Dólar dispara a R$ 5,67 com falas de Guedes sobre mudanças no teto de gastos; Bolsa cai

Mercado reage com forte aversão aos indicativos de quebra da regra fiscal para bancar Auxílio Brasil; governo confirma parcelas de R$ 400 a partir de novembro para 17 milhões de família

  • Por Jovem Pan
  • 21/10/2021 11h23 - Atualizado em 21/10/2021 11h54
Dado Ruvic/Reuters Cédulas de dólar enroladas em frente um fundo vermelho Inflação ao consumidor vai ao maior nível desde dezembro de 1990

Os principais indicadores do mercado financeiro brasileiro operam no campo negativo nesta quinta-feira, 21, em repercussão da fala do ministro da Economia, Paulo Guedes, sobre mudanças no teto de gastos para arcar com as parcelas de R$ 400 do Auxílio Brasil. A regra que determina os custos da União ao Orçamento do ano anterior, mais a inflação, é vista como a principal âncora fiscal do país e uma espécie de garantia de controle das contas públicas. Por volta das 11h10, o dólar operava com alta de 1,32%, cotado a R$ 5,635. Na maior cotação, o câmbio chegou a bater R$ 5,675, a mais alta nos últimos seis meses, enquanto a mínima não passou de R$ 5,623. A divisa norte-americana encerrou a sessão da véspera com queda de 0,59%, a R$ 5,560. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa de Valores brasileira, registrava queda de 1,87%, aos 108.767 pontos. O pregão de quarta-feira, 21, encerrou com leve alta de 0,1% aos, 110.786 pontos.

Os investidores reagem com forte aversão aos anúncios do governo federal na véspera sobre o futuro do Auxílio Brasil, o programa de transferência de renda desenhado pelo governo federal para substituir o Bolsa Família. Na manhã, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) confirmou que as mensalidades do novo benefício seriam de R$ 400 e que o governo iria respeitar o teto de gastos. Na parte da tarde, em pronunciamento à imprensa, o ministro da Cidadania, João Roma, reiterou o valor do benefício e confirmou que o programa irá começar em novembro, com aproximadamente 17 milhões de famílias inscritas. O responsável pela área social do governo também disse que a medida seria limitada pelas regras fiscais.

No fim da tarde, Guedes afirmou que o pagamento de R$ 400 é temporário e que o governo estuda mudanças no teto de gastos para comportar as parcelas. O chefe da equipe econômica citou duas formas para arcar com os recursos. Uma das opções seria a antecipação do prazo de revisão do teto de gastos com a mudança no índice que controla as despesas. O movimento estava previsto para ocorrer apenas em 2026. A outra alternativa seria excluir da regra fiscal cerca de R$ 30 bilhões, em uma espécie de “licença” para arcar com os custos. “Como queremos aumentar um pouco essa camada de proteção aos mais frágeis, nós pediríamos que isso viesse um como um waiver [renúncia] para atenuar o impacto socioeconômico da pandemia. Estamos ainda finalizando se conseguimos compatibilizar isso”, afirmou. O ministro, no entanto, ressaltou que a decisão será feita pela ala política do governo.

Guedes também citou que a estratégia da equipe econômica era custear o Auxílio Brasil com a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) dos Precatórios, para abrir espaço no Orçamento, com verbas carimbadas pela reforma do Imposto de Renda, que está parada no Senado. O ministro ainda afirmou que o governo busca ser reformista e popular, e não populista. “Continuaremos lutando por reformas. Quem dá o timming das reformas é a política. Se a política quisesse, ela faria a reforma do Imposto de Renda e nos daria um programa permanente. Como a política não entregou no Senado a reforma do Imposto de Renda, nós temos que fazer o mesmo olhar de solidariedade aos mais frágeis, só que não conseguimos o mesmo nível permanente, tem que ter um componente transitório”, disse.

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