Economia bósnia espera reformas que a tirem do ponto morto

  • Por Agencia EFE
  • 10/10/2014 18h34

Tariq Jablic.

Sarajevo, 10 out (EFE).- A má situação econômica, a falta de reformas que tirem o país de seu ponto morto e a apatia dos cidadãos após anos de promessas políticas descumpridas são a imagem da Bósnia-Herzegovina diante das eleições gerais deste domingo.

O desemprego no país balcânico já chegou a 42%, sem que haja investimentos ou projetos que apontem para o desenvolvimento com abertura de novos postos de trabalho.

A economia informal acaba sendo a saída para muitos, ao ponto de alguns estudos assinalarem que o desemprego “real” é de 28%.

A produção industrial na Bósnia continua em baixa, muitas dos enormes empresas ou fábricas da época do socialismo iugoslavo fracassaram em consequência das más privatizações e da ineficácia de seus diretores.

Segundo dados oficiais, os investimentos estrangeiros diretos na Bósnia em 2013 foram de apenas 214 milhões de euros (cerca de R$ 733 milhões), 20% a menos que no ano anterior.

Os protestos sociais que agitaram o país em fevereiro começaram em Tuzla, cidade do norte que foi um importante centro das indústrias química, madeireira e alimentícia, e um grande exportador, mas que perdeu metade delas depois das privatizações iniciadas em 1998.

Os dados da agência bósnia de estatísticas mostram que não há grandes companhias que sejam motor do desenvolvimento e que o trabalho está nas pequenas e médias empresas, que são o grosso da economia.

Cerca de 92% das empresas bósnias têm receita inferior a dois milhões de euros ao ano, e só 1,5% delas superam os dez milhões de faturamento.

Para piorar, as inundações e enchentes de maio causaram perdas que chegaram a dois bilhões de euros, um prejuízo direto sobre a atividade econômica de 750 milhões de euros.

Centenas de empresas tiveram que parar a produção, o que fez com que pelo menos três mil pessoas perdessem o emprego.

A ajuda prometida a estas empresas, em forma de subvenções ou de créditos com boas condições ou com apoio financeiro direto, ainda não chegou às companhias mais afetadas.

Mirjana Zivak, de 37 anos, mãe de uma filha de 12, perdeu o trabalho em um café fechado como a grande maioria dos locais, destruídos pelas enchentes.

“O trabalho é um grande problema, vários negócios fracassaram e as pessoas foram despedidas. Encontrar um emprego foi um problema antes também, mas agora, depois das inundações, está ainda pior”, desabafou Zivak.

“Até em um café, para não falar das grandes empresas e das companhias estatais, só conseguem trabalho os parentes e amigos dos proprietários e diretores”, continuou.

“Se não, é preciso pagar caro, tem quem chegue a tomar um empréstimo para subornar por um emprego”, contou Zivak, que lamenta sua filha não ter nenhuma perspectiva de futuro neste país.

Zlatko, de 32 anos, contou que seus pais perderam o emprego em uma rede de lojas de departamento que foi privatizada “e ficaram na rua da noite para o dia” com dois filhos que ainda estudavam.

O pai logo começou a trabalhar como taxista, e a mãe ocupou diferentes empregos eventuais durante anos enquanto ao mesmo tempo vendia o que podia nos mercadinhos. Hoje, os dois estão aposentados.

“Meu pai, Irhan, se aposentou depois de 47 anos de trabalho, e minha mãe, Jasmina, com 40. A aposentadoria dos dois soma 400 euros. Meu irmão e eu temos que ajudá-los porque isso não é o suficiente para sobreviver”, afirmou.

É muito difícil encontrar empresas locais bem-sucedidas que conseguem competir no mercado internacional. Uma dessas poucas histórias de sucesso na Bósnia é a fabricante de peças para carros Prevent.

Em Gorazde, na Bósnia oriental, 50 trabalhadores começaram em 1999 a fabricar assentos de carros para marcas alemãs. Hoje trabalham ali quatro mil pessoas.

Mas para muitos bósnios, a única esperança é o inflado setor público, no qual os salários são pagos na data e ainda são mais altos do que no setor privado, onde a média salarial é de apenas 400 euros ao mês.

Ao mesmo tempo, a imprensa local divulgou que o patrimônio de dezenas de políticos se multiplicou desde que entraram na vida pública, com imóveis e carros de luxo, e que suas fortunas chegam, em alguns casos, a milhões de euros.

Uma recente pesquisa mostra que apenas 3% das promessas eleitorais foram cumpridas desde as últimas eleições de 2009. EFE

Comentários

Conteúdo para assinantes. Assine JP Premium.