Dúvidas marcam o início da negociação sobre o programa atômico iraniano

  • Por Agencia EFE
  • 18/02/2014 18h42

Luis Lidón e Antonio Sánchez.

Viena, 18 fev (EFE).- O Irã e as grandes potências mundiais começaram nesta terça-feira em Viena uma rodada de contatos para conseguir um acordo definitivo que garanta o caráter pacífico do programa atômico iraniano, em negociações marcadas pelo bom ambiente, mas sem calendários nem garantias sobre seu êxito.

A chefe da diplomacia europeia, Catherine Ashton, em nome do Grupo 5+1 (G5+1, integrado por Estados Unidos, Rússia, China, Reino Unido, França e Alemanha), presidiu hoje a primeira reunião negociadora com o ministro das Relações Exteriores iraniano, Mohamad Yavad Zarif.

O encontro começou com uma breve reunião plenária e continuou depois com encontros bilaterais, entre eles um que sentou na mesma mesa a subsecretária de Estado dos EUA para Assuntos Políticos, Wendy Sherman, e o vice-ministro das Relações Exteriores iraniano, Seyed Abbas Araqchi, segundo fontes americanas.

Estados Unidos e Irã não têm relações diplomáticas desde a queda do Xá Reza Pahlevi e a chamada “crise dos reféns” de 1979.

Após esses contatos, todos os países envolvidos voltaram a reunir-se em um novo encontro plenário.

As conversas se desenvolveram em “um bom ambiente”, de acordo com o porta-voz de Ashton, Michael Mann, que rebaixou as expectativas ao afirmar que “seria ingênuo” pensar em que um acordo possa ser fechado em curto prazo e advertiu que o processo será “intenso e difícil”, mas destacou a boa vontade que existe.

Mann detalhou que nos contatos em Viena, que devem durar até quinta-feira, se buscará simplesmente “criar um marco de trabalho para as negociações dos próximos meses”.

Fontes diplomáticas americanas e iranianas também sublinharam que nestes primeiros compassos se centrarão mais nas formas dos encontros que em começar o assunto sobre a verdadeira disputa: quão grande e avançado deve ser o programa atômico do Irã.

Araqchi reconheceu perante os jornalistas que a reunião tinha começado bem e que o tom dos contato tinha sido construtivo.

Apesar do bom começo, as posições negociadoras se encontram muito afastadas, já que o G5+1 espera que Teerã limite muito seu programa nuclear, em troca de pôr fim às sanções que estrangulam a economia do país.

Limites que buscam um objetivo muito ambicioso, nas palavras de Mann, e que não é outro que o Irã demonstre “de forma inequívoca à comunidade internacional que tem um programa nuclear pacífico”.

“Isso tem que estar provado e ser verificável. Se isso ocorrer, o Irã poderá ser tratado como qualquer país signatário do Tratado de Não-Proliferação Nuclear. Esse é o objetivo do processo, mas, certamente, há muito trabalho pela frente”, destacou.

O Irã, por sua parte, deixou claro que esse processo tem suas linhas vermelhas e que o país nem fechará instalações nem suspenderá seu programa atômico.

“Desmantelar o programa nuclear não está na agenda (de negociações)”, sentenciou Araqchi.

Um dos grandes obstáculos para conseguir um acordo são as diferenças sobre o reator em construção de Arak, no oeste do Irã, e que pode gerar plutônio.

Fontes diplomáticas americanas deixaram claro em Viena que pretendem que o Irã transforme esse reator nuclear de água pesada em um de água leve, “mais próprio” de um programa nuclear civil.

Os reatores de “água leve” também geram eletricidade, mas não estão projetados para produzir plutônio, um material de uso duplo, civil e militar.

Além das divergências técnicas, o Irã lembrou que um problema de fundo é a desconfiança que, apesar da aproximação dos últimos meses, segue pairando sobre as relações entre Teerã e Washington.

O presidente do Parlamento iraniano, Ali Larijani, assegurou em entrevista publicada hoje pelo jornal francês “Le Figaro” que “ainda existe uma falta de confiança” entre os Estados Unidos e o Irã, mas considerou que “um acordo nuclear é possível”.

As negociações de Viena para pactuar uma regra definitiva ao litígio nuclear ocorrem depois do acordo alcançado em novembro passado entre o Irã e o G5+1 e que entrou em vigor em 20 de janeiro.

Esse acordo preliminar estabelece que, durante seis meses, o Irã suspenda algumas atividades de seu programa atômico, como o enriquecimento de urânio acima de 5% de pureza, enquanto as grandes potências se propõem a congelar a aplicação de algumas sanções econômicas.

A comunidade internacional teme que o Irã trate de desenvolver um programa nuclear militar sob o guarda-chuva de suas pesquisas civis, algo que Teerã sempre rejeitou.

A Agência Internacional de Energia Atômica foi incapaz em mais de dez anos de inspeções de garantir que os esforços atômicos iranianos são exclusivamente pacíficos. EFE

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