Ebola: uma “tempestade perfeita” alimentada pela lentidão internacional

  • Por Agencia EFE
  • 23/03/2015 15h13
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Desirée García.

Nairóbi, 23 mar (EFE).- No final de 2013, quando uma criança de dois anos que costumava brincar com morcegos morreu em uma cidade de Guiné, ninguém suspeitava que isso se transformaria na epidemia de ebola mais fatal da história, uma “tempestade perfeita” alimentada pela lenta reação internacional e a falta de recursos na África Ocidental.

Há um ano, o governo da Guiné alertou à comunidade internacional da existência de uma alarmante quantidade de casos no sudeste do país. O aviso foi o prólogo de uma epidemia que já levou a vida de mais de 10 mil pessoas.

A menina, que segundo uma equipe de cientista internacional pode ter sido o paciente número zero, morreu em dezembro, mas os primeiros alarmes não soaram até o fim de março de 2014.

Em 23 de março, o Ministério da Saúde guineano informou à Organização Mundial da Saúde (OMS) que tinha detectado 80 contágios de ebola, 59 deles resultando em morte. A maior parte dos doentes viviam em regiões de fronteira com Serra Leoa e Libéria, países que se transformaram nos mais devastados pelo vírus.

A pequena Emile, que brincava com os morcegos que moravam em um tronco oco de uma árvore da cidade de Meliandou, foi enterrada conforme as tradições fúnebres da região, que implica velar o morto em contato direto com seu corpo, o que desencadeou a propagação da doença. Parentes e vizinhos morreram em poucas semanas depois de passar dias com vômitos, diarreias e febre.

Antes de abril, Guiné, Libéria e Serra Leoa compartilhavam uma doença vinda através de suas porosas fronteiras e expandida com a ajuda de seus frágeis sistemas saúde.

A organização Médicos Sem Fronteiras (MSF) foi a primeira a alertar que a África Ocidental, que nunca tinha experimentado o ebola, enfrentava a uma “epidemia sem precedentes”. Ao mesmo tempo, a OMS afirmava que o surto da Guiné era preocupante, mas não extraordinário, e que seguia padrões conhecidos.

Com uma taxa de letalidade de 90% e sem tratamento ou vacina conhecida, as mortes se multiplicaram de forma exponencial durante os primeiros meses deste novo surto. Com mais de 300 vítimas, no final de junho a MSF disse que a epidemia estava “fora de controle”. Em agosto já eram 1.000 mortos.

O surto colocou em quarentena a vida na África Ocidental. Escolas e fronteiras foram fechadas, populações inteiras foram isoladas, edifícios foram lacrados, as festas se tornaram proibidas, velórios e costumes ancestrais, suspensos.

Foi então que a diretora da OMS, Margaret Chan, se rendeu a realidade: “Este surto avança mais rápido do que nossos esforços para controlá-lo”.

No dia 8 de agosto, cinco meses depois dos primeiros casos diagnosticados, a OMS declarou a emergência pública internacional e adotou medidas excepcionais, que incentivaram o envio de investimentos milionários e equipes médicas e militares à região.

Em 12 de março deste ano, o ebola cruzou a barreira das 10 mil mortes, um dramático marco alcançado, em grande parte, porque as organizações internacionais ignoraram os “alertas antecipados”, segundo a MSF. Este fator se combinou a outros estruturais para criar uma “tempestade perfeita”: uma epidemia para além da fronteira, em países com frágeis sistemas de saúde que nunca tinham vivenciado o ebola, explicou hoje o diretor-geral da MSF, Christopher Stokes, em comunicado.

Embora o ebola tenha chegado à Nigéria, ao Senegal e ao Mali e viajado à Espanha, aos Estados Unidos e ao Reino Unido, estes casos foram pontuais. Atualmente, o vírus resiste apenas em Guiné, Libéria e Serra Leoa, que nos últimos meses tiveram uma queda grande dos contágios.

Apesar dos três podem vencer o vírus nos próximos meses, ao final deste ano, a epidemia terá custado a esses países US$ 32 bilhões e fará Libéria e Guiné entrarem em recessão, de acordo com o Banco Mundial. Está em jogo, segundo a instituição, “a mesma sobrevivência” de países que já eram extremamente pobres, instáveis e com pouca verba social, onde, além disso, ficaram órfãos mais de 16 mil crianças. EFE

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