, outro da oposição e o do governo. EFE
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