Ebola põe em risco futuro educacional de 5 milhões de crianças na África
Xavi Fernández de Castro.
Nairóbi, 4 dez (EFE).- Cerca de cinco milhões de crianças não podem ir à escola por culpa da epidemia de ebola que assola Guiné, Libéria e Serra Leoa, o que põe em risco não só seu futuro educacional, mas também sua estabilidade emocional.
“As crianças que não vão ao colégio têm mais probabilidades de sofrer violência doméstica, estupros, casamentos forçados e muitas outras situações que põem em risco suas vidas”, denuncia um relatório publicado nesta quinta-feira pela organização Global Business Coalition for Education (GBCE).
Segundo o Unicef acrescentou, reabrir escolas e iniciar outra vez o sistema educacional no meio do caos atual é um desafio complicado, apesar de não poder ser adiado até que a situação esteja sob controle.
“Estes três países já tinham um dos índices educacionais mais baixos do mundo antes do surto e agora existe um risco muito elevado que o ebola destrua todos os avanços conseguidos nos últimos anos”, declarou à Agência Efe a especialista em Educação em Emergências do Unicef, Sayo Aoki, que se encontra em Dacar.
Quando um estudante perde um ano ou mais de aulas se aumenta de forma significativa o risco que abandone seus estudos para sempre, por isso que é vital que os diferentes governos e as agências internacionais se coordenem para buscar soluções a curto e longo prazo.
“É muito importante que as crianças voltem à escola o mais rápido possível para que recuperem a sensação de normalidade e possam diminuir o trauma causado pela morte de seus pais ou parentes próximos”, advertiu Aoki.
O maior problema é que ainda não existe um protocolo unificado para que as salas de aula possam reabrir de forma segura, e Unicef trabalha contra o tempo para estabelecer medidas preventivas básicas.
“É preciso fazer um trabalho prévio muito meticuloso, porque se não se poria em risco as crianças que vão às escolas, representando um novo passo atrás na luta contra o vírus”, explicou.
Entre as medidas que foram acertadas já se destacam a medição de temperatura dos alunos, que lavem as mãos com sabão várias vezes ao dia e que cada escola tenha um hospital de referência para onde levar pacientes suspeitos.
Segundo o relatório do GBCE, o fechamento das salas de aula tem um impacto muito maior nas meninas, pois “muitos pais percebem que o casamento é a melhor maneira de proteger e assegurar um futuro para suas filhas”.
Em uma escola de Serra Leoa, por exemplo, várias meninas do sexto ano ficaram grávidas nos últimos meses e algumas famílias já estão planejando seus casamentos, por isso que suas possibilidades de voltar às carteiras são quase nulas.
Enquanto os centros educacionais permanecerem fechados, o Unicef iniciou um programa para que os professores possam atuar como agentes de mobilização social e ajudar a conscientizar a população local.
“Os professores são pessoas que gozam da confiança do povo e podem ser uma ferramenta muito útil para que conheçam os riscos do ebola e como podem prevenir mais contágios”, assinalou Aoki.
Por enquanto já formaram 6.000 professores na Libéria, aos quais em breve se somarão outros 5.000, e um programa muito similar em Serra Leoa conseguiu captar outros 7.200 docentes.
Para complementar o trabalho dos professores, o Unicef tenta colaborar com os governos de Libéria, Guiné e Serra Leoa para que as emissoras de rádio transmitam programas especiais para que as crianças possam aprender noções básicas de saúde e higiene.
Em Serra Leoa atualmente há 41 emissoras e uma rede de televisão que começaram a transmitir programas nos quais se dividem as principais disciplinas, embora não seja exatamente o que pretendem conseguir.
“Em outubro, a Libéria também iniciou um programa educacional para crianças”, comentou a especialista, “mas queremos que seja um espaço mais participativo e interessante, e menos acadêmico, já que a rádio não pode substituir a escola”. EFE
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