Concorrência mundial acelerou acordo entre Embraer e Boeing
Um setor mais concorrido e a disputa com uma gigante levaram Embraer e Boeing a agilizarem as negociações que culminaram com a parceria anunciada na quinta-feira, 05. Para ambas, pesou o fato de suas maiores rivais – a canadense Bombardier e a europeia Airbus – terem se associado, em outubro, para a fabricação de aviões com capacidade para até 150 passageiros, segmento em que a brasileira é líder.
Do lado da Embraer, ainda havia o fato de novas companhias da Rússia, da China e do Japão estarem avançando nesse mercado. “O ambiente em que a Embraer compete está mais difícil. Tanto que, antes de as negociações serem anunciadas, suas ações vinham caindo. O mercado questionava sua sustentabilidade no médio prazo”, disse o especialista em setor aéreo André Castellini, sócio da consultoria Bain & Company.
Para ele, a Boeing entraria no segmento de aviões de médio porte com ou sem a Embraer, pois esse é um dos mercados que cresce de forma mais acelerada. “Se a brasileira não fechasse a parceria, ganharia um novo concorrente. Já para a Boeing, esse jeito (a compra de parte da Embraer) é mais rápido e eficiente. A americana ainda terá um produto supercompetitivo (os aviões da Embraer), considerado por muitos o melhor da categoria.”
Além de ganhar musculatura para competir com a Bombardier, a Embraer se beneficiará da força de vendas da Boeing, de acesso a capital mais barato e de ganhos de sinergia. Em comunicado, as empresas informaram que estimam uma sinergia anual de custos de US$ 150 milhões (antes de impostos) até o terceiro ano.
Para a equipe do Melius Research, mais do que seguir a Airbus e complementar seu portfólio, a Boeing está de olho na eficiência de custos da Embraer, que sai na frente dos competidores nesse quesito. “Esse acordo é sobre transformar a estrutura de custos da Boeing”, disseram os analistas Carter Copeland, Ryan Eldridge e Paige Tanenbaum.
Segundo eles, é indiscutível que a Embraer ajudará em dois focos da americana: o potencial lançamento de uma nova aeronave de médio porte – denominada de NMA – e a transformação de seus negócios. Sobre o plano da NMA, ainda em estudo pela Boeing, os analistas ressaltam que o projeto poderia enfrentar alguma dificuldade pelo lado dos custos. “A Boeing acredita que a expertise da Embraer pode ser útil nessa questão, ainda que não deva garantir maior probabilidade de lançamento da NMA no curto prazo”.
O Melius Research descreve a nova empresa como um “pequeno mas estrategicamente significativo” catalisador para transformar a Boeing em uma companhia mais enxuta e rentável. O fato de as companhias terem produtos complementares é outro ponto positivo, dizem analistas. A brasileira trabalha com aeronaves de médio porte e a americana, de grande porte.
Entusiasta da parceria entre as empresas, o fundador da Embraer, Ozires Silva, disse, porém, que uma desvantagem do acordo é a possibilidade de a americana se “desinteressar” pela brasileira. “Os vendedores da Boeing podem pretender vender mais aviões Boeing que Embraer”, disse, em entrevista recente ao jornal O Estado de S. Paulo. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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