Difícil de combater, Estado Islâmico já deixou mais de 720 mortos em 2015; entenda as origens do grupo

  • Por Daniel Keny/Jovem Pan
  • 16/11/2015 17h04

Os atentados na capital francesa deixaram 129 mortos; Estado Islâmico afirmou que os ataques foram uma represália aos bombardeios em território sírio

Folhapress Ataques em Paris

Os ataques ocorridos em Paris na última sexta-feira (13), reivindicados pelo Estado Islâmico, deixaram pelo menos 129 mortos e 350 feridos. A ação está entre as mais mortais que já aconteceram em solo europeu, mas, infelizmente, é mais uma dentre tantas obras do grupo em 2015. 

Somente nesse ano, o grupo terrorista já reivindicou a autoria de mais de 720 mortes em atentados. O número pode ser ainda maior, pois, em alguns casos, o números de mortos não é oficial. Além disso, as execuções são difíceis de serem mensuradas, pois nem todas são noticiadas pela mídia internacional. O que impressiona no modo de operação do grupo é a crueldade. Muitas das execuções envolvem tortura psicológica e física; marca registrada do grupo, algumas são filmadas em imagens de alta resolução e transmitidas via internet. 

Segundo Cristina Pecequilo, professora de relações internacionais da UNIFESP, é difícil prever o que ocorreu na França. “Os ataques não foram complexos, era um pequeno grupo de terroristas formado por homens-bomba e atiradores. Justamente esse tipo de terrorismo é difícil de combater, pois atinge o cotidiano. Os serviços de espionagem podem até detectar as ameaças, mas não têm como cobrir todas as áreas onde podem ocorrer ataques. É uma prática de guerrilha, a luta do mais fraco contra aquele que é aparentemente mais forte”, avalia.

Em comunicado publicado na internet, o Estado Islâmico afirmou que os ataques seriam uma resposta aos “bombardeios contra os muçulmanos em terras do califado”, região que compreende territórios do Iraque e da Síria controlados pelo grupo terrorista. Mesmo em estado de alerta após o atentado contra o jornal satírico Charlie Hebdo, no início do ano, as agências de segurança francesas não conseguiram evitar a carnificina em Paris.

Além dos recentes atentados, o Estado Islâmico vem recebendo destaque da mídia por conta dos sequestros e execuções brutais que comete. Mas quais são os seus objetivos? Como se estruturam? Quem são seus inimigos? Entenda:

As origens

O grupo jihadista cresceu como um braço da Al-Qaeda no Iraque. No entanto, hoje não possui ligação com a organização fundada por Osama bin Laden. Em 2010, passou a ser liderado por Abu Bakr al-Baghdadi (foto), responsável por iniciar a guerra civil na Síria, em 2011, e batizar o grupo como “Estado Islâmico do Iraque e do Levante” (ISIS, na sigla em inglês). Em junho de 2014, já militarmente fortalecido, Abu Bakr conquistou Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, mudou o nome do ISIS para Estado Islâmico e autoproclamou seu califado (título dado aos antigos sucessores de Maomé, que possuíam autoridade política legitimada pela religião islâmica).

O que pretende?

O EI concentra suas atividades no Iraque e na Síria. Já conquistou territórios no Norte e Oeste do Iraque, além das áreas habitadas pelos curdos, e busca estabelecer o domínio da fronteira com a Síria, onde enfrenta o regime de Bashar al-Assad. “Como diz o nome, eles querem construir um Estado islâmico que agregue a Síria e o Iraque, querem tomar o comando político. Atentados como o da França fazem parte da política de invasão e reforçam esse objetivo, além de causar pânico nas populações atacadas e pressão nas autoridades”, explica Cristina Pecequilo.

Quem financia?

O petróleo é a principal fonte de recursos do EI. Com a venda de 48 mil barris por dia para Síria e Iraque, o grupo fatura de 1 a 3 milhões de dólares diariamente, segundo a organização Council on Foreign Relations (CFR). Cristina revela outras fontes de renda do grupo terrorista. “Apesar de ser difícil de comprovar, é sabido que eles ganham ilicitamente com tráfico de drogas e de antiguidades”. Saques, extorsão e cobrança de impostos nas regiões que controlam também rendem lucros ao EI.

Quem são os inimigos?

Em setembro de 2014, Barack Obama anunciou a formação de uma coalizão de aproximadamente 60 países na luta contra o EI. As forças americanas lideram os ataques aéreos na Síria, mas o jornal inglês The Guardian noticiou neste sábado (14) que a França tem sido a nação mais ativa da aliança militar e já teria realizado cerca de 271 ataques aéreos contra a Síria. Países como Turquia, Arábia Saudita, Alemanha, Catar, Reino Unido e Rússia são outros que integram a coalizão.

Aliados estrangeiros

De acordo com autoridades do Exército americano, em levantamento feito em fevereiro, cerca de 3.400 dissidentes ocidentais, a maioria jovens, juntaram-se aos combatentes do EI na Síria e no Iraque nos últimos anos. “A adesão dos ocidentais a este tipo de movimento fundamentalista e xenófobo nasce de uma insatisfação com a própria situação na sociedade. São desempregados, discriminados, jovens em busca de aceitação que buscam respostas em grupos como o Estado Islâmico sem necessariamente ter identificação religiosa ou política”, explica a professora da UNIFESP.

Principais ataques em 2015

13 de novembro, França – a série de ataques na capital francesa deixou 129 mortos e 350 feridos, 80 em estado grave.

12 de novembro, Líbano – um atentado reivindicado pelo EI contra uma base do Hezbollah (movimento xiita libanês que apoia o regime de Bashar al-Assad na Síria) provocou 44 mortes.

31 de outubro de 2015, Egito – o avião que caiu na península do Sinai, com 224 pessoas, a maioria turistas russos, ainda tem as causas da queda investigadas. Mas o EI reivindica ato terrorista.

10 de outubro de 2015, Turquia – um atentado suicida deixou 102 mortos e 500 feridos em Ancara, onde milhares de pessoas se reuniam em uma manifestação pela paz. Segundo as autoridades turcas, o ataque foi organizado pelo Estado Islâmico.

26 de junho de 2015, Tunísia, França e Kuwait – mais de 60 pessoas morreram em três ataques diferentes reivindicados pelo Estado Islâmico.

7 a 9 de janeiro de 2015, França – o ataque feito pelos irmãos Saïd e Chérif Kouachi ao jornal satírico Charlie Hebdo deixou 12 mortos e 5 feridos. No mesmo dia, Amedy Coulibaly, um francês muçulmano, matou a tiros uma policial na periferia de Paris e no dia seguinte invadiu um supermercado judeu, onde deixou mais quatro mortos. O francês era membro do Estado Islâmico.

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