Banco Central vê inflação estourando o teto da meta em 2022

Com pressão dos combustíveis, IPCA deve encerrar ano com alta de 7,1%, enquanto cenário alternativo aponta alta de 6,3%; projeções estouram limite máxima de 5%

  • Por Jovem Pan
  • 24/03/2022 08h41 - Atualizado em 24/03/2022 11h44
Fátima Meira/Estadão Conteúdo Fátima Meira/Estadão Conteúdo Autoridade monetária elevou os juros para 11,75% ao ano no encontro realizado em março

O Banco Central (BC) elevou de 4,7% para 7,1% a estimativa da inflação em 2022. Para 2023, a previsão aponta a desaceleração para 3,4%. Em um cenário alternativo e considerado de maior probabilidade, a variação de preços pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) encerraria o ano com avanço de 6,3%, passando para 3,1% no ano que vem. As informações constam no Relatório Trimestral da Inflação publicado pela autoridade monetária nesta quinta-feira, 24. Nos dois casos, a inflação fica acima do teto da meta deste ano, com centro de 3,5% e limites de 2% e 5%. Caso se confirme, será o segundo ano seguido que a inflação passa do limite máximo estipulado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Em 2021, o IPCA encerrou em 10,06%, quase o dobro do limite de 5,25%. A possibilidade de estouro da meta no primeiro cenário é de 97%, enquanto na segunda projeção, a probabilidade é de 88%.

A autoridade monetária ressaltou os efeitos do confronto na Europa, que completa um mês nesta quarta-feira e não indica sinalizações de acordos para cessar-fogo, como o principal vetor para as incertezas. “No cenário externo, o ambiente se deteriorou substancialmente. O conflito entre Rússia e Ucrânia levou a um aperto significativo das condições financeiras e aumento da incerteza em torno do cenário econômico mundial”, informou. “Em particular, o choque de oferta decorrente do conflito tem o potencial de exacerbar as pressões inflacionárias que já vinham se acumulando tanto em economias emergentes quanto avançadas”.

Segundo o BC, a recente disparada do barril de petróleo em reflexo ao conflito no Leste Europeu é o maior ponto de origem inflacionária. “A principal pressão sobre a inflação ao consumidor no próximo trimestre decorre dos preços de combustíveis, refletindo a recente elevação do preço de petróleo. Os reajustes dos preços de produtos farmacêuticos, que sofrem grande influência da inflação passada, também devem ter importante contribuição”, informou. ” Impactos da guerra entre Rússia e Ucrânia também são esperados sobre preços livres. Alimentos devem ter alta importante repercutindo esse choque e a continuidade dos efeitos do clima extremo”. Na previsão usada como referência, o preço do barril de petróleo do tipo Brent em US$ 118. No quadro de maior probabilidade, a cotação é estimada em US$ 100. A commodity é negociada na casa de US$ 121 nesta manhã. “Ao se comparar com as expectativas do mercado e de diversos analistas, faria sentido trabalhar com um cenário alternativo em que o preço parte desse patamar em torno de US$ 118, ou seja, bastante pressionado e refletindo essa situação anômala, mas que cai, particularmente no segundo semestre, a US$ 100 o barril”, explicou a diretora de Política Econômica, Fernanda Guardado.

Como fatores que podem aliviar a alta do IPCA neste ano, o Banco Central citou a elevação da Selic e a recente desvalorização do dólar ante o real. A divisa norte-americana encerrou esta quarta-feira, 23, cotada a R$ 4,84, o menor valor desde março de 2020. A autoridade monetária também ressaltou a mudança da bandeira de energia elétrica para o fim do ano, de vermelha patamar 2 para amarela. O aumento da conta de luz foi um dos principais fatores para a alta da inflação no ano passado.

O mercado financeiro prevê que a inflação encerre este ano em 6,59%, segundo as estimativas publicadas pelo Boletim Focus na segunda-feira, 21. O IPCA acumulou alta de 10,54% nos 12 meses encerrados em fevereiro. O BC tem feito sucessivos aumentos nos juros na tentativa de controlar a variação de preços. A Selic passou de 10,75% para 11,75% no encontro do Comitê de Política Monetária (Copom), na semana passada. A autoridade monetária deixou contratada nova alta de 1 ponto percentual na reunião de maio, mas deixou a “porta aberta” para aumentos mais significativos. O recente aumento da pressão inflacionária fez o mercado financeiro revisar a expectativa para a Selic em 13% ao ano em 2022.

O presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou nesta quarta-feira, 23, que o IPCA deve atingir o pico em abril, para então iniciar um processo de queda. Segundo Campos Neto, a autoridade monetária brasileira saiu na frente dos seus pares globais no aperto dos juros. “O Brasil tem sido mais atuante no combate à inflação, que nós entendemos que é mais persistente. A inflação contaminou os núcleos e hoje está acima das metas em serviço, comércio e indústria. Precisamos endereçar esse problema com serenidade e firmeza”, afirmou. O chefe da autoridade monetária ainda disse que o Brasil pode se beneficiar com os efeitos do conflito entre a Ucrânia e a Rússia, apesar de a guerra gerar menos crescimento e mais inflação em todo o mundo.

A autoridade manteve a previsão para o Produto Interno Bruto (PIB) de alta de 1% neste ano. O BC cita o carrego estatístico com a melhora do desempenho da economia no último trimestre de 2021 como fator positivo. No caminho oposto, o surto da variante Ômicron da Covid-19 no início do ano trouxe pressão negativa. “Com a melhora rápida da pandemia desde então, espera-se que a queda seja revertida em fevereiro e março e que o nível de atividade no primeiro trimestre se situe acima do que era esperado no RI anterior. Esse resultado positivo esperado para o primeiro trimestre também favorece a projeção de crescimento no ano”, informou. “Adicionalmente, mantém-se perspectiva favorável para alguns setores específicos, como a agropecuária e as atividades econômicas que ainda estão em processo de recuperação dos impactos negativos da pandemia.”

 

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