Coronavírus: Presença de mulheres na Bolsa de Valores cresce 39% na pandemia

Em junho, a B3 somou 648,2 mil investidoras, o equivalente a 24% do total de pessoas físicas; para especialista, o perfil feminino se destaca em momentos de turbulência

  • Por Camila Corsini
  • 03/07/2020 07h05 - Atualizado em 03/07/2020 09h05
Pixabay economia, bolsa de valores Em fevereiro, eram 466.984 mulheres entre as pessoas físicas que investiam na B3 -- agora, esse número subiu para 648.165

O número de mulheres investindo na Bolsa de Valores durante a pandemia da Covid-19 cresceu 39% entre fevereiro e junho deste ano. No segundo mês de 2020, 466.984 mulheres estavam entre as pessoas físicas que aplicavam na B3, e, agora, elas somam 648.165. Apesar do avanço, o sexo feminino ainda é minoria na Bolsa, com participação de 24% no total de investidores – em junho de 2019, elas representavam 21%. Muitas das novas investidoras resolveram entrar no mercado acionário para aproveitar os preços baixos das ações neste momento, devido aos impactos econômicos causados pelo novo coronavírus. O Ibovespa, principal índice da Bolsa brasileira, chegou a registrar queda acumulada no ano de 45% em março. Hoje, a desvalorização neste ano está menor, em 17%.

Uma dessas mulheres é a relações públicas Alessandra Custódio, de 24 anos, que passou a destinar seu dinheiro para investimentos em abril deste ano. Mesmo com pouca experiência, ela afirma que essa foi uma virada de chave em sua vida. “De lá para cá, perdi, ganhei e estabilizei. Deu para entender que não é algo que vou ter lucro todos os dias. É preciso frieza para aceitar que um dia você perde.” O interesse pelo mercado financeiro surgiu sob influencia de familiares no passado, mas hoje ela realiza todas as operações sozinha, por meio de uma corretora, sem auxílio de assessor. A decisão de arriscar o dinheiro neste momento aconteceu ao entender que, em tempos de crise, os valores estariam mais baixos. Assim, ela poderia ter retorno no curto prazo — que era seu objetivo inicial, diante das incertezas de manter o emprego e a renda. “Agora, já movimento meu dinheiro com objetivos de médio e longo prazos. Percebi que a Bolsa é uma oportunidade de me resguardar tanto para agora como para o futuro”, explica Alessandra.

 

A jornalista Gabrielle Pedro, de 23 anos, já investia em produtos de baixo risco há cerca de um ano e meio, mas na pandemia decidiu arriscar mais. “Comecei a investir porque eu já tinha um dinheiro guardado em poupança e não tinha contas fixas, já que moro com meus pais. Meu objetivo era apenas melhorar minha rentabilidade com Tesouro Direto e CDB.” Depois de se informar e ler bastante, resolveu arriscar. “Eu já tinha planos de investir na Bolsa, mas não agora. Pensava no fim desse ano, início do ano que vem. Mas, quando vi as quedas bruscas em março e abril, percebi que era o meu momento de tentar.” Hoje Gabrielle se considera uma investidora dinâmica, com 70% do capital de investimento em produtos de renda fixa e outros 30% em renda variável.

De acordo com a diretora de marketing da Franklin Templeton Investimentos, Carolina Cavenaghi, as mulheres têm traços muito positivos como investidoras. “O perfil da mulher investidora tem três características fortes: elas têm maior capacidade de ouvir, lidam melhor com a assessoria financeira e têm paciência. Além da visão a longo prazo, elas são menos reativas a momentos de muita turbulência e volatilidade.” Carolina é uma das fundadoras do movimento #fin4she (Finanças para Elas, em português), que tem por objetivo inserir mais mulheres no mercado financeiro.

Perfil do investidor brasileiro

Entre as mulheres investidoras, em junho, 32% estão na faixa entre 26 e 35 anos, e pouco menos da metade (41%) está no Estado de São Paulo. No Amapá, porém, elas são apenas 682. A maior concentração de dinheiro está em outra faixa etária: maiores de 66 anos, com R$ 27,7 bilhões somados. De uma forma geral, o investidor brasileiro, considerando ambos os gêneros, é mais jovem e se preocupa em diversificar seus investimentos, começando a montar sua carteira com valores baixos, segundo pesquisa realizada recentemente pela B3. Além disso, ele tem demonstrado uma visão de longo prazo ao manter suas posições mesmo no auge da volatilidade dos mercados (como no caso da pandemia). O estudo também confirma uma predominância nas regiões Sudeste, Sul e Distrito Federal, que concentram o maior números de pessoas físicas investidoras do Brasil. Nos últimos três anos, aumentou em 21 pontos percentuais o número de jovens investindo na renda variável. Se antes eram 28% das pessoas entre 25 e 39 anos que se arriscavam mais, agora elas representam 49%.

Cuidados ao investir na Bolsa

Apesar de parecer atrativo investir neste momento na Bolsa, é preciso muita cautela. É necessário levar em conta que as operações são de alto risco e que, em uma grande maioria das vezes, os bons resultados vêm somente a longo prazo — depois de enfrentar muitos altos e baixos por influências externas. Para tentar minimizar os riscos, especialistas recomendam a diversificação da carteira com base no perfil do investidor — que pode ser conservador, moderado ou arrojado. Isso significa investir em diversas modalidades, com porcentagens monetárias diferentes entre renda fixa e variável, de acordo com suas caraterísticas e objetivos pessoais. Para se ter uma ideia da instabilidade do mercado financeiro, a B3 fechou o ano de 2019 aos 115.645 pontos. Na quarta-feira, 1º de julho, ela estava nos 96.203 pontos — uma queda acumulada de 17% no ano. Em 2020, a maior baixa acumulada foi de 45%, no dia 23 de março, quando a B3 registrou 63.569 pontos. Naquela semana, o Brasil começava a apertar as medidas contra a Covid-19 diante do avanço acelerado da doença pelo país.

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