Dólar bate recorde nominal e fecha o dia cotado a R$ 5,26
Por um lado, o noticiário negativo, com a deterioração cada vez mais nítida da economia global por conta da pandemia de coronavírus, e, por outro, as incertezas inerentes às dificuldades do governo brasileiro em efetivar a ajuda a desassistidos e empresas dão base para a corrida dos investidores para a proteção. Assim, o dólar fechou esta quarta-feira (1º), o primeiro dia de abril e do segundo trimestre de 2020, em um novo nível histórico, cotado a R$ 5,2628, em alta de 1,27%, após ter galgado até R$ 5,2741 na máxima do dia.
Para Marcos Ross, economista sênior da XP Investimentos, a evolução da pandemia nos Estados Unidos e as afirmações de dirigentes do Federal Reserve indicando que o país está sentindo o golpe fortalecem o movimento de busca por segurança. Hoje, mais um dirigente veio a público para fazer previsões negativas. O presidente da distrital de Boston, Eric Rosengren, previu que a economia americana deve ter dois trimestres de contração, devido aos impactos da pandemia. Segundo ele, a recessão já é certa, mas o efeito de longo prazo da crise vai depender de como as autoridades e a população lidam agora com a questão de saúde.
“Com a maior economia do mundo sucumbindo, a percepção que se tem é a de que a recessão global pode ser muito forte mesmo”, disse Ross, que acrescenta a esse cenário a retração dos preços das commodities.
No contexto doméstico, afirmou Ross, seguem as preocupações em relação à efetividade das medidas anunciadas pelo governo. “A grande dúvida agora, não só do mercado, mas da sociedade, é de como e quando o dinheiro vai chegar na ponta. Há um grande desencontro das informações, com empresários e bancos não sabendo como fazer.”
Ele alertou ainda que, se as medidas não chegarem mais rapidamente, correm o risco de serem inócuas. “A impressão é que a economia está à deriva, e isso bate no câmbio, porque certamente vai impactar o crescimento econômico”, afirmou.
Na percepção do especialista, o dólar vai continuar testando a alta pelo menos até o final de abril, lembrando que em meados do mês a China divulga seu Produto Interno Bruto (PIB), quando o mundo terá dimensão do estrago que ocorreu por lá.
Para Alexandre Almeida, economista da CM Capital Markets, a tendência para os próximos cinco dias é aumentar a aversão ao risco e a busca por proteção, sendo o dólar um atrator nesta fuga.
Almeida também coloca nesta conta a desarmonia doméstica entre os poderes como elemento de aumento da incerteza. Segundo ele, é importante notar que a crise causada pelo coronavírus uniu situação e oposição na Europa inteira e é preciso que isso ocorra no Brasil, pois ainda existe um conflito entre estados, Executivo, Legislativo e Judiciário.
*Com Estadão Conteúdo
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