Documentário sobre Snowden recebe aplausos e críticas em estreia nos EUA

  • Por Agencia EFE
  • 27/10/2014 10h19

Teresa Bouza.

San Francisco, 27 out (EFE).- O documentário sobre Edward Snowden, “Citizenfour”, recebeu aplausos e críticas durante sua estreia neste fim de semana nos cinemas dos Estados Unidos, um país dividido entre os que o consideram um herói e os que o tacham de traidor.

O filme, dirigido pela jornalista americana Laura Poitras, começa com uma imagem difusa em um túnel de dentro de um veículo em movimento.

Poitras, que atualmente vive em Berlim, relata como começaram a detê-la de forma rotineira nos aeroportos dos EUA quando começou a fazer documentários sobre os abusos do governo e lembra como, em 2013, recebeu uma comunicação eletrônica anônima de um indivíduo com o pseudônimo de “citizenfour”.

“Você pergunta por que te escolhi. Não fiz isso. Você fez”, dizia uma das mensagens de Snowden a Poitras, que a diretora, que não aparece em nenhum momento na tela, lê em voz alta.

“A vigilância que sofreu fez com que fosse selecionada. Saiba que cada fronteira que atravessar, cada compra que fizer, cada telefonema, cada torre de telefonia celular pela qual passar, os amigo que tiver, os artigo que escrever, estão nas mãos de um sistema cujo alcance é ilimitado”, afirmava o ex-funcionário terceirizado da inteligência americana.

Snowden, asilado na Rússia após protagonizar um vazamento em massa de documentos confidenciais da Agência de Segurança Nacional (NSA), convidou Poitras e o jornalista britânico Glenn Greenwald, para se reunirem com ele em Hong Kong para revelar as informações que descobriu sobre a espionagem em massa dos Estados Unidos a cidadãos e outros governos.

Os telespectadores podem observar como se desenvolveu esse encontro que durou de 3 a 10 de junho de 2013 no quarto 1014 de um hotel de Hong Kong, onde um pálido, às vezes temeroso e profundamente convicto Snowden confia a Poitras, Greenwald e ao também jornalista britânico do “Guardian”, Ewen MacAskill, sua história.

O documentário inclui momentos tensos, como quando o alarme de incêndios do hotel põe em alerta um visivelmente nervoso Snowden, que aparece mais magro e cansado no final do filme.

“Citizenfour” insiste na coragem e no idealismo de Snowden diante das “forças tenebrosas e malignas que o espreitam,” o que fez com que o jornal “The New York Times” qualificasse o documentário de “parcial e partidário”, mesma linha da crítica de David Edelstein, da “New York Magazine”.

O “NYT” lembrou que vários jornalistas que cobrem temas de segurança e tecnologia como Fred Kaplan, da revista “Slate”, e Michael Cohen, ex-jornalista do “Guardian”, criticaram as omissões e simplificações do filme.

Esses comentários, disse o jornal, mostram o desejo de chegar a um ponto médio, um equilíbrio entre o direito do público de saber e a necessidade do governo de colher informação de inteligência na luta global contra o terrorismo.

Apesar das críticas, o “NYT” destacou que “Citizenfour” evoca, como poucos filmes até agora, a presença invisível e onipresente do Estado moderno, uma abstração com enormes recursos coercitivos ao alcance.

Para o jornal estamos simplesmente começando a entender o alcance e as repercussões da coleta em massa de dados pelo governo e classificou os questionamentos levantados por Poitras de “aterrorizantes”.

Com sua combinação de timidez, determinação e inteligência despretensiosa, Snowden se tornou não só um personagem “fascinante, mas também familiar”, um americano qualquer.

“Citizenfour” revela que a namorada de Snowden, que vivia com ele no Havaí quando o ex-analista começou a acessar os documentos secretos, vive agora com ele na Rússia.

Snowden, de 31 anos, voou do Havaí a Hong Kong em maio de 2013 e obteve asilo na Rússia em agosto do ano passado.

Ele é acusado pelos Estados Unidos de violação da Lei de Espionagem e de roubo de propriedade do governo, acusações pelas quais pode ser condenado a até 30 anos de prisão. EFE

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