Banco Central eleva juros pela segunda vez seguida e Selic vai a 3,5%

É a primeira vez em seis anos que o Copom aumenta a taxa em duas reuniões consecutivas; com inflação mais persistente e duradoura, economistas e entidades projetam Selic a 5,5% ao fim de 2021

  • Por Gabriel Bosa
  • 05/05/2021 18h39 - Atualizado em 05/05/2021 18h56
Fátima Meira/Estadão Conteúdo Fátima Meira/Estadão Conteúdo Autoridade monetária elevou os juros para 11,75% ao ano no encontro realizado em março

O Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) voltou a subir, nesta quarta-feira, 5, a taxa básica de juros da economia brasileira, passando a Selic de 2,75% para 3,50% ao ano. Esta é a primeira vez desde 2015 que o colegiado aumenta a Selic em duas reuniões seguidas. O novo acréscimo de 0,75 ponto percentual já era esperado pelo mercado financeiro e dá continuidade à política de reajuste da taxa de juros após quase seis anos de cortes ou congelamentos em patamares reduzidos. No encontro realizado em março, a autoridade monetária surpreendeu ao carregar na dose e passar a Selic de 2% — o menor nível da história —, para 2,75% ao ano. A nova alta deixa a taxa de juros em um estágio semelhante ao registrado entre abril e junho do ano passado, quando o Copom cortou o índice de 3,75% para 3%. O avanço da Selic ocorre em meio ao crescimento da inflação, que foi a 6,1% nos 12 meses encerrados em março, acima do teto de 5,25% perseguido pelo Banco Central, em um movimento mais forte e persistente do que o imaginado pela autoridade monetária. O consenso entre os analistas é que a taxa básica de juros mantenha o viés de alta nos próximos encontros do Copom e encerre 2021 a 5,50% ao ano, segundo o Boletim Focus divulgado nesta segunda-feira, 3. A próxima reunião do colegiado será entre os dias 15 e 16 de junho.

Em nota, o colegiado reitera que o avanço da inflação é temporário, “mas segue atento à sua evolução”. “Com exceção do petróleo, os preços internacionais das commodities continuaram em elevação, com impacto sobre as projeções de preços de alimentos e bens industriais. Além disso, a transição para patamares mais elevados de bandeira tarifária deve manter a inflação pressionada no curto prazo.” O Copom ainda afirma que os indicadores da recuperação da economia brasileira se mostram melhores do que o esperado, apesar da intensidade da nova onda da pandemia estar mais forte do que o projetado. “Prospectivamente, a incerteza sobre o ritmo de crescimento da economia ainda permanece acima da usual, mas aos poucos deve ir retornando à normalidade.” Os técnicos do Banco Central também indicaram que devem repetir a dose de 0,75 ponto percentual no próximo encontro e jogar a taxa de juros para 4,25% ao ano. “O Copom ressalta que essa visão continuará dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação”, diz. O colegiado também defendeu a manutenção da agenda de reformas do governo federal para “permitir a recuperação sustentável da economia.” “O Comitê ressalta, ainda, que questionamentos sobre a continuidade das reformas e alterações de caráter permanente no processo de ajuste das contas públicas podem elevar a taxa de juros estrutural da economia”.

A nova dose de 0,75 ponto percentual já havia sido confirmada pelo presidente do BC, Roberto Campos Neto, ao longo das últimas semanas. Com o avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de forma mais disseminada e intensa, analistas chegaram a prever o aumento de 1,0 ponto percentual na Selic no encontro desta semana. O arrefecimento das pressões com a resolução do Orçamento de 2021 — mesmo que de uma forma aquém da desejada —, e a desaceleração do dólar ante o real, que registrou queda de 3,5% em abril, criaram condições para o aumento igual ao da reunião de março. Apesar desse alívio momentâneo, analistas preveem que a inflação alcance 8% antes da virada do primeiro semestre, puxada por novos reajustes nos preços de medicamentos e do gás natural. Também entra na conta os fatores que trouxeram o índice até este ponto, principalmente a alta das commodities no mercado internacional e o agravamento do risco fiscal com o maior endividamento do governo federal para pagar ações de combate ao novo coronavírus. Dados do Boletim Focus mostram que economistas e entidades estimam inflação a 5,04% no ano, acima do centro da meta de 3,75% e próximo do teto de 5,25%. O avanço também já se reflete em 2022, com a revisão do IPCA para 3,61%, descolado do centro da meta de 3,50% — com margem para variar entre 2% e 5%.

O que é Copom

Comitê de Política Monetária (Copom) é um órgão constituído em 1996 no âmbito do Banco Central do Brasil com as finalidades de estabelecer as diretrizes da política monetária e definir a taxa básica de juros da economia brasileira. Tem, ainda, a competência específica de regular a liquidez da economia, por meio dos instrumentos de política monetária. O Copom se reúne a cada 45 dias. No primeiro dia do encontro, são feitas apresentações técnicas sobre a evolução e as perspectivas das economias brasileira e mundial e o comportamento do mercado financeiro. No segundo dia, os membros do colegiado, formado pela diretoria do BC, analisam as possibilidades e definem a Selic.

O que é Selic

Selic é a taxa básica de juros da economia brasileira. Os juros são usados pelo Banco Central como uma ferramenta para tentar controlar a inflação, pois a alta ou a queda dos juros influencia o consumo das famílias e a tomada de crédito no país. De modo geral, quando a inflação está alta, o BC sobe os juros para reduzir o consumo e forçar os preços a cair. Quando a inflação está baixa, o BC derruba os juros para estimular o consumo. A Selic tem influência em todas as taxas de juros do país, como a dos empréstimos, financiamentos e das aplicações financeiras. Quando o BC altera a meta da Selic para baixo, a rentabilidade dos títulos atrelados a ela cai e, com isso, o custo dos bancos também diminui. Assim, uma redução da Selic, por exemplo, deve fazer com que os juros cobrados pelas instituições financeiras em empréstimos também caiam. O contrário ocorre quando a Selic sobe: o custo dos bancos aumenta e eles passam a cobrar mais pelos empréstimos.

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