Banco Central fala em ‘cautela’ e indica que pode interromper cortes na Selic
Após reunião realizada nesta terça-feira (11), o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) informou que o atual estágio do ciclo econômico recomenda cautela na definição da taxa básica de juros, a Selic, indicando que o recente ciclo de reduções deve ser interrompido.
Segundo o comitê, é “importante” observar os efeitos dos cortes já feitos na taxa – que caiu para 4,25% ao ano na semana passada. O atual ciclo de cortes teve início no fim de julho de 2019, com queda da taxa em 0,5 ponto percentual para 6% ao ano.
“Considerando os efeitos defasados do ciclo de afrouxamento [redução da Selic] iniciado em julho de 2019, o comitê vê como adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária. O Comitê enfatiza que seus próximos passos continuarão dependendo da evolução da atividade econômica, do balanço de riscos e das projeções e expectativas de inflação, com peso crescente para o ano-calendário de 2021”, destacou o Copom na ata da reunião.
Mercado de trabalho
O Copom disse ainda que dados de atividade econômica divulgados até agora “indicam a continuidade do processo de recuperação gradual da economia brasileira”.
O comitê avaliou que há uma “dicotomia” entre a evolução do mercado de trabalho e o crescimento da produção de bens e serviços no país.
“Enquanto o mercado de trabalho segue em recuperação gradual, os dados recentes de produção industrial e os indicadores preliminares de investimento tiveram desempenho abaixo do esperado”, disse.
Por isso, “pode haver menos espaço de ociosidade [produção da economia menor do que sua capacidade] do que o mensurado por métodos tradicionais”.
Entretanto, ressaltaram alguns membros do Copom, a ociosidade dos fatores de produção ainda é bastante elevada, o que é indicado pela dinâmica dos núcleos de inflação (medida que busca captar a tendência dos preços, desconsiderando efeitos de choques temporários, como a alta recente dos preços da carne).
Preço da Carne
Também na ata, o Copom avaliou que os preços da carne subiram de forma mais intensa do que o esperado no fim de 2019, mas mostram reversão parcial neste início de ano. Com isso, as projeções do mercado financeiro de curto prazo para a inflação foram “particularmente afetadas”. Já as estimativas para a inflação em todo o ano de 2020 estão abaixo da meta e para 2021, ao redor da meta.
A meta de inflação – definida pelo Conselho Monetário Nacional – é de 4% em 2020, e de 3,75% em 2021. O intervalo de tolerância para cada ano é 1,5 ponto percentual para cima ou para baixo, ou seja, em 2020, por exemplo, o limite mínimo da meta de inflação é 2,5% e o máximo, 5,5%.
Para os preços administrados (regulados pelo governo, como gás e energia) há “condições benignas” devido aos reajustes menores nas tarifas de energia elétrica, informou o Copom.
Coronavírus
O prolongamento ou intensificação do surto de coronavírus pode levar a economia mundial a uma desaceleração adicional, com impacto sobre os preços de commodities (produtos primários com cotação internacional) e de “importantes” ativos financeiros (ações, câmbio e títulos, entre outros). A China é epicentro do surto de coronavírus que tem se espalhado pelo mundo. No Brasil, não há casos confirmados.
“O Copom concluiu que a consequência desses efeitos [do surto sobre a economia mundial] para a condução da política monetária [definição da taxa Selic] dependerá da magnitude relativa da desaceleração da economia global versus a reação dos ativos financeiros”, afirmou o Copom.
*Com Agência Brasil
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