Copom explica fim do ciclo de redução de juros a partir de junho

  • Por Estadão Conteúdo
  • 27/03/2018 11h13 - Atualizado em 27/03/2018 11h14
Marcello Casal Jr/Agência Brasil Marcello Casal Jr/Agência Brasil O comitê avaliou que pode precisar de algum tempo para avaliar a evolução da economia e sua reação aos estímulos monetários já implementados

Além de sinalizar a probabilidade de um novo corte na Selic em maio, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada nesta terça-feira, 27, pelo Banco Central (BC), explica os motivos que levam o colegiado a projetar o fim do ciclo de redução da taxa básica de juros nas reuniões seguintes – a partir de junho.

Segundo o BC, quando chegar esse momento, o horizonte relevante para a política monetária já estará majoritariamente concentrado no ano de 2019.

“Tendo em vista o cenário básico do Copom, o balanço de riscos e as defasagens e incertezas associadas ao processo de transmissão da política monetária, o Comitê concluiu que, àquela altura, deverá se mostrar apropriado interromper o processo de flexibilização monetária”, enfatiza o documento.

O comitê avaliou que pode precisar de algum tempo para avaliar a evolução da economia e sua reação aos estímulos monetários já implementados.

“Alguns membros manifestaram preferência por indicar que deverá ser necessário aguardar algumas reuniões do Copom até que se acumule informação suficiente para avaliar o comportamento da economia. Outros argumentaram não ver necessidade de se comprometer com essa sinalização”, revelou a ata.

Mas, por fim, o Copom decidiu comunicar que, para reuniões além da próxima, salvo mudanças adicionais relevantes no cenário básico e no balanço de riscos para a inflação, seria adequada a interrupção do processo de flexibilização monetária, visando justamente avaliar os próximos passos.

Índices subjacentes

A ata da última reunião do Copom revela que todos os membros do colegiado concordaram que a inflação evoluiu de forma mais benigna que o esperado no começo deste ano. O Copom avaliou que as diversas medidas de inflação subjacente situam-se em níveis baixos e considerou que isso constitui risco baixista para a trajetória prospectiva para a inflação.

“De outro lado, permanecem a expectativa de que a recuperação da atividade econômica contribua para elevação da inflação subjacente rumo às metas no horizonte relevante e os riscos associados a um revés no cenário internacional num contexto de frustração das expectativas sobre as reformas e ajustes necessários na economia brasileira”, ponderou o comitê.

Segundo o documento, a política monetária tem que balancear essas duas dimensões, tendo em vista a incerteza quanto às defasagens do impacto de estímulos monetários na trajetória da inflação. Por isso, o Copom tem flexibilidade para reagir a riscos de ambos os lados.

“Isso envolve reagir para assegurar que a inflação convirja para a meta numa velocidade adequada e ao mesmo tempo garantir que a conquista da inflação baixa perdure, mesmo diante de choques adversos”, acrescentou a ata.

Para o colegiado, as medidas de inflação subjacente em níveis baixos, as projeções de inflação abaixo da meta para 2018 e em torno da meta para 2019 e o elevado grau de ociosidade na economia prescrevem política monetária estimulativa, ou seja, com taxas de juros abaixo da taxa estrutural.

“Embora estimativas dessa taxa envolvam elevado grau de incerteza, os membros do Comitê manifestaram entendimento de que as atuais taxas de juros reais ex-ante têm efeito estimulativo sobre a economia”, completou o Copom.

O BC repetiu que – em um ambiente com expectativas de inflação ancoradas – a política monetária deve combater apenas os efeitos secundários dos choques de oferta que levam a eventuais ajustes de preços relativos.

“O Copom destaca que sua reação a possíveis mudanças de preços relativos será simétrica, ou seja, a política monetária seguirá os mesmos princípios tanto diante de choques de oferta inflacionários quanto desinflacionários”, reiterou o documento.

Normalização em países centrais

O Copom acredita que o processo de normalização dos juros nos países centrais “deve ocorrer de maneira gradual no cenário básico”. Esse processo, porém, poderá ter volatilidade gerada por fatores como a evolução dos preços e salários, o que pode gerar aperto das condições financeiras globais.

Na ata divulgada pelo Copom, os diretores do BC reiteraram que a evolução da economia global “tem sido favorável, com crescimento econômico bastante disseminado”. Nesse processo de recuperação, começam a surgir sinais aumento de salários e inflação nas economias centrais.

Outro risco no cenário externo diz respeito à “continuidade da expansão do comércio internacional, devido a medidas protecionistas”. Essas medidas contra o comércio exterior, diz o BC, podem gerar “possíveis impactos sobre o crescimento global e a volatilidade das condições financeiras”.

Apesar do risco de aperto das condições monetárias e de medidas protecionistas no exterior, os diretores do BC destacaram a capacidade que a economia brasileira apresenta de “absorver eventual revés no cenário internacional, devido à situação robusta de seu balanço de pagamentos e ao ambiente com inflação baixa, expectativas ancoradas e perspectiva de recuperação econômica”.

A situação confortável do Brasil para reagir a eventual piora externa, porém, pode ser sofrer em um “contexto de frustração das expectativas sobre as reformas e ajustes necessários na economia brasileira”.

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