Despejo de sem-tetos de hotel provoca novos conflitos no centro de São Paulo
(Atualiza com novos distúrbios e número de detidos).
São Paulo, 16 set (EFE).- A reintegração de posse nesta terça-feira de um hotel abandonado onde viviam 200 famílias há quatro meses no centro de São Paulo gerou uma série de conflitos entre integrantes da Frente de Luta por Moradia (FLM), uma organização de defesa dos sem-teto, com a polícia.
A confusão começou ainda pela manhã, quando o batalhão de choque da Polícia Militar (PM) se posicionou para cumprir a reintegração no edifício de 22 andares que fica no cruzamento da Avenida Ipiranga com a São João.
O hotel estava abandonado há uma década e foi ocupado por famílias da FLM. Com a ação da polícia, que utilizou gás lacrimogêneo e balas de borracha, os ocupantes saíram correndo para a rua e muitos jovens reagiram atirando pedras contra os agentes.
Pelo menos 70 pessoas foram levadas para uma delegacia para prestarem depoimento por sua participação no confronto, informou a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, que não detalhou se os mesmos já foram libertados.
“Houve uma reunião de reintegração há 15 dias e o combinado era vir 40 caminhões (de mudança) e 120 carregadores para tirar todos os pertences, mas vieram 13 caminhões. Avisamos ao oficial da polícia que não havia as condições necessárias para a retirada dos pertences, mas o capitão disse que eles iam entrar de um jeito ou de outro”, disse à Agência Efe Silmara Congo, Coordenadora da FLM.
Depois da operação de reintegração de posse do edifício, um ônibus urbano foi incendiado em frente ao Teatro Municipal, que fica próximo do hotel.
A polícia utilizou balas de borracha e gás lacrimogêneo para dispersar os grupos que resistiam à ação. Muitos deles se aproveitaram da confusão para causar danos no mobiliário urbano e promover saques a várias lojas que tinham fechado suas portas.
Segundo a assessoria de imprensa da polícia, várias pessoas que não faziam parte do grupo de sem-tetos que ocupavam o antigo hotel “se aproveitaram” da desordem para “atacar” a polícia atirando objetos.
Apesar de a situação ter se aclamado por algumas horas, as lojas tiveram que fechar novamente suas portas depois que foram registrados novos distúrbios por volta das 16h30.
Alguns manifestantes depredaram pelo menos um ônibus, lançaram pedras e incendiaram barricadas para impedir a passagem da polícia, que voltou a reagir com o uso de gás lacrimogêneo.
Pelo menos quatro policiais ficaram feridos durante os distúrbios ao longo do dia e uma mulher grávida também necessitou de atendimento médico, afirmou aos jornalistas o coronel Glauco Silva de Carvalho, oficial da PM que comandou a operação.
O centro de São Paulo, segundo a FLM, é hoje refém da especulação imobiliária, e vários de seus edifícios históricos foram abandonados.
O déficit de moradia em São Paulo era, em 2013, de 670 mil domicílios, de acordo com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Urbano. EFE
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