Direito a morte digna volta ao centro do debate nos Estados Unidos

  • Por Agencia EFE
  • 03/11/2014 10h39

Marc Arcas.

San Francisco, 2 nov (EFE).- O caso de Brittany Mainard, a jovem doente terminal que planejou seu final com suicídio assistido e que morreu no sábado, comoveu a opinião pública dos Estados Unidos e reabriu o debate sobre o direito a uma morte digna.

Desde que Brittany anunciou em um vídeo que planejava interromper sua vida nos próximos meses, antes de o tumor cerebral diagnosticado tirar todas as funções de seu corpo, a mídia e as redes sociais se transformaram em um fervedouro de mensagens de apoio e críticas ao suicídio assistido.

Brittany, de 29 anos, havia adiado na semana passada a data de sua morte, inicialmente planejada para 1º de novembro, para passar mais tempo com sua família e amigos. No entanto, segundo a ONG “Compassion & Choices (Compaixão e Escolhas)”, ela morreu no sábado, a primeira data escolhida, e deixou uma mensagem de despedida.

“Adeus a todos meus queridos amigos e à família que amo. Hoje é o dia que escolhi para morrer com dignidade diante de minha doença terminal, este câncer cerebral terrível que me tirou tanto, mas que teria me tirado muito mais”, escreveu em seu perfil no Facebook.

Atualmente o suicídio assistido – a entrega para pessoa que deseja terminar com sua vida do material necessário para realizá-lo, só é legal em só cinco estados americanos.

Por isso a jovem, que morava em Oakland, na Califórnia, se mudou junto com seu marido para o Oregon, que permite a prática.

“Espero estar rodeada pela minha família: meu marido, minha mãe, meu padrasto e minha melhor amiga, que é médica. Morrerei em casa, na cama que divido com meu marido, e partirei em paz, com a música que gosto ao fundo”, explicou Brittany em um vídeo.

Embora no Oregon a Lei da Morte Digna tenha sido aprovada em 1997 e reivindicada por mais de 1.100 pessoas (das quais somente 750 a utilizaram), o caso de Brittany despertou uma incomum atenção midiática por dois motivos: sua idade e a decisão de expô-la na internet.

A jovem se transformou em ativista a favor do direito a uma morte digna e criou o Fundo Brittany Mainard, além de um site onde publica vídeos em que explica suas decisões e motivos.

“Quando a princesa Diana de Gales morreu em um acidente de trânsito, se transformou em uma figura citada de forma habitual nos discursos de promoção da segurança viária. Brittany conscientemente usa sua situação para se transformar na face pública de um movimento que precisa receber mais atenção”, opinou o “The Daily Beast”.

No entanto, a decisão de Brittany também tem fortes críticos.

“Acho que os cuidados paliativos são a melhor opção para a maioria dos doentes terminais em vez do suicídio assistido”, indicou o cardiologista Sandeep Jaouhar em uma coluna de opinião publicada no site da “CNN”.

Para ele, “o hospital para doentes terminais permite o cuidado com o envolvimento da família, muitas vezes na própria casa do paciente, e foca em lidar com a dor e permitir morrer com conforto e dignidade”.

“Ao contrário dos cuidados paliativos, o suicídio assistido é uma decisão final e irreversível”, lembrou.

Em janeiro deste ano, pouco mais de um ano após se casar, Brittany foi ao médico por causa dos fortes dores de cabeça que sentia e teve diagnosticado um tumor cerebral de grande agressividade.

O câncer avançou rapidamente e os especialistas a informaram que só restavam alguns meses de vida, e explicaram como seria o desenvolvimento da doença, que causa um grande e prolongado sofrimento antes da morte.

Segundo uma pesquisa do centro Pew, os americanos estão divididos sobre o direito a uma morte digna: 47% defendem o suicídio assistido e 49% são contra. EFE

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