Dólar inverte tendência de queda e fecha a R$ 5,39; Bolsa sobe 3%
Apesar do clima de otimismo gerado pelas eleições nos EUA e esperança de vacina, indefinições na agenda econômica nacional farão moeda subir nos próximos dias
O mercado financeiro viveu um dia de otimismo nesta segunda-feira, 9, no primeiro pregão após o democrata Joe Biden ser apontado como o próximo presidente dos Estados Unidos. Além do resultado das urnas, os investidores receberam uma dose extra de ânimo depois que a Pfizer anunciou que a sua vacina registrou 90% de eficácia contra o novo coronavírus. O imunizante, desenvolvido em parceria com a BioNTech, ainda passará por novos estudos. O bom humor com o cenário externo manteve o dólar em baixa durante quase todo o dia, chegando a mínima de R$ 5,225. A divisa inverteu o sinal no meio da tarde, repondo parte das perdas acumuladas na manhã, mas fechou com leve queda de 0,04%, cotada a R$ 5,391. O noticiário internacional também impulsionou a Bolsa de Valores brasileira. O Ibovespa, principal índice da B3, encerrou o pregão com alta de 3,01%, aos 103.959 pontos. Este é o melhor desempenho do mercado de ações brasileiro desde 6 de agosto, quando o Ibovesta acumulou 104.125 pontos.
Os investidores se mostraram mais propensos ao risco desde que as primeiras prévias apontaram para o equilíbrio de poder nos EUA, com a vitória de Biden para a Casa Branca e a maioria republicana no Senado. Na semana passada, a divisa fechou em R$ 5,392, com recuo de 2,74%. Este foi o menor valor desde 18 de setembro, quando o dólar encerrou a R$ 5,376. Desde então, a moeda engatou altas seguidas e chegou a passar a barreira dos R$ 5,80. O bom humos observado nos últimos dias não deve perdurar, dizem analistas do mercado, e logo o entusiasmo gerado pela vitória do democrata será superado pelas incertezas trazidas pela agenda econômica brasileira. Para André Perfeito, economista-chefe da Necton Investimentos, a moeda norte-americana alcançou o piso nesta segunda, e agora deve seguir a tendência de alta observada nos últimos meses. “O mercado está atento ao ritmo das reformas, principalmente nas que trazem controle fiscal. O governo não conseguiu decidir ainda o orçamento para o ano que vem, e tudo isso vai entrar cada vez mais no radar dos investidores”, afirma.
A morosidade e falta de perspectiva em fazer andar as Propostas de Emenda Constitucional (PECs) Emergencial e do Pacto Federativo, além da reformulação do sistema tributário e administrativo, são apontados como as principais fontes de estresse no mercado financeiro. A paralisação das atividades parlamentares por conta das eleições municipais joga ainda mais para frente as pautas do Ministério da Economia, levando os investidores a acreditar que os debates só serão retomados em 2021. “Há debates importantes, como a lei do gás e da cabotagem. Mas não são temas estruturantes. Ainda há muita dúvida se depois das eleições o governo irá conseguir pautar essas reformas”, diz Perfeito.
A mesma opinião é compartilhada por Sérgio Vale, economista-chefe da MB Associados. Na avaliação do especialista, o dólar vai continuar pressionando o real até o início do próximo ano, enquanto o governo não aponta uma direção firme na resolução da agenda de gastos públicos. “Passada a euforia com o Biden, vamos voltar para a nossa dura realidade doméstica, e gradativamente o câmbio vai voltar a se depreciar”. A extrema sensibilidade do mercado financeiro a insegurança das contas pública do governo federal deve se acentuar ao longo das próximas semanas, enquanto o ano encaminha para o encerramento e o ritmo de reformas não engrena. “Olhando para frente, o cenário doméstico continua sendo muito relevante. A piora fiscal já está contratada para o ano que vem, e é um elemento que fará a taxa de câmbio desvalorizar ainda mais”, afirma Vale.
Comentários
Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.