Diplomata que testemunhou rompimento com Cuba “volta para casa” após 54 anos

  • Por Agencia EFE
  • 12/08/2015 20h01
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Washington, 12 ago (EFE).- Quando Wayne Smith saiu de Havana em 1961, apostou com o resto dos diplomatas americanos que retornaria a Cuba em menos de cinco anos. Mais de meio século depois, a cerimônia desta sexta-feira será para ele como uma “volta para casa”, algo esperado durante toda a vida.

Smith estava a menos de três anos trabalhando na representação diplomática dos Estados Unidos em Havana quando ambos os países romperam suas relações. Mais tarde, foi chefe do Escritório de Interesses americano em Cuba, acadêmico e, antes de tudo, defensor da necessidade de diálogo entre os inimigos da Guerra Fria.

Nesta sexta-feira, Smith estará presente na cerimônia de hasteamento da bandeira americana na embaixada do país em Havana durante a visita de John Kerry, a primeira de um secretário de Estado dos EUA a Cuba em 70 anos.

“Será um momento muito emotivo. Quase como voltar para casa”, disse o ex-diplomata, de 82 anos, em entrevista à Agência Efe.

Smith seguiu vinculado a Cuba ao longo da carreira. E ainda visita a ilha entre duas a três vezes ao ano.

“Lembro quando (em 1961) ia em um ônibus junto ao restante do pessoal da embaixada rumo ao ferry que nos levaria aos EUA. Falávamos do fechamento da embaixada e todos nós pensávamos que demoraria talvez quatro ou cinco anos para voltarmos, não mais que isso. E demoramos 54 anos! É inconcebível”, afirmou.

Smith foi um dos poucos diplomatas americanos que conseguiu ter uma boa relação com o ex-presidente cubano Fidel Castro e seu irmão Raúl porque “sempre deixou claro o que pensava” nos diálogos.Em 1982, Smith deixou o Departamento de Estado após três anos como chefe do Escritório de Interesses, transformado agora na embaixada americana em Havana. O republicano Ronald Reagan, que tinha chegado ao poder em Washington, “não queria nenhuma melhoria nas relações com Cuba”.

“Fidel Castro organizou um almoço de despedida para mim. Disse a ele que eu claramente não estava de acordo com a política que estávamos seguindo. Por isso, deixaria a diplomacia”, lembrou.

“Todos esses anos, desde 1982 até 2014, me dediquei a impulsionar a ideia do diálogo, levei delegações a Cuba, escrevi artigos e convidei cubanos aos EUA”, acrescentou o ex-diplomata, que também foi professor da Universidade Johns Hopkins.

Na véspera do histórico anúncio dos presidentes dos EUA, Barack Obama, e de Cuba, Raúl Castro, em dezembro do ano passado, Smith compareceu em Havana a um ato de homenagem a sua carreira. No evento, defendeu mais uma vez a necessidade do restabelecimento das relações diplomáticas entre os dois países.

“Na manhã seguinte, Obama e Castro anunciaram que iam dar alguns passos que eu tinha mencionado. Várias pessoas disseram que eu devia ter muita influência. Que nada! Eu não tinha ideia do anúncio”, lembrou entre risos.

Smith viu Fidel Castro pela última vez em 1982. A lembrança que tem é de um “homem brilhante” com quem tem “grandes diferenças”, mas que sempre se mostrou disposto a falar sobre elas e manter “conversas úteis”.

De Raúl Castro, o diplomata se recorda da pergunta feita pelo atual mandatário cubano quando deixava Havana, em 1982: “Wayne, diga-me, por que é tão difícil que tenhamos um diálogo?”.

No final dos anos 70, Smith liderou o Departamento de Estado nas negociações para estabelecer os escritórios de interesses nas respectivas capitais. O diplomata afirma ter certeza que o ex-presidente Jimmy Carter (1977-1981) queria retomar as relações com Cuba, mas “algum membros de sua equipe rejeitavam a ideia”.

“No início dos anos 60, o México era o único país do continente que tinham relações com Cuba. Em 2014, nós éramos os únicos que não tínhamos. Estávamos completa e embaraçosamente isolados”, destacou.

A visita de Kerry a Havana será um passado “extremamente importante” na normalização das relações, indicou Smith, apesar de destacar que muitos assuntos difíceis ainda precisam ser resolvidos. Entre eles o fim do embargo, a situação da base naval de Guantánamo e as exigências econômicas de ambas as partes.

“Estamos apenas começando a trabalhar. Mas, pelo menos, finalmente podemos dialogar”, indicou.

Smith não será a única testemunha da ruptura de relações que verá o ciclo se encerrar nesta sexta-feira: os três fuzileiros navais que retiraram a bandeira americana em 1961 também viajaram a Havana para presenciar o momento histórico que marca o retorno das relações diplomáticas entre os dois países. EFE

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