Frustração com cessão onerosa fez dólar subir, diz Campos Neto

O dólar comercial encerrou a terça vendido a R$ 4,206, com alta de R$ 0,013. Esse foi o maior valor nominal, sem considerar a inflação, desde a criação do real, em 1994

  • Por Jovem Pan
  • 19/11/2019 15h56
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Marcelo Camargo/Agência Brasil O presidente do BC, Roberto de Oliveira Campos Neto Presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, diz que variação de preços está mais forte e disseminada que o planejado

A frustração com a entrada de dólares por meio do leilão da cessão onerosa levou à recente alta do dólar, segundo o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto. Ele participou nesta terça-feira (19) de uma audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado.

O leilão da cessão onerosa (excedente do volume de petróleo e gás que a União cedeu à Petrobras) teve uma arrecadação de R$ 69,960 bilhões em bônus de assinatura. A previsão de arrecadação era de até R$ 106,5 bilhões.

“Teve um movimento mais recente que foi a cessão onerosa. Alguns agentes esperavam uma entrada de recursos maior”, disse Campos Neto, acrescentando que muitos agentes de mercado se “posicionaram para capturar o dólar caindo com essa entrada”.

Como isso não ocorreu, houve aumento do dólar. “Mais recententemente, de fato, teve uma frustração com cessão onerosa por agentes que tinham se posicionado para esse movimento. Como não ocorreu, houve uma saída de dólares. Mas nós estamos monitorando isso de perto”, afirmou.

Campos Neto disse ainda que a alta do dólar é global, além de produzir efeito no país dos exportadores e importadores que “seguram o câmbio” ao deixar recursos no exterior.

Outro fator, disse Campos Neto, foi a decisão de empresas de antecipar pagamento de dívida no exterior para substituir por recursos no Brasil. Esse movimento foi impulsionado pela Petrobras que deve continuar a fazer “pré-pagamentos”, afirmou o presidente do BC. “Esse movimento foi bastante puxado pela Petrobras que fez um volume grande e que, aparentemente, pelas declarações vai continuar fazendo”, disse.

Segundo Campos Neto, as empresas preferem ter dívida local em vez de dívidas no exterior porque a exposição a moeda estrangeira cria risco adicional. Com movimentos de saída de dólares do país maiores que as entradas, a moeda estrangeira fica mais cara.

Campos Neto acrescentou que a alta ocorreu em momento de “melhora de percepção de risco” no mercado e a desvalorização do real não influenciou a expectativa de inflação. “Geralmente quando a moeda desvalorizava vinha acompanhada de um aumento de percepção de Risco Brasil, a bolsa caia, o CDS [ Credit Default Swap – instrumento financeiro em que varia de acordo com o risco de crédito] piorava e não foi o aconteceu esse ano. A gente teve uma moeda que desvalorizou, mas com percepção de melhora, que se transforma em curva de juros mais baixa, bolsa mais alta. Veio acompanhada de melhora de percepção de risco. E isso não influenciou a expectativa de inflação”, disse.

Campos Neto afirmou que o Banco Central está preparado para mudar sua atuação caso a alta do dólar afete a inflação.

Atualmente, o dólar comercial já atingiu R$ 4,21. Nesta segunda (18), em um dia de oscilações no mercado financeiro, a moeda norte-americana teve uma pequena alta e fechou no maior valor da história. O dólar comercial encerrou a terça vendido a R$ 4,206, com alta de R$ 0,013 (0,3%). Esse foi o maior valor nominal, sem considerar a inflação, desde a criação do real, em julho de 1994.

Nesta terça, o BC cancelou leilões de swap cambial reverso (compra de dólares no mercado futuro) e de dólar à vista. Também foi cancelada oferta simultânea de dólar à vista e de contratos de swaps que seria realizada amanhã (20), devido ao feriado da Consciência Negra, em São Paulo. “Os volumes que seriam ofertados nesses dias serão distribuídos nos demais dias úteis do mês”, disse o BC, em comunicado.

*Com informações da Agência Brasil

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