Diretor de “Le Monde diz que críticas não mudarão rumo do jornal

  • Por Agencia EFE
  • 13/02/2015 14h49

Paris, 13 fev (EFE).- O diretor de redação do “Le Monde”, Gilles van Kote, disse nesta sexta-feira para a Agência Efe que as críticas feitas por um dos principais acionistas do jornal, Pierre Bergé, em função da publicação da “Lista Falciani” pelo diário não mudarão a maneira como a publicação é feita.

A redação “tem um estatuto que nos dá o controle sobre o conteúdo editorial do jornal, isso não vai mudar porque um acionista não concorda”, afirmou Van Kote.

“Bergé sempre desconfiou do jornalismo de investigação, não gosta muito dessa palavra, mas para nós a investigação, a exclusiva, estão na alma do jornalismo”, considerou.

O multimilionário Pierre Bergé, um reconhecido filantropo, dono de parte de “Le Monde” e ex-companheiro do costureiro Yves Saint-Laurent, criticou nesta semana a publicação de nomes de proprietários de contas na unidade suíça do banco HSBC que apareciam na lista obtida pelo técnico em computação franco-italiano Hervé Falciani.

“Não é para isso que permiti que obtivessem sua independência. São métodos que reprovo”, declarou Bergé para a emissora “RTL”. Em 2010, o milionário salvou o “Le Monde” da quebra.

Van Kote, nomeado diretor de redação de forma provisória em maio do ano passado, lamentou que a polêmica gerada tenha deixado em segundo plano o trabalho realizado pelos jornalistas.

“É uma lástima que algumas declarações possam ofuscar uma investigação de uma precisão nunca igualada, que é o mais importante”, refletiu.

Apesar disso, ele se mostrou “aberto ao debate” sobre a conveniência ou não de divulgar este tipo de informação.

Van Kote disse não ter falado diretamente com Bergé, mas admitiu que trocou mensagens explicitando suas posições.

Ontem mesmo, o acionista enviou uma mensagem para a redação para lembrar “que só estava expressando um ponto de vista pessoal”, segundo o diretor, que preferiu não falar de “intromissão” de Bergé no trabalho do diário, como foi dito pela Sociedade de Redatores.

O “Le Monde” decidiu não divulgar mais nomes além dos que já foram anunciados, disse Van Kote, pois os que já foram publicados “eram de personagens públicos ou pela quantidade de fundos que tinham nas contas”.

O vazamento de Falciani permitiu identificar aproximadamente 106 mil proprietários de contas, de cerca de 200 países, na unidade suíça do HSBC, além de 20 mil sociedades em paraísos fiscais, por onde passaram 180,6 bilhões de euros.

O escândalo levou países como França e Bélgica a anunciar medidas legais contra o banco britânico, enquanto nos meios de comunicação continuam a aparecer nomes de pessoas que poderiam ter abertos contas para burlar a receita. EFE

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